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Reiki cura ataques de pânico?

Criada no Japão, a prática de Reiki promete direcionar a energia através das mãos, fazendo com que o paciente, supostamente, aumente a sua capacidade autocurativa. É verdade que esta terapia tem a capacidade de tratar os ataques de pânico?

30 Dez 2022 - 08:00

Reiki cura ataques de pânico?

Criada no Japão, a prática de Reiki promete direcionar a energia através das mãos, fazendo com que o paciente, supostamente, aumente a sua capacidade autocurativa. É verdade que esta terapia tem a capacidade de tratar os ataques de pânico?

O que não falta na internet são publicações e textos em blogues que descrevem o Reiki como uma cura milagrosa para os ataques de pânico. Esta terapia alternativa é realizada através de uma técnica de contacto leve no corpo, ou sem contacto, com o objetivo de proporcionar ao praticante um suposto equilíbrio energético e uma sensação de bem-estar geral. 

Um dos posts que circula online garante que o Reiki promove “melhorias no sono, clareza mental, foco, redução de stress e ansiedade, cura de ataques de pânico e depressão”. Mas é mesmo assim? Há evidência que o comprove?

É verdade que o Reiki cura ataques de pânico?

Em entrevista ao Viral, o psiquiatra João Palha garante que não existe evidência clínica de que o Reiki trate os ataques de pânico. 

O médico explica que, em problemas como a perturbação de ansiedade generalizada que “têm o pensamento como fator importante”, o reiki “pode ter aquele componente placebo e de empatia que pode, eventualmente, por essas vias bastante indiretas, melhorar qualquer coisa”. 

Já no caso dos ataques de pânico, “o pensamento só tem importância secundária, ou seja, após o disparo automático do que dá origem ao ataque de pânico”. Por isso, na visão do psiquiatra, “numa doença como esta”, além de não haver eficácia comprovada, fazer este tipo de terapias pode “criar expectativas” inalcançáveis.

Como surgem os ataques de pânico e quais os sintomas?

De acordo com a secção de perguntas e respostas sobre ansiedade no site do Serviço Nacional de Saúde, existem várias perturbações de ansiedade, tais como: as fobias, os ataques de pânico, a perturbação de ansiedade generalizada e o stress pós-traumático.

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Como começa por explicar o psiquiatra, às vezes utiliza-se a expressão “ataque de pânico” de forma corriqueira, quando uma pessoa se encontra numa situação de perigo, por exemplo.

“Sentir-me em pânico, porque me apontam uma pistola é normal”, esclarece o médico. No entanto, quando se tem um ataque de pânico, esse “medo” e esse “desconforto” ocorrem sem motivo.

Enquanto uma situação de perigo pode provocar pânico consciente, quando acontece um ataque de pânico, o doente não está previamente assustado, nem numa situação indesejada. “A pessoa pode estar a conduzir, a ver um filme ou a dormir e ter um ataque de pânico”, exemplifica.

“No fundo, este tipo de ansiedade é súbita, porque há uma espécie de descarga de adrenalina que – para simplificar – se traduz na desregulação do sistema autonómico”, clarifica o médico.

Assim que se desencadeia um ataque de pânico, a pessoa sente um desconforto que, normalmente, “atinge o pico aos 10 minutos”. Durante o episódio, aponta João Palha, a pessoa “vai sentir uma série de sintomas físicos e psíquicos”.

Os sintomas físicos passam por “palpitações, taquicardia, suores, tremores, dificuldade em respirar, mal estar abdominal, formigueiros, sensação de calor e náuseas”.

Por outro lado, também “há dois ou três sintomas psíquicos, que estão ligados à desrealização e à despersonalização”. 

Em primeiro lugar, o doente passa por uma sensação de “irrealidade”, sem ter noção onde está e se está a sonhar ou não.

Já a “despersonalização” faz com que a pessoa se sinta “desligada de si própria”, ou seja, distorce a visão de si e do mundo, não conseguindo distinguir a realidade da fantasia. “Associado a isto”, surge “o medo de morrer e de perder o controle ou mesmo de enlouquecer”, acrescenta.

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Como se trata uma perturbação de pânico?

Segundo João Palha, se os ataques de pânico forem recorrentes pode indicar que a pessoa tem uma perturbação de pânico

Quer isto dizer que deve ser feita uma avaliação médica, se o doente tiver “vários ataques de pânico sem causa e uma preocupação, medo persistente e receio de voltar a ter esses ataques”.

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Esta doença trata-se “através de medicamentos que regulam o circuito da serotonina”. São eles os “antidepressivos serotoninérgicos”, tais como a “fluoxetina” e a “paroxetina”, bastante utilizados no tratamento das depressões.

Em complemento, associa-se, muitas vezes, à medicação “a psicoterapia cognitiva comportamental e depois todas as outras coisas à volta disso: a vida saudável, rotinas, desporto, etc”. 

Não invalidando que algumas pessoas podem ter recaídas, conclui João Palha, o tratamento é curativo na maior parte dos casos.

Categorias:

Saúde mental

Etiquetas:

Pânico | Reiki | Saúde Mental

30 Dez 2022 - 08:00

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