Protetores solares mais baratos são menos eficazes do que os mais caros?
De diferentes marcas, tamanhos, embalagens, cheiros e preços, os protetores solares servem para proteger da radiação solar, prevenir queimaduras e reduzir o risco de cancro e de envelhecimento precoce da pele.
Mas será que os mais baratos são menos eficazes do que os mais caros? O Viral procurou esclarecer a questão com Marta Ferreira, farmacêutica, pós-graduada em Cosmetologia Avançada, doutoranda em Ciências Farmacêuticas, autora do “Livro da Pele” e do blogue “A Pele Que Habito”.
Os protetores solares mais baratos protegem menos do que os mais caros?
Em declarações ao Viral, a farmacêutica Marta Ferreira começa por referir que a eficácia “não é estanque”.
“A proteção solar, em primeiro lugar, é a proteção face à radiação UVB. Os protetores que têm o mesmo fator de proteção solar têm de ter a mesma eficácia”, adianta a pós-graduada em cosmetologia (uma área dedicada ao estudo de cosméticos).
Mas o que é o fator de proteção solar (FPS) ou SPF (Sun Protection Factor, em inglês)? Trata-se do número que aparece nas embalagens (e que é obrigatório), como “30” ou “50+”, que corresponde ao tempo que o produto consegue manter a pele protegida.
Por exemplo, se a pele de uma pessoa demorar 10 minutos a ficar vermelha com a exposição solar, ao colocar um protetor com FPS 30, é suposto que aguente 300 minutos sem queimar, ou seja, 30 vezes mais tempo do que sem proteção.
Na prática, um protetor de “marca branca” que tenha FPS 50+ “deve ter a mesma eficácia” de proteção que um de marca mais cara também 50+, reforça Marta Ferreira.
Para serem considerados eficazes, os produtos têm de passar por um “teste que está estandardizado”:
“Todos os fabricantes devem cumprir essa norma. Os protetores solares têm de ter todos a mesma eficácia independentemente do sítio onde são comprados e do preço que custam”, esclarece.
De acordo com uma recomendação da Comissão, de 2006, os cosméticos à venda “não devem prejudicar a saúde” quando aplicados em “condições normais ou razoavelmente previsíveis de utilização, tendo em conta, a apresentação do produto, a sua rotulagem
e eventuais instruções de utilização”.
Os Estados-Membros deverão garantir, segundo o artigo 20º do Regulamento 1223/2009, os elementos necessários “à identificação, qualidade, segurança para a saúde humana e efeitos alegados do produto cosmético” e uma “transparência” nas embalagens em relação aos ingredientes utilizados e ao prazo de validade.
Em declarações ao Viral, Marta Ferreira considera que as marcas privilegiam diferentes aspetos. Algumas mais baratas de supermercado pertencem aos “principais laboratórios a nível mundial, grupos que apostam na pesquisa” e conseguem “garantir que os produtos chegam a baixo preço com qualidade superior”.
“Temos motivos para confiar muito nessas marcas ainda que tenham preços mais baixos”, reforça.
Em 2020, o INFARMED – a autoridade responsável por supervisionar os produtos cosméticos – analisou 20 protetores solares do mercado português. Todos apresentaram um FPS correspondente ao rótulo e cumpriam os limites da qualidade microbiológica.
Então, qual é a diferença?
A variedade é uma das coisas que difere os produtos de supermercado dos de farmácia e perfumaria. No segundo caso, há mais produtos específicos para os diferentes tipos de pele ou para peles com determinadas características, como manchas ou tendência para acne, e com diferentes acabamentos, exemplificou Marta Ferreira.
Por norma, os protetores de farmácia estão mais associados a uma componente médica: “Encontramos protetores com filtros solares mais selecionados ou mais aptos para proteger pessoas com intolerâncias e com maior sensibilidade ou são produtos com uma resistência à água mais elevada. Contêm outros ingredientes, como anti-irritantes, e não ficam com ‘aquele’ aspeto branco. As fragrâncias também são diferentes”, explica.
Alguns produtos de farmácia têm uma proteção UVA mais elevada, “até acima das recomendações europeias”. A radiação UVA, responsável pelo envelhecimento da pele, é mais fraca, mas consegue “penetrar mais facilmente a pele e atingir as camadas mais profundas”, explica a especialista em cosmetologia.
