Bebe vodka com Red Bull? Os riscos de juntar álcool e bebidas energéticas
O sabor do álcool não é agradável para todos. Além disso, as bebidas alcoólicas provocam, a certo ponto, sonolência e lentidão. Por isso, numa saída noturna com amigos, depois de uma longa semana de trabalho, os cocktails que incluem bebidas energéticas – como a clássica vodka com Red Bull – surgem como “solução” temporária para o cansaço e são agradáveis ao paladar.
Mas será esta uma boa escolha? Existem riscos para a saúde quando se junta álcool e bebidas energéticas?
Quais os riscos do consumo de cocktails com álcool e bebidas energéticas?
Em declarações ao Viral, João Marques, psiquiatra e presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia, começa por explicar que associar álcool e bebidas energéticas é “totalmente não recomendável”, por ser perigoso e acarretar “um risco significativo para a saúde”.
Aliás, acrescenta o médico, “o uso das duas substâncias em simultâneo é muito mais prejudicial do que o seu uso individual, em alturas separadas”. De que forma o consumo de álcool com bebidas energéticas prejudica a saúde?
1 – O sabor agradável pode levar a um maior consumo de ambas as bebidas
Segundo João Marques, “as pessoas que bebem estes cocktails têm uma propensão para beberem mais, em maior quantidade, e para se intoxicarem com mais facilidade”.
Na perspetiva do psiquiatra, isto deve-se, também, ao sabor da mistura. “O paladar facilita a ingestão da bebida alcoólica”, por ser “mais doce”, “mais agradável” e “mais fácil de beber”, esclarece.
Aliás, é comum, no próprio rótulo de algumas bebidas energéticas, escrever-se que “a recomendação é para não misturar com bebidas alcoólicas”, refere o presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia.
Não deixando de ser curioso o facto de “em qualquer bar ou estabelecimento noturno, haver sempre cocktails em que há mistura de álcool com bebidas energéticas”, podendo haver neste contexto “uma propensão para tornar as pessoas mais capazes de beber”, mesmo que “este não seja o objetivo dos estabelecimentos”.
2 – Atrasa a perceção de intoxicação alcoólica
Noutro plano, João Marques aponta que a ingestão de álcool “numa quantidade inicial e pequena” “desinibe” e provoca “um estado de euforia”, fazendo com que se tenha “propensão para beber mais, estar mais sociável e para partilhar mais o momento”.
Se a pessoa continuar a beber, “a certa altura, começa a ter uma sensação de maior lentificação, maior calma e maior modificação do meu estado de consciência”. Nesse momento, sente-se que se está “a chegar a um ponto de intoxicação alcoólica”, acrescenta.
Contudo, se forem associadas bebidas energéticas ao álcool, por estas terem, entre outras substâncias, “cafeína e taurina, esta capacidade de perceber quando é que estamos a ficar alcoolizados fica atenuada”, alerta o psiquiatra.
Por um lado, “a cafeína é um psicoestimulante”. Logo, “ativa o funcionamento cerebral e diminui a propensão para sentir o efeito do álcool e de intoxicação”, aponta.
Já “a taurina aumenta a ativação física”, ou seja, a pessoa sente-se “mais energética, mais predisposta e mais ativa – fisicamente e mentalmente”.
Assim, as pessoas que ingerem estas misturas tendem a “beber mais” e, ao mesmo tempo, a ter menor perceção “do nível de alcoolemia”.
Nesse sentido, “os riscos associados vão ser maiores, em termos de acidentes – de viação ou de quedas – e de intoxicação mais relevante”, salienta João Marques.
3 – Aumenta o risco cardiovascular
Por último, “o risco cardiovascular não pode ser negligenciável, porque a associação dos dois” – álcool e bebidas energéticas – “aumenta bastante o risco de patologia cardiovascular”, frisa.
A ingestão excessiva de bebidas energéticas está associada ao “aumento da tensão arterial, da frequência cardíaca, e do trabalho do coração”.
E, ao juntar-se álcool, vai intensificar-se “este trabalho do coração” e, em simultâneo, há uma maior predisposição para se “beber bebidas energéticas numa maior quantidade”, aponta o médico.
Existe uma quantidade segura de consumo de bebidas energéticas? E de álcool?
As bebidas energéticas, segundo João Marques, “não estão muito estudadas em termos de quantidade limite, até porque, entre as várias bebidas, existem concentrações diferentes de substâncias”, como a taurina e a cafeína.
O recomendável “é beber a quantidade mínima daquele tipo de bebida”, que se traduz, por exemplo, numa lata. A partir daí, “começa a haver, muito provavelmente, maior risco de efeito adverso daquelas substâncias”, avisa.
Isto porque, ao contrário do que se pensa com frequência, “as bebidas energéticas não são inocentes de risco” (ver aqui e aqui).
De facto, elas “fazem-nos sentir melhor em termos funcionais – física e psicologicamente – à custa de uma concentração elevada de um conjunto de substâncias que usamos normalmente, como a cafeína”, admite.
No entanto, “existem algumas bebidas energéticas que equivalem a dois ou três cafés concentrados” numa lata. Por norma, quando se bebe essa quantidade de café, é durante um dia inteiro, e não de uma só vez.
“Se forem tomadas três ou quatro unidades daquela bebida”, acaba por se “beber uma grande quantidade de cafeína”, ficando a pessoa mais propensa às consequências associadas ao consumo desta substância, nomeadamente “agitação, sudorese, taquicardia, aumento da pressão arterial, tremor, ansiedade, irritabilidade e insónia”.
Por outro lado, aponta João Marques, sabe-se, atualmente, que qualquer quantidade de álcool é prejudicial para a saúde (ver aqui e aqui).
“Durante muito tempo achou-se que havia benefício na saúde, sobretudo cardiovascular, com algum consumo de algumas bebidas alcoólicas, nomeadamente o vinho tinto”, refere.
No entanto, a evidência mais recente tem sugerido o contrário. Por isso, na perspetiva do médico, recomenda-se a procura de “um equilíbrio”, sendo que “quem tem o hábito de beber deve beber o mínimo possível”, conclui.