Circula nas redes sociais um vídeo em que se alega que não se deve beber Coca Cola com limão, porque esta mistura, supostamente, produz benzeno.

Segundo a autora das imagens, “no rótulo da Coca Cola está escrito que ele tem um conservante chamado benzoato de cálcio”, que “é um conservante usado na indústria alimentícia para aumentar o tempo de vida útil desses produtos na prateleira do supermercado”.

Só que, segundo a criadora de conteúdo, o “benzoato de cálcio jamais pode entrar em contacto com a vitamina C e é isso que acontece quando se coloca o limão dentro da Coca Cola”. Isto porque, acrescenta, supostamente, “esse benzoato juntamente com a vitamina C vai fazer uma alteração química e vai-se transformar noutra substância chamada benzeno”.

No vídeo refere-se ainda que o benzeno “é altamente tóxico” e “altamente cancerígeno”. Mas é verdade que juntar rodelas de limão num copo de Coca Cola produz benzeno? 

Existe evidência científica de que misturar Coca Cola com limão produz benzeno?

Em declarações ao Viral, Rui Morais, professor de Toxicologia na Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Universidade Católica do Porto (UCP), adianta que juntar rodelas de limão num copo com Coca cola não produz benzeno.

Antes de mais, importa ter em conta que há duas principais imprecisões partilhadas no vídeo em análise. 

Em primeiro lugar, a autora do vídeo alega que o “benzoato de cálcio jamais pode entrar em contacto com a vitamina C e é isso que acontece quando coloca o limão dentro da Coca Cola”. No entanto, o estudo em que a criadora de conteúdo se baseia para fazer esta alegação refere a reação do “benzoato de sódio” com a vitamina C, e não “benzoato de cálcio”.

Além disso, como explica Rui Morais, “o que está descrito na literatura científica é que a exposição ao calor (>50 ºC) e à luz pode estimular a formação de benzeno (em valores muito baixos) em algumas bebidas que contêm sais de benzoato e ácido ascórbico (vitamina C)”. Portanto, mesmo que a bebida contenha sais de benzoato, juntar limão, por si só, não provoca a produção de benzeno.

Segundo um texto publicado no site da agência governamental norte-americana “Food and Drugs Administration” (FDA), “o benzoato de sódio e de potássio [sais de benzoato] podem ser adicionados às bebidas para inibir o crescimento de bactérias, leveduras e bolores”. Mas nunca se refere o benzoato de cálcio.

Por outro lado, salienta Rui Morais, “a composição da Coca Cola não indica nenhum aditivo do tipo dos sais de ácido benzóico”, seja benzoato de cálcio, de sódio ou de potássio.

“A Coca Cola já contém um agente acidulante, o ácido fosfórico, que faz com que o pH da bebida esteja próximo de 2,5”. Por isso, “não é previsível que a adição de uma rodela de limão provoque alterações químicas significativas na Coca Cola, para além das alterações sensoriais”, esclarece.

Assim, os cuidados que se deve ter com a ingestão de Coca Cola com limão “são os mesmos que com qualquer outro refrigerante que contêm açúcar em grande quantidade”. Isto é, “consumir com moderação e dar preferência a outras bebidas mais saudáveis, incluindo a água”.

O que é o benzeno? 

Rui Morais começa por explicar que “o benzeno é um hidrocarboneto aromático cancerígeno, utilizado pela indústria química na síntese de muitos compostos químicos”.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América (CDC) especificam, num texto informativo, que “algumas indústrias utilizam o benzeno para fabricar outros produtos químicos, utilizados no fabrico de plásticos, resinas, nylon e fibras sintéticas.

Além disso, o benzeno também pode ser utilizado “para fabricar alguns tipos de lubrificantes, borrachas, corantes, detergentes, medicamentos e pesticidas” e, segundo o professor da UCP, “encontra-se presente no fumo do cigarro, em combustíveis e derivados do petróleo”. 

Sendo um “poluente ambiental”, o benzeno “é tóxico e não tem nenhum propósito útil”, frisa Rui Morais. Por isso, os refrigerantes, como a Coca Cola, “não devem conter benzeno”, salienta. 

“Se contêm isso deve-se a condições de armazenamento inadequadas ou que resultam de contaminação ambiental”, acrescenta o especialista

O benzeno é prejudicial à saúde humana?

Tal como se explica no texto do CDC, “a gravidade do envenenamento causado pelo benzeno depende da quantidade, da via e do tempo de exposição, bem como da idade e da condição médica preexistente da pessoa exposta”.

Sabe-se, por exemplo, que uma pessoa que comeu alimentos ou ingeriu bebidas com níveis elevados de benzeno pode experienciar sintomas como “vómitos”, “irritação do estômago”, “tonturas”, “sonolência”, “convulsões”, “batimento cardíaco rápido ou irregular” e “morte (em níveis muito elevados)”.

Para mais, “a exposição direta dos olhos, da pele ou dos pulmões ao benzeno pode causar lesões e irritação dos tecidos”.

O que significa para a saúde uma exposição contínua de benzeno? “O principal efeito do benzeno decorrente da exposição prolongada é no sangue”, salienta-se no mesmo texto.

“O benzeno causa efeitos nocivos na medula óssea e pode provocar uma diminuição dos glóbulos vermelhos, levando à anemia”, acrescenta-se. 

Além disso, “pode também provocar hemorragias excessivas e afetar o sistema imunitário, aumentando a probabilidade de infeção”.

Segundo o CDC, “algumas mulheres que respiraram níveis elevados de benzeno durante muitos meses tiveram períodos menstruais irregulares e uma diminuição do tamanho dos ovários”. 

Se a exposição for prolongada e a níveis elevados de benzeno, pode até causar leucemia.