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Cães e gatos podem doar sangue? Como, quando e porquê?

4 Out 2023 - 10:08

Cães e gatos podem doar sangue? Como, quando e porquê?

A esperança média de vida dos cães e dos gatos tem aumentado. Isto deve-se ao avanço da medicina veterinária que permite tratar de forma mais eficaz os animais de estimação. 

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Nesse sentido, atualmente, tal como acontece com os humanos, os cães e os gatos também podem doar sangue com o objetivo de salvar outros animais. Como funciona a dádiva de sangue destes animais? Qual a sua importância? Todos os cães e gatos podem doar sangue?

Em declarações ao Viral, o veterinário Rui Ferreira, criador e diretor do Banco de Sangue Animal (BSA), esclarece todas as dúvidas sobre a dádiva de sangue dos cães e dos gatos.

Qual a importância da dádiva de sangue dos cães e dos gatos?

cães e gatos doar sangue

Na visão de Rui Ferreira, a importância da dádiva de sangue dos cães e dos gatos “é a mesma que em medicina humana”. O veterinário esclarece que, tal como aconteceu na medicina humana, à medida que a medicina animal se desenvolveu, “as necessidades de transfusões vieram por arrasto”.

O atual diretor do BSA recorda que, quando começou a trabalhar como veterinário num departamento de emergência de cães e gatos, em 2009, “ter de fazer uma transfusão de sangue às duas da manhã significava não ter uma unidade de sangue disponível”.

Nessa altura, o especialista tinha de “contactar um proprietário de um potencial dador para fazer transfusões”. Rui Ferreira começou a perceber que não era viável continuar a “fazer as coisas à pressa, de urgência, sob stress, com um animal a morrer e outro a dar sangue”. 

Por esse motivo, criou o Banco de Sangue Animal, “um sistema de dádivas baseado em regras, compatibilidades sanguíneas e garantia máxima do bem-estar animal, em que qualquer animal pudesse receber um componente de sangue de uma forma controlada”.

Em que situações os animais podem precisar de transfusão de sangue?

Segundo Rui Ferreira, o mais comum é um animal precisar de uma transfusão devido a “qualquer tipo de trauma”, aponta. Por exemplo, “um animal mordido, que cai de um segundo andar, que é atropelado, qualquer ato de agressividade” ou até numa situação de “intoxicação por venenos”.

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Além disso, “as doenças infecciosas” e “as anemias hemolíticas imunomediadas” – “alergias em que há a destruição dos glóbulos vermelhos” – também podem implicar transfusão de sangue.

Por fim, no caso dos “tumores”, “pode haver a necessidade de cirurgias, em que também se perde muito sangue” e, também, “o próprio tumor pode afetar a medula óssea e diminuir a produção de glóbulos vermelhos”. 

Como funciona a dádiva de sangue?

O site do BSA assegura que “todo o procedimento das dádivas é gratuito”, “desde a desparasitação/vacinação até às análises realizadas”. Além disso, é um processo “seguro, controlado e não doloroso”, sendo que “os riscos associados são extremamente baixos e os efeitos adversos são raros”, informa-se.

  • Critérios que tornam um animal elegível para doar sangue

Os critérios que permitem a dádiva de sangue dos cães e dos gatos são muito semelhantes. De acordo com a informação disponível no site do BSA, o animal candidato à dádiva deve: ser “saudável, calmo e simpático”; ter uma idade compreendida entre “1 e 10 anos”; e ser “vacinado e desparasitado”.

Por outro lado, não pode: ter “evidência de doenças infecciosas”; “tomar medicação além dos desparasitantes”; ter “história de doença grave”; “apresentar sopro cardíaco”; e “ter realizado qualquer transfusão”. 

Além disso, os gatos devem ter um “peso superior a 3kg” e os cães devem ter um “peso superior a 20kg”.

  • Inscrição do animal

Depois de perceber se o seu animal cumpre os critérios para a doação de sangue, o portador deve preencher o formulário necessário alojado no site do BSA (ver aqui) e aguardar o contacto por parte da instituição.

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Numa próxima fase, explica Rui Ferreira, a dádiva pode ser feita nas instalações da sede, no Porto, ou “as equipas de dádivas deslocam-se para outros locais”. 

