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Do chocolate à uva. Que alimentos podem ser tóxicos para os cães?

Os animais têm um metabolismo diferente dos humanos. Por essa razão, há ingredientes que, sendo inofensivos para os donos, podem causar problemas graves de saúde nos animais. Saiba quais os alimentos prejudiciais para os cães e o que deve fazer em caso de intoxicação.

15 Mar 2023 - 04:17

Do chocolate à uva. Que alimentos podem ser tóxicos para os cães?

Os animais têm um metabolismo diferente dos humanos. Por essa razão, há ingredientes que, sendo inofensivos para os donos, podem causar problemas graves de saúde nos animais. Saiba quais os alimentos prejudiciais para os cães e o que deve fazer em caso de intoxicação.

Muitas famílias portuguesas escolhem o cão como animal de companhia. Os dados do Sistema de Informação de Animais de Companhia (SIAC) mostram que, em março de 2023, estavam registados cerca de 3,1 milhões de cães em Portugal. Por isso, é importante que os donos saibam que alguns alimentos inofensivos para os humanos podem ser tóxicos para os cães.

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A ingestão de determinados alimentos pode provocar danos na saúde permanentes e resultar mesmo na morte do animal. A pensar nisso, o Viral contactou duas especialistas para esclarecerem as seguintes dúvidas: Que alimentos podem ser tóxicos ou prejudiciais para os cães? E como agir em caso de intoxicação?

Chocolate, café e chá

alimentos que podem ser tóxicos para os cães

Entre a lista de alimentos que podem ser tóxicos para os cães, o chocolate é um dos mais conhecidos, sendo uma das mais frequentes fontes de intoxicação dos animais de companhia.

A toxicidade advém de um tipo de substâncias estimulantes que estão presentes no cacau: as metilxantinas.

Ingerir chocolate pode causar vómitos e diarreias nos cães, assim como hiperatividade, tremores, aumento de frequência cardíaca, convulsões, explica Mafalda Pires Gonçalves, médica veterinária responsável pelo serviço de Nutrição e Centro do Peso Saudável do Hospital Escolar Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa

Em casos mais graves, a ingestão de chocolate pode mesmo causar a morte do animal.

No mesmo sentido, Joana Costa Reis, professora de nutrição clínica e coordenadora do curso de Enfermagem Veterinária da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, acrescenta que a presença de teobromina (uma substância do grupo das metilxantina) pode estar associada a “falhas renais e alterações do ritmo cardíaco”.

A professora refere, porém, que “tudo depende da quantidade ingerida e do peso do animal”.

Num cão pequeno a dose tóxica é mais facilmente atingida, e podemos ter problemas graves. Nos gatos pode também causar alterações neurológicas e cardíacas”, acrescenta.

As metilxantinas estão também presentes no café e em alguns chás, pelo que também se deve evitar dar estes alimentos aos cães.

Joana Costa Reis lembra que as intoxicações por chocolate aumentam durante as épocas festivas – como o Natal, a Passagem de Ano ou a Páscoa – e alerta os donos para que não deixem caixas de bombons ou outros doces ao alcance dos animais de companhia.

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Uvas, sultanas e tamarindo

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A ingestão de uvas, sultanas e tamarindo (um fruto tropical) pode levar ao desenvolvimento de insuficiência renal e falha hepática nos cães.

“Até ao ano passado, não se sabia qual o ingrediente ativo das uvas e das sultanas que provocava a intoxicação”, afirma Joana Costa Reis. Num estudo de 2022, os investigadores partiram de “casos de intoxicação por tamarindo e suspeitam que a substância tóxica seja o ácido tartárico, que está também presente nas uvas”.

A veterinária avança ainda que diferentes tipos de uvas têm diferentes quantidades de ácido tânico, pelo que o nível de toxicidade pode variar

“É um totoloto que não queremos que saia”, diz, acrescentando que, em alguns casos, a ingestão de uvas pode causar danos hepáticos permanentes.

