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Os cães também podem ter depressão?

30 Jan 2024 - 08:55
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Os cães também podem ter depressão?

A mudança de casa, a ausência de um dono ou a perda de um companheiro animal são fatores que podem levar um cão a manifestar sintomas depressivos. O animal de estimação pode deixar de comer, adotar comportamentos agressivos e até perder o interesse por atividades de que gostava. Esses sinais podem indicar a presença de uma doença? Os cães podem, tal como as pessoas, ter depressão?

É verdade que os cães podem ter depressão?

Em declarações ao Viral, Teresa Oliveira, diretora clínica do Hospital Veterinário da Universidade de Évora, professora do departamento de Medicina Veterinária da mesma universidade e investigadora no Comprehensive Health Research Center (CHRC), adianta que, “sim, os nossos amigos de quatro patas também são afetados por períodos de depressão”. 

Contudo, realça, “as manifestações de depressão em cães, por norma, duram menos do que nos humanos, sendo o quadro clínico semelhante (mas não igual) ao observado” nas pessoas.

Segundo a veterinária, “são vários os exemplos relatados de animais que, normalmente, por ausência/morte dos seus donos ou outros animais de estimação, desenvolvem comportamentos de depressão ou luto” (ver aqui).

A investigadora refere ainda, como exemplo mediático, “um dos casos mais famosos, o do cão Hachiko”, cuja história foi retratada “no filme de ‘Hachiko – Amigo para sempre’”.

Recorde-se que, no filme de 2009, baseado numa história verídica, o cão acompanhava o dono todos os dias até à estação de comboio e esperava pelo seu regresso. Eventualmente, o dono não voltou, mas Hachiko esperou durante anos, até ao fim da sua vida.

Em suma, é verdade que os cães podem ter depressão, mas o quadro clínico não é igual ao dos humanos, diferindo, sobretudo, na duração dos sintomas.

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Como é diagnosticada a depressão nos cães?

Segundo a professora da Universidade de Évora, “os nossos animais, apesar de não falarem, emitem vários sinais indicativos de depressão”. Mesmo que estes sinais não representem um diagnóstico imediato da doença, “indicam que alguma coisa não está bem com o animal”, salienta a especialista. 

Exemplos de sinais alarmantes são, “se o cão apresentar prostração, diminuição do apetite, diminuição da sua atividade física/tempo de jogo, diminuição do interesse pelo meio que o rodeia, aumento da dependência em relação ao dono, ansiedade e comportamentos agressivos e/ou destrutivos”, informa.

Neste contexto, o animal “deverá ser observado por um veterinário que irá descartar causas fisiopatológicas e abordar o tratamento comportamental”, acrescenta Teresa Oliveira. 

A veterinária reforça a importância de o animal ser visto por um profissional especializado, porque pode haver um diagnóstico errado. “Há várias doenças, quer sejam do foro neurológico, musculoesquelético (como a dor crónica) ou, mesmo, metabólico, que levam ao aparecimento dos sinais supramencionados”, destaca. 

Aliás, frisa, “dentro do foro neurológico, existe, por exemplo, a disfunção cognitiva canina – muitas vezes comparada à doença de Alzheimer – cujos sinais são passíveis de confusão com a depressão canina”.

Portanto, a primeira abordagem deverá sempre passar por “levar o animal ao seu veterinário assistente para poder examiná-lo e proceder aos exames complementares de diagnóstico que considere adequados (tais como análises sanguíneas, doseamentos hormonais, exames imagiológicos)”. 

Quais as possíveis causas de uma depressão nos cães?

Tal como acontece com os seres humanos, “as causas são muito variadas”, responde Teresa Oliveira. Regra geral, “relacionam-se com mudanças maiores na vida do animal”.

Alguns exemplos dados pela investigadora são: “mudança de casa/rotina”, “coabitantes novos (nascimento de um filho no seio familiar ou um novo animal de estimação)”, “ausência de um membro da família (por exemplo, por motivos profissionais, divórcio ou morte)”. 

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Para mais, “outras causas incluem trauma, dor ou stress crónicos e isolamento social”. Sendo que, de todas as possíveis causas, “os quadros mais graves de depressão, por norma, estão associados à morte de outro animal de estimação ou de um dos donos”, com frequência “agravada pelo luto dos restantes coabitantes”, esclarece.

Qual o tratamento disponível para a depressão nos cães?

Segundo Teresa Oliveira, “os casos mais graves e/ou crónicos deverão ser encaminhados para um veterinário especialista em comportamento animal, que avaliará a necessidade de terapia farmacológica, além da terapia de modificação comportamental”. 

De facto, também existem “várias medicações disponíveis, como antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS)”, para tratar depressões caninas.

Contudo, “estes medicamentos só podem ser administrados sob prescrição médica e sempre em complemento da terapia comportamental e do enriquecimento ambiental”. 

Um tratamento composto irá permitir “o aumento da sua taxa de sucesso, no menor espaço de tempo possível, minimizando a utilização dos fármacos”, refere a veterinária.

Na verdade, anota, “a maior parte dos animais recupera em pouco tempo com não mais que alguma atenção por parte dos donos, aquilo que nós, profissionais veterinários, referimos como TLC (acrónimo oriundo das palavras inglesas ‘tender’, ‘love’ e ‘care’)”. 

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Assim, “atividades como exercício físico, jogos/brincadeiras, passeios, estimular o apetite (em animais com anorexia) e grooming, ajudarão o animal” a ultrapassar esta fase. 

Nesse sentido, “o comportamento ‘feliz’ deve ser recompensado com a repetição dessas mesmas atividades ou uma simples festa, ou louvor, enquanto comportamentos negativos deverão ser evitados”, conclui.

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30 Jan 2024 - 08:55

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