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Cães podem ser alérgicos a humanos? Quais as alergias mais comuns nos animais de estimação?

18 Abr 2023 - 11:11

Cães podem ser alérgicos a humanos? Quais as alergias mais comuns nos animais de estimação?

Nas redes sociais e em blogues, são partilhadas várias publicações em que se alega que, tal como os humanos podem ser alérgicos aos animais domésticos, como os cães ou os gatos, o contrário também pode acontecer. Mas será mesmo assim?

Em declarações ao Viral, Ana Mafalda Lourenço, professora e investigadora do Departamento Clínico da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa (FMV) e especialista em dermatite atópica canina, responde à questão e explica quais as alergias mais comuns nos animais de estimação.

É verdade que cães e gatos também podem ser alérgicos aos humanos?

Na perspetiva de Ana Mafalda Lourenço, essa é “uma pergunta de resposta muito difícil”. 

A veterinária começa por explicar que “podemos dizer que há estudos (poucos) que mostram que certos cães apresentam resultados positivos em provas cutâneas realizadas para epitélio humano (um dos quatro tipos de tecidos básicos do organismo humano)”.

No entanto, vinca, “o significado dessa sensibilização é desconhecido uma vez que não se estabeleceu a sua correlação clínica”.

Ou seja, embora existam relatos de casos de animais que reagem a epitélio humano, a evidência científica nesta área é limitada.

Até porque, tal como se aponta num artigo de revisão publicado em 2001, “as tentativas de identificar os antigénios caninos relevantes no passado foram afetadas pela falta de padronização dos extratos e das técnicas, e pela presença de falsos positivos e de falsos negativos nos testes de alergia”.

“Até que estes problemas sejam corrigidos, é improvável que possamos fornecer uma lista de antigénios de maior e menor importância para os cães”, escreviam os investigadores à data.

Além de não haver evidência robusta e clara sobre as potenciais alergias dos animais domésticos aos humanos, na visão da especialista, este “não será, de todo, o problema principal” no que diz respeito às alergias dos animais, pois, “em Portugal, à semelhança do que se passa com as pessoas”, os ácaros domésticos neste contexto são o maior perigo para os cães e para os gatos.

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Quais as alergias mais frequentes nestes animais de estimação?

Como explica Ana Mafalda Lourenço, “as alergias são muito comuns nos nossos animais de companhia, nomeadamente no cão, com uma prevalência elevada, tanto da alergia à saliva da pulga, como da dermatite atópica”. 

Por um lado, a alergia à saliva da pulga “afeta mais a pele da zona dorsal e mais perto da cauda”.

Por outro lado, “a chamada dermatite atópica afeta os animais desde uma idade muito jovem” e está relacionada, por norma, “com alergénios de origem ambiental, como ácaros do pó ou pólenes, podendo também existir uma componente alimentar”, clarifica.

Esta doença “afeta cerca de 15% a 20% de todos os cães, sendo que apresenta uma prevalência muitíssimo superior em raças predispostas, como o buldogue francês ou o labrador retriever”, frisa.  

Noutro plano, os gatos “apresentam o que se chama Síndrome Atópico Felino”, que, segundo a especialista, “engloba várias manifestações alérgicas”. 

Estes animais “podem apresentar dermatite alérgica, doenças respiratórias (como a asma) e doenças gastrointestinais, que podem estar associadas a uma hipersensibilidade a alergénios ambientais e/ou alimentos”.  

Além disso, “podem coexistir com a dermatite alérgica a pulgas”. Para agravar a situação, conclui a veterinária, “em Portugal temos condições ambientais para termos pulgas todo o ano”.

Quais os sinais que indicam a presença de alergias?

Segundo Ana Mafalda Lourenço, o sinal mais comum “em qualquer dos casos, é o prurido que leva o animal a coçar, morder, lamber ou esfregar-se contra superfícies de preferência rugosas como carpetes”. 

Podem ser várias as zonas cutâneas afetadas, “tais como os espaços interdigitais, axilas, virilhas ou os pavilhões auriculares”, alerta a investigadora.

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A professora da FMV assinala que esta manifestação pode ser muito intensa “levando à automutilação e à consequente perda considerável da qualidade de vida dos animais e da família em que se inserem”. 

Ainda assim, por vezes, “o início é subtil”, ou seja, os cães podem começar “apenas por lamberem mais as patas do que o normal”, avisa. Nesses casos, poe parecer que se trata de “uma questão de higiene”, mas “não é o caso”.

Além disso, também há a possibilidade de, no caso dos “cães atópicos”, se desenvolver “conjuntivite alérgica, rinite ou sinais gastrointestinais (como fezes pastosas)”. 

Otites frequentes que levam o animal a abanar a cabeça ou infeções de pele recorrentes também podem ser manifestações associadas às alergias”, acrescenta a veterinária. 

Ana Mafalda Lourenço realça assim a importância do diagnóstico “junto do médico veterinário assistente”. 

Cuidados a ter e tratamento disponível

Em relação à alergia à saliva das pulgas, a veterinária defende, antes de mais, a “prevenção da infestação através de uma das várias soluções existentes no mercado para a proteção individual do animal”. 

No entanto, “quando a alergia está ativa por ter havido já um contacto (picada)”, é necessário também “aliviar o prurido do animal, parar o ciclo de automutilação e tratar infeções bacterianas secundárias caso haja”, aponta.

Para mais, “é fundamental também tratar adequadamente do ambiente do animal e dos outros animais com que coabite”, de forma a não haver reinfestação. 

Relativamente à dermatite atópica, no caso dos cães, “o maneio será multimodal”, refere Ana Mafalda Lourenço. Por um lado, deve ser feito um “tratamento sintomático através dos fármacos vocacionados para o controlo do prurido e da inflamação”.

Depois, deve ser englobada “uma abordagem de reforço da barreira cutânea (através de produtos aplicados diretamente na pele e/ou dietas ricas em ácidos gordos)”.

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De forma a “tentar controlar a causa”, são realizadas as “vacinas das alergias” ou “imunoterapia para alergénios” e da “evicção dos alergénios quando possível”. 

É preciso ter em conta que “a realização das vacinas implica conhecer previamente aquilo a que o animal é alérgico (as suas sensibilizações), através da realização de provas alergológicas e das análises dos resultados positivos face à história clínica do paciente”, sustenta. 

No caso da dermatite atópica nos gatos, a gestão da situação “assenta principalmente no tratamento sintomático”. Com a contrapartida que, “de momento, as opções terapêuticas para estes animais são mais escassas do que as dos cães”, lamenta a investigadora. 

Ainda assim, “o médico veterinário saberá o tratamento mais indicado para o animal em questão, tendo em conta as suas particularidades e eventuais comorbidades”, conclui.

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Animais

18 Abr 2023 - 11:11

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