Mafalda Pires Gonçalves lembra que “é importante as pessoas terem noção dos riscos” associados à ingestão das uvas e sultanas.

“Alguns donos vão dando estes frutos e não sabem que fazem mal. O animal, depois, acaba por desenvolver insuficiência renal”, sustenta.

Cada animal pode reagir de forma diferente a estas toxinas: alguns cães podem desenvolver uma intoxicação aguda e imediata, levando à necessidade de uma intervenção rápida; outros podem ingerir estes frutos de forma prolongada, surgindo posteriormente sintomas de insuficiência renal ou falha hepática.

Abacate

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Seja pela “ingestão das folhas, do fruto ou da semente”, o abacate pode provocar “alterações gastrointestinais e cardíacas nos cães e alterações ao nível pulmonar e cardíaco nos gatos”, adianta Joana Costa Reis. Este fruto pode também causar angioedema, um edema que se desenvolve na derme e nos tecidos subcutâneos do animal.

“Às vezes pensamos que os animais são uma espécie de humanos ‘em pequenino’, mas têm diferentes organismos e metabolismos. As substâncias que para nós são inofensivas para eles não são”, vinca.

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Além dos cães e dos gatos, o abacate pode ser tóxico para outras espécies. Para pássaros, coelhos, cavalos e outros animais ruminantes, a ingestão de abacate pode ser mortal, sublinha Mafalda Pires Gonçalves.

Alho, cebola e cebolinho

Dar alho, cebola ou qualquer alimento desta categoria a um cão pode não parecer comum à primeira vista, mas estes são ingredientes comuns nos refogados. Se costuma cozinhar para o seu animal, é importante saber que estes alimentos e os seus derivados – do cebolinho ao alho francês – são desaconselhados para os cães.

Além das questões gastrointestinais, a ingestão de cebola ou alho pode também estar associada ao aparecimento de anemia, já que, segundo Joana Costa Reis, estes alimentos “provocam danos oxidativos nos glóbulos vermelhos”.

Muitas vezes, os efeitos destes alimentos podem não ser imediatos, tornando mais difícil para o dono identificar a causa. A falta de informação pode estar na origem de grande parte dos casos de intoxicação.

Xilitol

alimentos que podem ser tóxicos para os cães

Os donos de animais sabem, por norma, que não se deve dar doces aos cães. Contudo, alguns alimentos sem açúcar são adoçados com xilitol – uma forma de adoçante artificial. Esta substância pode provocar danos graves na saúde dos animais de companhia.

Mafalda Pires Gonçalves identifica vários sintomas associados à ingestão desta substância: hipoglicemia, fraqueza, incoordenação, convulsões e até insuficiência hepática.

No mesmo prisma, Joana Costa Reis sublinha que a ingestão de xilitol – que pode estar presente em iogurte, bolachas, mas também em pasta de dentes, xaropes para a tosse e produtos light sem açúcar – “pode resultar numa situação de elevada gravidade”. 

“Os primeiros sinais podem ser vómitos e inapetência, mas a situação pode evoluir para uma falha hepática grave e alterações na coagulação”, esclarece.

Bebidas alcoólicas

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Dar um copo de vinho ou cerveja a cheirar a um cão e deixar que animal lamba a bebida é, para Joana Costa Reis, “uma brincadeira irresponsável” feita, muitas vezes, “por desconhecimento”, mas que pode ter consequências graves.

As bebidas alcoólicas e os produtos alimentares de caráter alcoólico podem causar vómitos e diarreia, mas também alterações no sistema nervoso central, prostração e dificuldades respiratórias. Mafalda Pires Gonçalves alerta que, em casos mais graves, estas situações podem levar à morte do animal.

Algumas das alterações do sistema nervoso podem ser passageiras e temporárias, contudo “há danos que podem ser permanentes, dependendo da quantidade ingerida”, afirma Joana Costa Reis.

