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“Menos 10 kg em 28 dias.” Dieta do metabolismo rápido funciona? Tem riscos?

1 Abr 2023 - 08:00

“Menos 10 kg em 28 dias.” Dieta do metabolismo rápido funciona? Tem riscos?

Popular nas redes sociais e em blogues sobre emagrecimento, a dieta do metabolismo rápido foi criada em 2013, nos Estados Unidos da América, pela nutricionista Haylie Pomroy. Trata-se de uma dieta restritiva, com três frases, que, segundo a sua criadora, deve ser seguida durante 28 dias, permitindo, supostamente, uma perda de peso de até 10 kg durante esse período.

O que se defende nesta dieta é que comer certos alimentos em determinados dias e alturas do dia acelera o metabolismo, resultando numa perda de peso. Também se recomenda a prática de exercício físico duas a três vezes por semana.

Além disso, há uma lista de alimentos proibidos, tais como o açúcar, a soja, os refrigerantes, a cafeína, o álcool, os alimentos com glúten ou lactose. Mas será a dieta do metabolismo rápido segura e eficaz? Quais os potenciais riscos? Em declarações ao Viral, a nutricionista e Coordenadora da Licenciatura em Ciências da Nutrição do CESPU, Inês Pádua, esclarece estas e outras dúvidas sobre esta dieta restritiva. 

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Esta dieta promove a aceleração do metabolismo?

De facto, “a  ‘velocidade’ do nosso metabolismo pode depender do nosso estilo de vida, nomeadamente da nossa alimentação e da prática de exercício físico (enquanto fatores que influenciam a nossa composição corporal)”, começa por contextualizar Inês Pádua. 

Assim, aponta a especialista, “um nível de atividade física e uma alimentação que sejam conducentes a esta composição corporal (associados ao gasto energético)” vão ter sempre “impacto no aumento do metabolismo“.

No que diz respeito a esta dieta cujos pressupostos surgiram em 2013 nos Estados Unidos não há provas que seja realmente eficaz na aceleração do metabolismo. 

De forma geral, esta dieta implica “fazer cinco refeições ao dia“; “praticar atividade física”, “ingerir água adequadamente”, que haja “alimentos proibidos como o açúcar, carnes processadas, sumos, álcool”, “uma restrição de hidratos de carbono, mas ainda assim a sua inclusão através de hortofrutícolas e cereais integrais” e “uma maior flexibilidade ao fim de semana”, refere a especialista.

Segundo Inês Pádua estas caraterísticas poderão, efetivamente, permitir a perda de peso. Contudo, é certo que “um plano alimentar conducente a uma alimentação saudável sem qualquer nome pomposo” também proporciona isso.

Além disso, a nutricionista levanta duas questões relacionadas com os pressupostos da dieta do metabolismo rápido. A primeira é que “não é em cinco dias com mudanças de dois em dois dias em termos alimentares que ocorre modificação ou modelação do metabolismo“. Aqui, “o provável emagrecimento será mérito da restrição calórica e não de alterações metabólicas”, salienta a nutricionista.

Depois, “importa ainda referir que se fornecermos ao nosso corpo menos energia (ou calorias) do que ele precisa para as suas funções vitais, a resposta do organismo será diminuir automaticamente o nosso gasto energético – no sentido de poupança”. 

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É também por essa razão que as “dietas restritivas nem sempre são boas ideias se quisermos aumentar o metabolismo”, sublinha.

Esta dieta permite perder 10kg em 28 dias?

“O primeiro problema é precisamente a garantia de 10 kg num mês”, alerta Inês Pádua. Na visão da especialista, isto “não faz nenhum sentido”, porque as “diversas características individuais e de estilo de vida podem condicionar a magnitude da perda de peso“. 

Por outro lado, surge a implicação de uma “perda de peso tão grande em pouco tempo“. Como esclarece a especialista, esta meta não permitirá “a criação – e, mais importante, a incorporação – de hábitos alimentares e de estilo de vida saudável na rotina”. 

Isto significa que a dieta do metabolismo rápido “será mais vista como um ‘tratamento’ ou algo transitório para uma perda de peso aguda, do que propriamente como uma mudança efetiva que deveria ser feita”, defende. 

Sendo uma dieta restritiva com a validade de um mês, existe a probabilidade de reganho de peso quando se volta às rotinas alimentares anteriores.

“É possível que a pessoa, como não incorporou determinados hábitos na sua rotina naqueles 28 dias, volte a hábitos anteriores e volte a ganhar peso”, sustenta.

O problema dos alimentos proibidos

Num primeiro plano, aponta Inês Pádua, “o facto de a conformação dos dias alimentares restringir totalmente determinados macronutrientes em determinados dias da semana – proteína e gordura na fase 1 e hidratos de carbono e gordura na fase 2 – pode não ser sustentável para o indivíduo”.

Noutro plano, a nutricionista destaca também a questão dos alimentos proibidos nesta dieta restritiva. Na perspetiva de Inês Pádua, não é viável retirar-se por completo “alimentos que podem perfeitamente fazer parte de uma alimentação saudável (como os lácteos, a soja e o milho), se a pessoa não manifestar nenhuma sintomatologia associada” ao seu consumo.

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Aliás, acrescenta, “o conceito de proibido poderá ser efetivamente pernicioso“. Isto não quer dizer que “não deve ser feita uma avaliação crítica dos alimentos”, que “alguns devam ser reservados a determinados momentos” e que “o seu consumo seja ponderado”, explica.

No entanto, para Inês Pádua, fazer esta gestão “é diferente de colocar um rótulo de proibido nos alimentos que pode levar a comportamentos de compulsão e de desinibição se, porventura, existir algum momento em que este consumo dos ‘proibidos’ se venha a verificar”.

Qual a importância do aconselhamento especializado na perda de peso?

A nutricionista lembra que “um plano alimentar deve ter em conta diferentes características da pessoa” e neste tipo de “dietas padronizadas que vemos a circular constantemente nas redes sociais” isso não acontece.  

Existem até condições clínicas que não permitem, de todo, que se faça a dieta do metabolismo rápido. A especialista em nutrição dá o exemplo das pessoas com diabetes. Nesta “patologia bastante prevalente”, a “esta dieta não será aceitável ou segura“.

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Portanto, frisa, o “aconselhamento com um nutricionista é essencial para ajustar o plano de perda ou de manutenção de peso às características do indivíduo”. 

“Falamos de características não só ao nível de estado de saúde/doença (incluindo mental), mas também da própria rotina e afazeres, e até a questões socioeconómicas”, acrescenta.

Isto porque, assinala a nutricionista, “a alimentação tem (e deve ter) dimensões que ultrapassam as questões fisiológicas“. Por isso, “todos estes pontos têm de ser avaliados e tidos em conta, se pretendemos algo que seja sustentável no tempo”, conclui.

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Alimentação

1 Abr 2023 - 08:00

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