Circulam nas redes sociais várias publicações em que se alega que beber café com canela emagrece. Isto porque, supostamente, o café tem um “efeito termogénico” e acelera o metabolismo ao mesmo tempo que, alegadamente, a canela potencia a saciedade. Mas esta informação é verdadeira?

É verdade que beber café com canela emagrece?

Não, beber café com canela não emagrece. Quem o adianta é Leandro Oliveira, nutricionista e investigador do Centro de Investigação em Biociências e Tecnologias da Saúde (CBIOS) da Universidade Lusófona.

Em declarações ao Viral, o nutricionista lembra que “só a água é que não tem calorias” e que não existe nenhum alimento que tenha um efeito milagroso na perda de peso. 

Em relação ao café, “a cafeína é o composto bioativo com interesse”. Leandro Oliveira explica que “a cafeína é um estimulante e tem algum efeito termogénico”. O que é que isso significa?

É preciso uma quantidade de energia necessária (taxa metabólica basal) para o corpo funcionar e fazer as suas “atividades normais, como respirar, o batimento cardíaco, manter o corpo quente”, começa por explicar o investigador.

“O efeito termogénico reflete-se num aumento do gasto energético”, porque “obriga o organismo a produzir mais calor”, acrescenta.

No entanto, “a quantidade de cafeína que se encontra no café normal não vai permitir ter esses benefícios”, sustenta. Eventualmente, pode-se ter “um efeito antioxidante”, “mas não se vai emagrecer a beber café, muito menos caso se adicione açúcar”, um hábito comum.

Noutro plano, de facto, “a canela tem alguns benefícios”, aponta. Mas, mais uma vez, “para ter acesso a estes benefícios também é necessário consumir determinadas quantidades de canela que por norma não são consumidas”, salienta.

Como explica Leandro Oliveira, “a canela é, sobretudo, utilizada para condimentar os alimentos”, mas essas quantidades “não têm grandes efeitos, nomeadamente em termos de saciedade”.

Na verdade, até há evidência que aponta no sentido contrário. O investigador refere “um estudo em que se fez uma infusão com dois gramas de canela, em que o resultado, a nível da saciedade, até foi o oposto”. 

Segundo o nutricionista, “o grupo que consumiu essa infusão, em comparação com um grupo que consumiu água, comeu mais”. Portanto, frisa, “até houve uma maior estimulação do apetite do grupo que consumiu a infusão com canela”, obtendo-se “um efeito oposto ao pretendido”.

Assim, o potencial benefício em beber café com canela seria apenas através da “substituição do açúcar pela canela”, que permite “poupar calorias”. 

Na visão de Leandro Oliveira, “a melhor receita para uma perda de peso ou para a manutenção de um peso saudável” é a mudança de estilo de vida. Como? Através de “uma alimentação variada, equilibrada e completa” – de acordo com “o guia para a população portuguesa, a roda dos alimentos” – e da “prática de exercício físico de forma regular”.

Quais os riscos associados ao consumo excessivo de café e canela?

Segundo o investigador do CBIOS, “alguns estudos referem que a cafeína só passa a ter algum efeito termogénico em quantidades acima dos 400 mg”. Contudo, essa dose já não é considerada segura para consumo.

O que está “recomendado pela roda dos alimentos é até 300 mg de cafeína, por dia, no máximo” (para adultos, excluindo grávidas), o que equivale “mais ou menos 3 cafés curtos”, refere Leandro Oliveira. 

Em termos de consequências, o consumo excessivo de café “pode levar a desconforto gastrointestinal”. Aliás, frisa o nutricionista, “o consumo continuado de café pode causar uma certa habitação”. Quando “se deixa de tomar café, pode ocorrer abstinência à cafeína, que se pode traduzir em dores de cabeça, por exemplo”.

No que diz respeito à canela, tal como acontece com outros alimentos, a ingestão em excesso “acaba sempre por se traduzir muito em sintomas gastrointestinais, como flatulência, diarréia e vómitos”, aponta. 

A resposta do organismo “vai depender muito da sensibilidade de cada um, à canela e à quantidade que se consumiu”, acrescenta.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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