Ansiedade intensa e medo de morrer. Como lidar com um ataque de pânico?
Palpitações, falta de ar e medo de morrer são algumas das sensações frequentes durante um ataque de pânico. Estas manifestações do corpo e da mente são passageiras e não são fatais, mas condicionam, muitas vezes, a vida de quem as experiencia.
Neste artigo do Viral, exploramos o que é um ataque de pânico e reunimos algumas estratégias para enfrentar o problema.
O que é um ataque de pânico?
Em declarações ao Viral, o médico interno de Psiquiatria Mauro Pinho avança que “um ataque de pânico é um episódio intenso e súbito de medo que se caracteriza por sensações corporais muito intensas como palpitações, falta de ar, respiração acelerada, formigueiros, tremores, suor, sensação de calor, tonturas, entre outras sensações”.
Perante esta situação, acrescenta o psiquiatra, “a mente tende a hipervalorizar estas sensações e a exagerar a sua importância, interpretando-as como um sinal de que se vai morrer, sofrer um enfarte cardíaco, perder o controlo ou enlouquecer”.
“E esta interpretação, ela própria, naturalmente, vai aumentar os níveis de ansiedade e a intensidade das próprias sensações corporais indesejadas”, sustenta.
Ainda que este momento possa ser aflitivo e assustador para quem o vive, Mauro Pinho sublinha que, “felizmente, os ataques de pânico são transitórios e tendem para uma duração curta de alguns minutos”.
Na perspetiva do médico, é fundamental saber distinguir os ataques de pânico dos “estados de ansiedade agudos, que não têm este medo de morte iminente e estas sensações corporais muito intensas”.
“Um ataque de pânico é um momento em que a ansiedade está num pico. É um pico que o nosso corpo, por si só, vai autorregular, porque ele não tolera estar nesse pico de ansiedade durante muito tempo. Mas, de facto, é uma sensação aflitiva. E há estados de ansiedade que não configuram um ataque de pânico, que não têm este caráter de medo”, esclarece.
O médico consultado pelo Viral adianta ainda que “os ataques de pânico ocorrem em 20% da população saudável”, o que significa que “sofrer um ataque de pânico não representa automaticamente uma doença mental”.
Os ataques de pânico, clarifica Mauro Pinho, “tornam-se uma doença mental quando são frequentes e o indivíduo vive numa preocupação constante relacionada com a possibilidade de sofrer novos ataques, limitando as suas atividades habituais para evitar sofrer novos ataques”.
“Há indivíduos com ataques de pânico frequentes que deixam de fazer desporto por medo das palpitações que é uma das sensações que eles associam aos ataques, por memória condicionada”, exemplifica.
Como agir perante um ataque de pânico?
Quando alguém tem ataques de pânico frequentes, a primeira recomendação de Mauro Pinho passa por procurar o “diagnóstico adequado”, através de “avaliação médica inicial por um psiquiatra ou pelo médico de família”.
Nesta fase é importante excluir a possibilidade de “doenças físicas, como doenças cardíacas, asma ou doenças da tiroide, que podem mimetizar os mesmos sintomas” de um ataque de pânico.
Depois de estabelecido o diagnóstico, Mauro Pinho considera fundamental “explicar ao indivíduo que os ataques de pânico, apesar de muito desconfortáveis, não são perigosos, nem levam nunca à morte”.
“Só este facto de os ataques de pânico não levarem nunca à morte poderá ser, desde já, para muitos doentes um enorme alívio”, acrescenta.
Noutro plano, “se os ataques forem frequentes e incapacitantes, devem ser tratados com medicação, psicoterapia ou ambos”.
No caso da psicoterapia, o médico recomenda consultar “um psiquiatra ou psicólogo com treino em terapia cognitiva-comportamental, que é o tipo de psicoterapia mais estudado e validado para este tipo de problema”.
Questionado sobre as estratégias a adotar pela pessoa que sofre os ataques de pânico, Mauro Pinho começa por destacar que “os ataques de pânico são alimentados, curiosamente, pelas estratégias de controlo que o indivíduo adota”.
Isto é, “todos os comportamentos que o indivíduo passa a restringir por forma a não sofrer um ataque de pânico são os mesmos comportamentos que, paradoxalmente, irão manter os ataques”.
Segundo o médico, é frequente as pessoas com ataques de pânico deixarem, por exemplo, “de frequentar espaços nos quais receiam sofrer novos ataques de pânico, como centros comerciais, transportes públicos, elevadores ou multidões”. No entanto, assegura, “não é recomendável que o façam”.
“É precisamente pelo facto de os ataques de pânico não serem verdadeiramente perigosos que o indivíduo não deve limitar a sua vida em função destes, aprendendo a estar com a sua ansiedade e a aceitar que não é possível controlá-la diretamente”, reforça.
Do ponto de vista psicoterapêutico, continua o médico, “é importante ensinar os doentes a levar a ansiedade a passear”.
“Isto porque, embora nós não controlemos as nossas emoções, controlamos sempre o que fazemos com elas. E, efetivamente, podemos continuar a escolher ser livres, desde que aceitemos levar a ansiedade connosco”, afirma.
Em termos práticos, isto significa “aceitar que a ansiedade vai e vem” e que “o ataque de pânico tem uma duração limitada no tempo”.
“Eu costumo dizer ao doente que o ataque de pânico tem um princípio, um meio e um fim. Já viveram aquilo várias vezes, é mais uma vez e sabem que aquilo vai ter um fim”, assinala, lembrando a importância de o doente “aprender a estar com a ansiedade e com as sensações corporais desconfortáveis”.
Para Mauro Pinho, “grande parte do treino psicoterapêutico dos doentes passa por largar as estratégias de controlo em prol de estratégias de aceitação e de liberdade”.
“Liberdade no sentido de eu continuar a perseguir as atividades que eu valorizava, embora sabendo que posso sentir-me ansioso ao fazê-lo”, explana.
Perante um ataque de pânico, o médico aconselha também o doente a “estar ali com as sensações”, a ser “curioso” em relação a estas manifestações do corpo, tentando “identificar e nomear” o que está a sentir.
Mauro Pinho admite que, durante um ataque de pânico, a pessoa que passa por essa situação “quer tudo menos reparar nestas sensações” e “está sempre a tentar escapar-lhes”, tanto que “até é capaz de sair do sítio onde está”. Contudo, sublinha, “o problema não é o sítio, é a mente”. Por isso, reitera, “é importante ficar”.
“O mais difícil e, ao mesmo tempo, o mais eficaz é não fazer nada. É ficar com aquilo. É aprender a tolerar aquilo quando acontece”, conclui.
Recomendações semelhantes são apresentadas num texto explicativo sobre a perturbação de pânico publicado na página do Serviço Nacional de Saúde britânico.
Segundo esta entidade, perante um ataque de pânico, é recomendável: “não lutar contra ele”, “ficar onde está, se possível”, “respirar lenta e profundamente”, “lembrar-se de que o ataque vai passar”, “concentrar-se em imagens positivas, pacíficas e relaxantes” e lembrar-se que o ataque “não é uma ameaça à vida”.
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