Colocar um pedaço de melancia dentro de uma taça com vinho faz com que a fruta endureça. Esta experiência leva muitas pessoas a acreditarem que juntar estes dois alimentos numa refeição faz com que o estômago “encortice”. Mas o que diz a ciência sobre esta crença popular? Comer melancia e beber vinho tem um impacto negativo na saúde?

É verdade que comer melancia e beber vinho na mesma refeição faz mal?

Em declarações ao Viral, Rosa Vilares, nutricionista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), começa por explicar que a ideia de que comer melancia e beber vinho faz mal é um mito que “já vem da antiguidade, tal como o mito de que laranja à noite mata”.

O que acontece quando se combina vinho e melancia?

Rosa Vilares reconhece que se fizermos a experiência de juntar vinho com melancia num copo “vemos que ela realmente endurece”, devido a uma reação química provocada pelo álcool presente no vinho.

No entanto, clarifica a nutricionista, esta reação química verifica-se apenas fora do organismo humano, sendo que “a nível gástrico, portanto, no nosso estômago, tudo isso acontece de um modo completamente diferente”, assegura.

Em primeiro lugar, ainda na boca, os alimentos sofrem uma grande transformação, devido “ao grande poder antimicrobiano” da saliva. A grande responsável, explica Vilares, é a amilase, uma enzima produzida pelo pâncreas e pelas glândulas salivares, que ajuda na digestão.

Ainda assim, quando a combinação do álcool do vinho e da água da melancia chega ao estômago provoca uma alteração do pH.  

“Essa reação química no estômago pode ser diferente de pessoa para pessoa”, dependendo da quantidade de melancia e vinho que se ingere e da sensibilidade individual. Logo, salienta a nutricionista, é importante seguir sempre o princípio básico de comer e beber de forma muito moderada. 

Quando é que comer melancia e beber vinho pode ser prejudicial?

A professora da FMUP esclarece que “esta não é das melhores misturas que existem”, se for tido em conta que “há combinações que se potenciam e fazem muito bem à saúde”.

A mistura do tomate e do azeite, por exemplo, pode ser benéfica. “Numa salada” esses dois alimentos potenciam “o licopeno, uma substância que faz muito bem à nossa saúde”.

Assim sendo, que cuidados se deve ter ao consumir melancia e vinho? Por um lado, “as pessoas podem ter intolerância, quer a um, quer a outro”. Nesse caso, esta mistura deve ser evitada. 

Depois, levanta-se a questão da quantidade. Rosa Vilares faz referência ao físico e alquimista Paracelso ao dizer que “entre o veneno e o medicamento está uma coisa que se chama dose”. Quer isto dizer que, se a pessoa consumir “um pouco de cada um” e não fizer intolerância a nenhum dos dois, não há problema. 

Por outro lado, se houver intolerância, ou simplesmente um exagero na dose, a combinação da melancia e do vinho “pode provocar uma reação anormal”, alerta.

Na visão da especialista, o componente nefasto nesta mistura é o álcool do vinho. “Se não fosse o álcool, estaríamos a falar de dois frutos, a uva e a melancia”, defende. 

Isto não quer dizer que o vinho seja mau para a saúde, se for consumido com moderação. “Convém saber que o vinho, eventualmente, pode fazer bem às doenças cardiovasculares”, salvaguarda.

Já a melancia, por ser constituída essencialmente por “água, açúcares e antioxidantes”, é “um alimento de excelência e tem propriedades que são muito interessantes do ponto de vista de saúde”, garante a nutricionista.

Em suma, não há evidência científica de que comer melancia e beber vinho, de forma moderada, na mesma refeição, faça mal à saúde. O componente prejudicial nesta mistura poderá ser o álcool, que deve ser consumido com moderação.