Ortopedia
Estalar os dedos faz mal? Não – pode continuar a fazê-lo…
O hábito de estalar os dedos é mantido por um número significativo de pessoas. E a convicção de que esta prática lhes pode ser nociva ainda é mais generalizada. Será verdade?
Para aliviar o stresse, obter um som característico ou até de forma inadvertida (hábito), muitas pessoas estalam os dedos das mãos, diariamente, dezenas de vezes. A ideia de que a ação é prejudicial às articulações ou aos ossos (falanges) está espalhada, sendo por isso frequente ouvir-se o conselho para se deixar de o fazer.
Os estudos médicos realizados sobre o tema, porém, contrariam a ideia comum e tantas vezes repetida de que estalar os dedos pode causar artrites ou lesões ósseas.
Em Maio de 1975, um estudo publicado no The Western Journal of Medicine – “The Consequences of habitual knuckle cracking” – debruçou-se sobre a possível correlação entre o estalar dos dedos e algumas das mais recorrentes lesões nos dedos.
O trabalho dos investigadores da Universidade do Sul da Califórnia (Los Angeles) analisou dois grupos distintos de população, cada qual constituído por 28 elementos: idosos (média de 78.5 anos) – 15 dos quais com o hábito ao longo da vida de estalar os dedos – e jovens (média de 11 anos).
O resultado revelou a inexistência de uma correlação entre o estalar dos dedos e alterações degenerativas das articulações metacarpais das falanges (apenas 1 dos 15 idosos que tinham esse hábito apresentaram uma das lesões pesquisadas).
Mais recentemente, em Abril de 2011, um estudo de 3 médicos publicado no Journal of the American Board of Family Medicine (JABFM) apontava igualmente para a não existência de correlação entre estalar os dedos e o aparecimento de artrites.
Em 1998, o médico Donald Unger, também californiano, apresentou o seu estudo de 50 anos em que a cobaia foi ele próprio. Depois de passar a infância a ouvir a mãe dizer-lhe que ficaria com artrites se continuasse a estalar os dedos, o alergologista quis fazer a prova: durante 5 décadas estalou todos os dedos da sua mão esquerda pelos menos duas vezes por dia (estima-se que em mais de 36 mil ocasiões, no total) e deixou imune a esta ação os dedos da mão direita. Ao fim deste tempo, fez exames aos 10 dedos e verificou que não tinha qualquer artrite ou diferença substantiva entre os dedos das duas mãos. Em Maio de 1998, na revista médica especializada Arthritis & Rheumatism, publicou o seu estudo intitulado ”Does knuckle cracking lead to arthritis of the fingers?”.
Em 2009, este trabalho foi premiado com um LgNobel – galardões satíricos, inspirados nos Nobel, que distinguem descobertas científicas de caráter ou método insólito.
Mais recentemente, em Abril de 2011, um estudo de 3 médicos publicado no Journal of the American Board of Family Medicine (JABFM) apontava igualmente para a não existência de correlação entre estalar os dedos e o aparecimento de artrites.
O “Knuckle cracking and hand osteoarthritis” fez a observação a 215 pessoas (135 pacientes entre os 50 e 89 anos com problemas de articulação nas mãos, comprovados através de radiografia, e 80 indivíduos sem qualquer problema, funcionando como “controlo” da investigação) e concluiu que a prevalência de artrites ou doenças conexas em qualquer articulação era semelhante entre aqueles que estalavam os dedos (18,1%) e os que não estalavam (21,5%).
É, portanto, falso que estalar os dedos faça mal aos dedos, seja às articulações ou aos ossos (falanges).
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