Radiações
O telemóvel pode causar cancro no cérebro? Não há evidência que o comprove
É uma polémica que está para durar: podem ou não os aparelhos telefónicos provocar cancro? Os cientistas dizem que não - mas a resposta não é definitiva
Em abril de 1973 foi feita a primeira chamada de telemóvel e desde então muito se tem questionado sobre as implicações para a saúde da utilização excessiva destes aparelhos que se tornaram ferramentas indispensáveis na vida privada e profissional.
As dúvidas sobre a segurança das radiações dos telemóveis atingiram o ponto alto em maio de 2011 quando a Organização Mundial da Saúde declarou que estas seriam “potencialmente carcinogéneas”.
Contudo, apenas seis semanas depois a International Commission on Non-Ionizing Radiation Protection publicou um estudo no qual concluiu que “embora não se possa ter certeza, a tendência do acumular de evidências é cada vez mais contra a hipótese de que o uso do telemóvel seja causa de tumores cerebrais”.
Na base da discussão está o impacto das ondas de radiofrequência emitidas pelos telemóveis para comunicarem com as torres de emissão de sinal. Trata-se de radiação não ionizante, diferente da usada nos raios X ou nas tomografias, que em telemóveis de segunda, terceira e quarta gerações (2G, 3G, 4G) rondam a faixa de 0,7–2,7 GHz. Estima-se que os telemóveis de quinta geração (5G) usem um espectro de frequência de até 80 GHz, daí o aumento da polémica sobre esta matéria nos últimos anos.
Então qual é a posição das organizações médicas?
A American Academy of Neurology publicou um extenso artigo onde analisou vários estudos e entrevistou vários especialistas sobre esta matéria. Ouviram vozes como a de Gary Arendash, investigador no Florida Alzheimer’s Disease Research Center, que diz ser “impossível para os telemóveis causarem cancro” porque os campos eletromagnéticos que eles geram não podem quebrar as ligações químicas entre as moléculas.
Já Henry Lai, investigador na University of Washington, mostrou-se particularmente preocupado com o risco do uso de telemóveis a longo prazo entre os mais jovens. “A radiação penetra mais profundamente na cabeça de uma criança, então uma porção maior do cérebro pode ser exposta à radiação.”
A American Academy of Neurology publicou um extenso artigo onde analisou vários estudos e entrevistou vários especialistas sobre esta matéria. Ouviram vozes como a de Gary Arendash, investigador no Florida Alzheimer’s Disease Research Center, que diz ser “impossível para os telemóveis causarem cancro” porque os campos eletromagnéticos que eles geram não podem quebrar as ligações químicas entre as moléculas.
O artigo, sem apresentar nenhuma conclusão definitiva, termina com as palavras de Lynne Taylor, diretora de neuro-oncologia no Virginia Mason Medical Center, para quem a OMS emitiu o parecer em 2011 apenas como forma de manter em aberto as possíveis conclusões de futuros estudos. Mas, na opinião da investigadora, neste momento faz mais sentido emitir um aviso de perigo de utilização do telemóvel ao volante, como forma de evitar acidentes rodoviários, do que pelo aumento de risco de cancro.
Na Europa, em 2015, o Comité Científico dos Riscos para a Saúde Emergentes e Recentemente Identificados também emitiu um relatório onde concluiu que os estudos epidemiológicos feitos até à data sobre a exposição à radiofrequência dos telemóveis não mostraram inequivocamente um risco aumentado de tumores cerebrais.
Ainda lado de lá do Atlântico, também a American Cancer Society e o National Cancer Institute a agência governamental para o cancro, fizeram artigos extensos com análises a vários estudos sem que nenhum dos organismos tenha encontrado provas irrefutáveis da ligação entre a utilização de telemóveis e o cancro do cérebro, embora emitam recomendações para um uso ponderado dos dispositivos.
Na Europa, em 2015, o Comité Científico dos Riscos para a Saúde Emergentes e Recentemente Identificados também emitiu um relatório onde concluiu que os estudos epidemiológicos feitos até à data sobre a exposição à radiofrequência dos telemóveis não mostraram inequivocamente um risco aumentado de tumores cerebrais ou de outros carcinomas na mesma região, nem comprovam que o risco de aumento de cancro infantil.
A todas as tomadas de posição é comum o mesmo desfecho: é necessário continuar a avaliar os efeitos a longo prazo desta radiofrequência com estudos robustos e bem desenhados.
Em suma, não há, por agora, uma posição unânime das organizações médicas sobre o impacto da utilização do telemóvel no risco de desenvolver cancro do cérebro. Mantêm uma posição prudente enquanto aguardam mais dados de estudos a longo prazo sobre essa eventual associação.
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