Frutos secos

alimentos que podem ser tóxicos para os cãesSão vários os frutos secos que podem fazer mal ao cão, provocando vómitos e diarreias. Mafalda Pires Gonçalves sublinha que as nozes de macadâmia estão entre os frutos secos mais perigosos, estando associadas a fraqueza, depressão, vómitos, tremores e hipotermia.

Já a noz-pecã, as amêndoas e as avelãs estão relacionadas com vómitos, diarreias e, em casos mais graves, pancreatite. 

Outros alimentos perigosos para os cães

alimentos que podem ser tóxicos para os cães

Além dos alimentos potencialmente tóxicos para os cães listados anteriormente, há também ingredientes que não devem ser incluídos na alimentação diária do seu animal por poderem ser prejudiciais.

“A tolerância dos cães ao sal é muito inferior à nossa”, avisa Joana Costa Reis, sublinhando que existe muita desinformação sobre este assunto. 

“Muitas vezes, transmite-se a informação de que os animais selecionam o que lhes faz bem e não comem o que faz mal, mas isso não corresponde à verdade. Eles adoram estes alimentos”, completa.

O queijo e o fiambre, por exemplo, são alimentos que os animais gostam bastante e, por essa razão, até são utilizados pelos donos para facilitar a toma de medicamentos. No entanto, estes alimentos devem ser evitados.

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Os laticínios podem causar diarreia e alterações gastrointestinais, devido à “ausência da enzima lactase” no sistema digestivo dos cães, esclarece Mafalda Pires Gonçalves. Esta enzima é responsável pelo processamento da lactose.

Joana Costa Reis explica que “o leite produzido pelas cadelas e pelas gatas tem menos lactose do que o produzido pela vaca”. Por essa razão, o organismo dos cães e gatos não está preparado para digerir corretamente este açúcar. 

As gorduras são também prejudiciais à saúde dos animais. A manteiga, o azeite, os molhos e as gorduras da carne devem ser evitadas, uma vez que podem causar pancreatite. O fermento de padeiro – presente na massa de pão crua – pode causar timpanismo e cólicas, assim como dilatação e torção gástrica, acrescenta Mafalda Pires Gonçalves.

Os citrinos estão também associados a depressão no sistema nervoso central, enquanto o coco pode provocar vómitos e diarreias. Deve também evitar dar ossos de aves aos cães.

O que fazer em caso de intoxicação? 

Chegou a casa e viu que a caixa de bombons que tinha deixado em cima da mesa estava destruída no chão ou que aquele abacate que estava a guardar para o jantar, desapareceu de cima da bancada da cozinha. Ao mesmo tempo, o seu animal de estimação apresenta sinais de má-disposição ou até já vomitou. O que fazer nesta situação?

Mafalda Pires Gonçalves aconselha a contactar o veterinário e a vigiar os sintomas do cão. “Quanto mais rápido o animal for tratado melhor”, assegura a médica veterinária, acrescentado que a falta de tratamento “pode deixar os animais com consequências permanentes ou até ser fatal”. 

Uma vez no consultório, o veterinário poderá induzir o vómito, fazer uma lavagem gástrica ou, em casos mais avançados, aplicar medidas para a redução da absorção da substância tóxica. 

“Em situação de intoxicação, temos uma janela de ação curta”, afirma Joana Costa Reis, sendo que existem “protocolos de atuação em função do tempo de ingestão” dos alimentos tóxicos.

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A veterinária alerta ainda os donos para que não sigam receitas de desintoxicação caseiras sem antes falarem com o veterinário. “Alguns donos acham que dar leite ou azeite pode ajudar, mas é importante não o fazer. O azeite pode acelerar a absorção de muitos tóxicos, enquanto o leite, que nos humanos está associado a antitóxico, nos animais não tem esse efeito”, explica a professora.

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Joana Costa Reis conclui que, “em função do tempo de ingestão, o veterinário pode indicar algumas medidas para fazer em casa”. Estas medidas “dependem do animal em questão e do alimento que foi ingerido”.

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Saúde animal

15 Mar 2023 - 04:17

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