  • Preparação e realização da dádiva de sangue

Antes da dádiva, “os animais devem fazer jejum durante 2 a 3 horas”. No entanto, “a água deve estar sempre à disposição antes e depois da dádiva de sangue” (ver aqui).

Por um lado, “os cães nunca são sedados”. Daí serem elegíveis apenas “os cães suficientemente calmos para estarem na mesa de dádivas durante 5 a 10 minutos sem necessidade de grande contenção”, refere-se no site do BSA.

Já no caso dos gatos, por terem um “temperamento mais especial e impulsivo”, “é necessária a administração de uma dose ligeira de sedação”, apenas “para aumentar o relaxamento e reduzir a reação a estímulos”.

No momento da dádiva, “é sempre assegurado um local tranquilo e sem estímulos”. Os cães são “deitados numa mesa confortável com uma ou duas pessoas a segurar e tranquilizar [o animal] durante todo o processo”.

Quanto aos gatos, estes “são cuidadosamente enrolados numa manta, de forma a mantê-los aconchegados e dando uma sensação de segurança e conforto durante todo o processo”, refere-se.

Depois, “é rapada” e “desinfetada” “uma pequena área por baixo do pescoço”, “permitindo a fácil identificação da veia jugular onde é feita a dádiva de sangue”, por ser uma zona de “menor sensibilidade e acesso bem tolerado”.

Após a dádiva, “é realizada a compressão local durante 5 minutos e, nos cães, é aplicado um colar compressivo com ligadura”, acrescenta-se.

  • Quais os cuidados a ter com o animal depois da dádiva

Na secção de perguntas e respostas do site do BSA informa-se que “os pensos colocados podem ser removidos em 3-4 horas”. Após a dádiva, “é importante garantir um local tranquilo onde o animal possa descansar, evitando atividades excessivas”. 

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Para mais, “deve evitar-se o uso de coleiras e a manipulação da zona de punção na dádiva para evitar hematomas locais”. O acesso “a água fresca” e a refeições “deve ser garantido”. 

No caso de haver “algum sangramento local”, recomenda-se “fazer compressão durante 10 minutos sem preocupações imediatas de limpar a zona”. 

O que acontece ao sangue doado? 

O BSA refere que cada dádiva pode ser preparada em até “3 unidades diferentes e ajudar na transfusão de 3 pacientes”. Essas unidades de sangue “passam por diversos testes” de forma “a garantir que são seguras, compatíveis e eficazes”. 

Após serem etiquetadas e embaladas, “as unidades ficam armazenadas até serem utilizadas em pacientes hospitalizados nas clínicas e hospitais veterinários”.

Rui Ferreira reforça que “as dádivas de sangue são estritamente para ajudar animais”. Por isso, “só veterinários e clínicas aprovadas podem fazer algum pedido de unidades de sangue”.

O BSA, depois de receber um pedido, conduz um “processo de acompanhamento”, em que se determina “o número de volumes e componentes” necessário.

Por último, “o envio das unidades pode ser feito em dois momentos: para um animal que está a morrer e a precisar logo no momento, ou para armazenar em hospitais” (de forma a cobrir imprevistos).

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Como estão as reservas de sangue de cães e gatos?

Segundo o diretor do Banco de Sangue Animal, atualmente, conta-se com “10 mil dadores ativos, em seis países (Portugal, Espanha, Bélgica, Holanda, Reino Unido e República da Irlanda)”.

Contudo, é importante referir que, tal como os humanos, os animais também têm tipos de sangue. Nos gatos, os grupos de sangue são o A, B e AB. Nos cães, há apenas dois grupos importantes do ponto de vista clínico, o DEA 1 positivo e o DEA 1 negativo.

Em relação às “unidades de cão, tem sido mais fácil manter um equilíbrio” do que nas unidades de gato. Isto porque, refere o veterinário, “é mais fácil lidar com os cães: são maiores e o procedimento é mais simples”. 

Segundo Rui Ferreira, entre julho e o início de setembro, altura “em que aumentam mais os pedidos, porque há mais carraças e infeções, são fases em que faltam mesmo, de uma forma grave, determinados grupos de sangue mais raros”.

Por exemplo, salienta Rui Ferreira, “há pouco tempo, foi necessário fazer uma campanha por gatos tipo B”, pois o BSA não conseguia ter reservas.

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4 Out 2023 - 10:08

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