Suplementos de colagénio atrasam o envelhecimento da pele? E têm riscos?
Nas redes sociais é possível encontrar várias publicações sobre produtos com colagénio que prometem atrasar o envelhecimento da pele. Confirma-se que os suplementos de colagénio atrasam o envelhecimento da pele? E a toma destes suplementos tem riscos?
Travar o envelhecimento é o sonho de muitos, e é também um dos motes utilizados pela indústria de cosméticos e de suplementação para a venda de produtos. O colagénio é, por isso, o protagonista de anúncios e de publicações nas redes sociais que prometem reduzir as rugas ou mitigar os sinais do tempo. Mas estas alegações sobre os suplementos de colagénio são verdadeiras?
Os suplementos de colagénio atrasam o envelhecimento da pele?
A evidência científica sobre o impacto dos suplementos de colagénio para “travar” o envelhecimento da pele é pouco robusta, explica ao Viral Alexandre Catarino, dermatologista no Centro de Dermatologia de Lisboa. “Há estudos que mostram que a toma de suplementos é eficaz, mas são investigações relativamente pequenas”, realizadas em “grupos pequenos e com variações na quantidade de colagénio utilizada”. Por essa razão, “não existe robustez científica para dizer que [a suplementação de colagénio] tem efeitos benéficos”, prossegue.
No entanto, acrescenta o dermatologista, “havendo estudos que mostram benefícios e não havendo evidência de efeitos nocivos, a suplementação poderá ser feita. “
Uma revisão sistemática, publicada em 2022, concluiu que a ingestão de suplementos de colagénio via oral “melhora a humidade da pele, a elasticidade e a hidratação”. É ainda referido que “o colagénio reduz o enrugamento e a aspereza da pele”. Outro artigo de revisão sistemática, publicado em 2019, apresenta conclusões semelhantes: “Suplementos orais de colagénio também aumentam a elasticidade da pele, hidratação e densidade de colagénio dérmico.”
“O colagénio é uma proteína muito importante para a pele porque dá suporte e elasticidade e ajuda a reter a água, o que proporciona um aspeto mais jovem”, esclarece o dermatologista. É produzida de forma natural pelo organismo. No entanto,, “com o envelhecimento das células, começa a haver uma menor produção de proteínas, inclusive de colagénio”.
Além da genética, outros fatores extrínsecos podem também influenciar a atividade celular. A exposição a ambientes poluídos ou o ato de fumar podem provocar stress oxidativo nas células ou inflamação por exposição, o que leva a uma diminuição da produção de proteínas como o colagénio.
Não é possível parar o envelhecimento da pele, mas há práticas que podem ajudar a adiar as rugas ou manchas na pele. Evitar uma exposição prolongada ao sol, ter uma alimentação equilibrada, evitar ambientes poluídos e não fumar são alguns dos hábitos recomendados pelo dermatologista. “Além disso, ter uma cosmética adequada ao tipo de pele, uma boa hidratação e utilizar protetor solar” são também boas práticas para manter a pele saudável.
Suplementos de colagénio têm riscos para a saúde?
A venda de suplementos não está sujeita a receita médica e estes podem ser adquiridos em vários tipos de loja, incluindo farmácias. Contudo, antes de decidir iniciar a toma de um suplemento, deve ter alguns aspetos em consideração – tais como os componentes e a dosagem.
O Infarmed considera os suplementos alimentares como “géneros alimentícios” que “constituem fontes concentradas de nutrientes ou outras substâncias com efeito nutricional ou fisiológico, estremes ou combinadas”. Sublinha, porém, que os suplementos “destinam-se a complementar e/ou suplementar o regime alimentar normal, não devendo ser utilizados como substitutos de uma dieta variada”.
No caso dos suplementos de colagénio, os estudos realizados não encontraram efeitos secundários associados à ingestão via oral. Mesmo assim, a nutricionista Sandra Silva alerta que a ingestão de suplementos pode fazer com que se tome “algum nutriente em excesso” ou até desencadear “intolerâncias e alergias”.
“Eu não recomendaria a toma de suplementação sem acompanhamento médico ou nutricional porque pode trazer riscos”, adianta a nutricionista ao Viral.
José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e no Instituto Egas Moniz, deixa outro alerta: à semelhança dos medicamentos, na utilização de suplementos também “há risco de efeitos cumulativos e de interação entre eles”, mesmo tratando-se de “suplementos naturais”.
O nutricionista avisa ainda que a ingestão de proteína em excesso – neste caso, colagénio – pode levar a “potenciais efeitos adversos”, como uma sobrecarga no funcionamento dos rins.
Nos suplementos de colagénio, o agente principal é a proteína (seja extrato ou de origem animal) que, depois de desintegrada na digestão, vai ser utilizada pelas células do organismo para sintetizar o colagénio. Esta proteína pode também ser encontrada em alimentos, tais como a carne, o peixe ou a gelatina. Além da proteína, a síntese do colagénio requer também outros aminoácidos, explica José Camolas.
“A própria síntese do colagénio não se faz só com base na proteína, pode estar também dependente de outros nutrientes que podem auxiliar no processo. Um exemplo é a vitamina C, que importante na síntese das proteínas estruturais”, esclarece, lembrando que esta vitamina está muito presente nos citrinos. “Nada na natureza se faz de forma solitária”, conclui.
Por fim, José Camolas sublinha a importância de um “equilíbrio geral”, ou seja, “ter a noção de que a suplementação, por si só, pode não ser suficiente se houver um conjunto de maus hábitos”.
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