O chá de banana tem ganhado fama nas redes sociais pelos seus alegados benefícios para a saúde e para o emagrecimento. Numa extensa lista de supostos efeitos positivos do chá de banana partilhada no Facebook diz-se, por exemplo, que esta infusão “elimina a anemia”. Mas terá esta alegação fundamento científico?

É verdade que o chá de banana trata a anemia?

Em declarações ao Viral, o especialista em Medicina Geral e Familiar João Ramos adianta não existir evidência científica que comprove que beber chá de banana trata ou corrige a anemia.

O médico explica que a anemia pode ter várias causas, sendo a mais comum o défice de ferro. “São as chamadas anemias ferropénicas”, aponta.

Assim sendo, avança o especialista, o tratamento deste tipo de anemia faz-se, numa primeira fase, com suplementação de ferro e com algumas mudanças na alimentação, nomeadamente através do aumento do consumo de alimentos ricos em ferro.

Segundo o especialista, alguns alimentos ricos em ferro são, por exemplo, as proteínas de origem animal, como “a carne, o peixe e o marisco”, e as “leguminosas”, como “o feijão, o grão de bico e as lentilhas”.

Nesse sentido, João Ramos esclarece que, apesar de a banana ser um bom alimento e ter algum ferro na sua composição, “não é especialmente rica em ferro”. Logo, o chá feito a partir deste fruto não terá um efeito significativo no tratamento de uma anemia ferropénica.

Além disso, tirando situações excecionais em que o défice de ferro é muito ligeiro, a falta deste nutriente é, na maioria dos casos, corrigida com suplementação e não apenas com alterações na alimentação. Isto é, as medidas nutricionais são, quase sempre, complementares à toma de “um bom suplemento de ferro”.

Aliás, o médico lembra que, em casos mais graves, a suplementação pode ser insuficiente para tratar a anemia, sendo necessário adotar “estratégias mais agressivas”, como a administração de “ferro endovenoso” (a aplicação de ferro diretamente na veia) ou a transfusão de “unidades de sangue”.

Segundo a norma da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a abordagem, diagnóstico e tratamento da ferropénia no adulto, “deve prescrever-se ferro endovenoso quando há intolerabilidade ou ineficácia do ferro oral, anemia grave com compromisso de Atividades da Vida Diária (AVD), ou necessidade de recuperação hematológica rápida”.

A mesma norma determina que “a prescrição de transfusão fica reservada a: utentes sintomáticos; necessidade de aumento rápido da hemoglobina (Hb); ou utentes com instabilidade cardiovascular (Nível de Evidência C)”.

O papel da vitamina C na absorção de ferro

João Ramos lembra ainda que a vitamina C ocupa também um lugar de destaque no tratamento da anemia, tendo o papel de “tentar fixar ou segurar o ferro que nós ingerimos”.

No mesmo sentido, num manual da DGS sobre alimentação vegetariana saudável, assinala-se que “a vitamina C é o fator facilitador da absorção de ferro mais importante, já que promove a conversão do ferro férrico em ferro ferroso, sendo esta a forma melhor absorvida”.

É por isso que, segundo João Ramos, é comum os médicos recomendarem suplementação de vitamina C ou um aumento do consumo de alimentos ricos neste micronutriente às pessoas com défice de ferro. Aliás, o especialista refere que, por esse motivo, há vários suplementos de ferro no mercado que já contêm vitamina C.

Reiterando que “não se trata a anemia com banana ou com chá de banana”, o médico acrescenta que “o único ponto de contacto em que a ciência poderia explicar esta fake news é que a banana também tem alguma vitamina C, que é importante para a absorção do ferro”.

Ainda assim, salienta o autor do livro “Um Médico Para Toda a Família”, há alimentos mais ricos em vitamina C do que a banana e combiná-los com alimentos ricos em ferro seria mais vantajoso do que adotar a mezinha partilhada nas redes sociais: “Seria melhor comer umas boas iscas e beber um sumo de laranja do que beber um chá de banana”, ironiza.

Referindo-se à publicação de Facebook em que se diz que o chá de banana “elimina a anemia”, o especialista deixa um apontamento sobre o facto de o uso do verbo “eliminar” ser pouco preciso neste contexto: “Não se elimina a anemia, nós tentamos corrigir ou tratar. Não é eliminar.”

Por fim, João Ramos lembra que a investigação das causas e o tratamento da anemia devem ser orientados por um profissional de saúde e não por conselhos divulgados online.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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