Em relação às “marcas brancas”, há produtos “muito básicos que se calhar não vão ser tolerados por muitas pessoas”, com texturas, fragrâncias e embalagens simples. No entanto, reforça, “já se começa a conseguir produzir produtos melhores e mais baratos”.
O que ter em conta na escolha de um protetor?
Para a autora do “Livro da Pele”, as pessoas devem escolher protetores com proteção UVB mínima de 30. Em “peles mais clarinhas, que queimam rápido” a recomendação é de “50 ou 50+”.
Em entrevista ao Viral, a especialista alerta: o que é importante analisar é a diferença de radiação que chega à pele com o uso de protetor “e não aquela que não chega, que é bloqueada”. Ou seja, a mesma dose de radiação queima a pele “quase duas vezes mais rápido quando se usa um FPS 30 em comparação com um FPS 50”, o que dá mais vantagem ao FPS 50.
A especialista destaca a quantidade que deve ser aplicada: “Estima-se que é necessário, no mínimo, 30 ml, que corresponde a um copo de shot”.
O protetor deve ser colocado entre 20 a 30 minutos antes da exposição ao sol. Porquê? É o tempo que leva a criar uma camada uniforme que vai impedir a penetração dos raios, clarifica. A cada duas horas deve ser reaplicado.
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde recomenda um FPS mínimo de 15. No entanto, países como Portugal e Reino Unido, aconselham uma proteção igual ou superior a 30.
De acordo com a Comissão Europeia, na recomendação de 2006 destinada aos Estados-membros, as informações em relação à eficácia dos protetores “devem ser simples, significativas e baseadas em critérios idênticos”, para ajudar o consumidor a comparar produtos e a escolher o produto.
Os protetores devem ser diferentes consoante a idade?
Sim, devem.
Na “população com um sistema imunitário mais imaturo”, ou seja, nas crianças, os cuidados devem ser redobrados. Com menos de seis meses não devem ir à praia, “mesmo sem exposição solar direta”, alerta a especialista.
Dos seis meses aos três anos, só devem, “segundo alguns pediatras”, usar protetores solares com filtros minerais, que deixam “aquela camada branca muito visível e muito pouco agradável”.
A partir dos três anos, devem usar produtos indicados para crianças, “validades em termos de segurança com critérios mais conservadores”.
Já os adultos devem preferir usar protetores em creme, “apesar de menos agradáveis”. Porquê? “Tendem a ser aplicados de uma forma mais eficiente do que os outros, como spray e pó. Não conseguimos tirar pouco creme, mas conseguimos usar pouco spray”, esclarece Marta Ferreira.
Também os idosos devem preferir usar protetor em creme porque “mantém uma hidratação mais eficiente”.
“Nem mesmo os protectores solares muito eficazes e que protegem das radiações UVB e UVA podem garantir proteção completa contra os riscos da radiação UV para a saúde. Nenhum protetor solar consegue filtrar toda a radiação ultravioleta (UV)”, refere a recomendação da Comissão.
Nesse sentido, são necessários outros cuidados. Quais?
A Direção-Geral da Saúde (DGS) desaconselha uma “exposição prolongada ao sol” e, sobretudo, entre as 11h00 e as 17h00, horas de maior incidência. Apela também ao aumento da ingestão de líquidos e ao uso de chapéu e óculos com proteção contra a radiação UVA e UVB.
E a proteção na cara e nos lábios?
Além de um chapéu para proteger o couro cabeludo, as pessoas devem usar um protetor no corpo e um diferente na cara.
Os destinados à face oferecem filtros, por exemplo, para peles acneicas ou com rosácea e foram desenvolvidos para “garantir alguma segurança ocular”.
“Talvez seja importante optar por um com boa tolerância ocular para poder proteger a zona em torno dos olhos e das sobrancelhas sem desconforto e sem descurar uma zona em que a pele é muito fina e sensível”, aconselha Marta Ferreira, informando que há produtos em ‘stick’ destinados ao contorno ocular.
A doutoranda em Ciências Farmacêuticas refere ainda que os lábios “são uma zona muito descurada”, assim como as orelhas e a parte superior do pé. No entanto, alerta: “Há muitos cancros da pele que se manifestam nos lábios”.