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Sal reduz sabor amargo do café? Quais os riscos desta moda do TikTok?

22 Mai 2023 - 04:12

Sal reduz sabor amargo do café? Quais os riscos desta moda do TikTok?

Há uma nova moda divulgada nas redes sociais e em blogues: acrescentar sal ao café para, supostamente, reduzir o sabor amargo característico desta bebida.

Esta técnica está a ser partilhada em vários vídeos do TikTok e dirige-se, sobretudo, àqueles que não gostam de café, mas querem tirar proveito dos efeitos da cafeína. Mas esta “solução” pode tornar-se um problema? Até que ponto é saudável adicionar sal ao café?

Qual o motivo desta tendência?

Grande parte das alegações publicadas na internet baseiam-se num estudo científico publicado em 1995. Em declarações ao Viral, a nutricionista Inês Mazagão explica que este trabalho verificou que a “adição de NaCl – ou seja, de sal – diminui o amargo do café”. O artigo aponta para uma eficácia desta técnica “na ordem dos 48%”, acrescenta.

Inês Mazagão lembra que o sal “é um intensificador de sabor”, sendo, inclusive, utilizado “em algumas receitas doces, porque intensifica, de alguma forma, o sabor doce ou até outros paladares”.

Quais os riscos associados à toma de café com sal?

Tendo em conta que o café é, efetivamente, “um produto muito consumido em Portugal e com muita cultura no nosso país”, na perspetiva de Inês Mazagão, “não fará sentido estarmos a adicionar sal ao café, só para sentirmos menos o amargo”.

Segundo a nutricionista, esta prática “não tem cabimento”, porque significa um aumento desnecessário do consumo diário de sal.

Até porque “a ingestão de sal superior ao recomendado aumenta muito o risco de desenvolvimento de doenças crónicas, como a hipertensão arterial, doença cardiovascular e doença cerebrovascular”, avisa a nutricionista.

“As quantidades adicionadas no estudo são cerca de 0,5 gramas por 1 litro de café”. Ainda que pareçam, à partida, quantidades muito pequenas, “é um princípio que, a meu ver, não me parece correto de base”, aponta.

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Inês Mazagão esclarece que, “mesmo na cozinha tradicional, tenta-se ao máximo fazer com que as pessoas recorram mais a ervas aromáticas, especiarias, e não ao sal”.

Portanto, o objetivo é mesmo “batalhar pela diminuição do consumo de sal, com a implementação de hábitos de vida e hábitos culinários saudáveis”, aponta.

Mas porquê este cuidado extra? “Quando olhamos para o consumo de sal em Portugal, verificamos que somos um dos países da União Europeia que tem dos maiores consumos”, alerta.

“Estamos a falar de mais do dobro do que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde”, continua. 

Em Portugal, cada pessoa consome “à volta de 10.7 gramas de sal por dia, quando não deveríamos ultrapassar os 5 gramas, o que corresponde a uma colher de chá por dia”.

Este consumo corresponde não só ao sal adicionado à comida durante a confeção das refeições caseiras, mas também ao sal presente noutros produtos “muito consumidos pelos portugueses”, tais como o pão, as tostas e os produtos de charcutaria.

Sal ou açúcar: alguma destas opções faz menos mal?

Quando questionada se é melhor adicionar sal ou açúcar ao café, a nutricionista defende que, neste caso, tanto um como o outro devem ser dispensados sempre que possível.

“Há medidas de saúde pública que estão a tentar combater o consumo excessivo de sal, bem como de açúcar, através da aplicação de impostos, apelando e forçando a indústria alimentar a reformular os seus produtos”, acrescenta.

Por isso, “como nutricionista, não faz sentido incentivar o consumo de sal, com o fim único de melhor tolerar o sabor amargo do café”, reforça Inês Mazagão.

De facto, “o café é uma das bebidas mais consumidas em Portugal, não só pela nossa cultura do café, mas também porque esta bebida tem o potencial de aumentar a nossa concentração, a nossa capacidade de trabalho e o nosso foco”, contextualiza.

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“E há pessoas que não gostam de café e tomam-no”, mesmo para “melhorar a sua performance cognitiva ou salvá-las de uma noite mal dormida“, argumenta. No segundo caso, a nutricionista lembra que a energia e a sensação de vitalidade devem vir de uma boa noite de sono, e não da cafeína.

No entanto, segundo a nutricionista, existem outras formas de tornar o café mais apelativo para estas pessoas, se houver mesmo essa necessidade de toma de cafeína. Inês Mazagão sugere “mudar a marca do café ou a forma como se toma a bebida”. Até se pode “misturar o café com um pingo de leite, bebida vegetal, adicionar canela”, exemplifica.

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No caso do açúcar, “se a pessoa já toma café com açúcar” – que é bastante habitual – “eu diria que o princípio é trabalhar numa reeducação alimentar, aos poucos, e reduzir a quantidade de açúcar que se coloca no café”.

No entanto, para Inês Mazagão, a solução saudável nunca deverá passar por “incutir a nova moda de pôr sal no café”, conclui.

Categorias:

Alimentação

Etiquetas:

Café | Nutrição | Sal

22 Mai 2023 - 04:12

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