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Ginecologia

Juntar ciclos menstruais através do uso contínuo da pílula não é prejudicial, mas deve parar de vez em quando

15 Abr 2022 - 09:00

Ginecologia

Juntar ciclos menstruais através do uso contínuo da pílula não é prejudicial, mas deve parar de vez em quando

Os métodos contracetivos existentes no mercado são muitos, mas as dúvidas e os mitos que rodeiam este assunto também. O Viral dedica toda a semana ao tema para saber quais as respostas da ciência às principais questões das mulheres.

Para quem toma a pílula, é normal ter a menstruação ao final de cada ciclo – seja ciclos de 21 dias com sete dias de intervalo (ou com comprimidos de placebo) ou de 24 dias com paragem de quatro. No entanto, há situações em que as mulheres podem não querer ter a menstruação: ao tomarem o contracetivo oral continuamente, juntam os ciclos e o período não aparece. Mas será esta prática prejudicial à saúde?

É importante sublinhar que, neste caso, estamos a referir-nos às pílulas combinadas (estrogénio e progesterona) que incluem um período de pausa, não das pílulas que contém apenas progestativo – recomendadas no período pós-parto, durante a amamentação ou para mulheres com risco tromboembólico acrescido – e que são desenhadas para serem tomadas continuamente, onde não já é previsto não ocorrer menstruação.

Os contracetivos orais combinados com paragem “podem ser tomados de forma contínua”, afirma Teresa Bombas, especialista em ginecologia-obstetrícia da Associação Portuguesa de Contraceção. “Isto pode acontecer por opção da utente ou por algum problema da saúde. Por exemplo, as mulheres que sofrem de dores menstruais intensas, alterações de humor na semana de pausa, anemia crónica, entre outros problemas têm benefícios e melhoram a qualidade de vida se fizerem pílula contínua”.

Quando se opta por não interromper a toma da pílula – ou seja, não ter a menstruação – as mulheres podem vir a ter um corrimento vaginal semelhante a uma menstruação escassa, que é conhecido como spotting. Esta situação pode ocorrer ao fim de alguns ciclos, não sendo previsível e variando de mulher para mulher. “Nessa altura deve fazer uma pausa [da pílula] – que pode ser de sete dias – e depois voltar ao regime de toma contínua”, explica a especialista.

“Existem mulheres que tomam a pílula de forma contínua e nunca têm perdas”, acrescenta. Teresa Bombas afirma que “não existem estudos que demonstrem que a toma contínua tem complicações, nem que a toma com a paragem tradicional de quatro a sete dias tenha vantagens”.

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No ciclo natural – sem a utilização de métodos contracetivos hormonais – o endométrio tende a aumentar de tamanho na segunda fase do ciclo, de forma a acolher o óvulo fecundado na parede do útero. Ao utilizar um método contracetivo que bloqueia a ovulação – seja contracetivos orais, anel vaginal, sistema transdérmico, implante ou injetável –, o “endométrio mantém-se, em geral linear, não se verificando o crescimento que acontece no ciclo natural”, explica.

Mas esta opinião não é unânime: Alexandra Matias, assistente graduada no departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de São João e professora catedrática na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), considera que a junção dos ciclos não deve ser feita regularmente.

Pontualmente não há problema. Não é uma boa ideia fazer por sistema. O organismo precisa deste ciclo e precisa de descamar o excesso de endométrio – que é normal, porque está a ser estimulado pelo estrogénio – depois vamos ter de tirar-lhe o suporte para escamar e vir a fazer outro”, explica. A professora da FMUP alerta que durante o segundo ciclo podem ocorrer casos de spotting.

A menstruação resulta do descamar do endométrio que não acolheu o óvulo fertilizado. Alexandra Matias explica que a toma do contracetivo oral, que contém estrogénio, “vai aumentando o endométrio e, quando este fica muito espesso, tiramos pílula e vai haver um sangramento”. “Se juntarmos os dois ciclos não há esse sangramento, mas quando tivermos novamente, a menstruação vai ser mais avultada. Às vezes, o endométrio não aguenta, o que resulta na ocorrência de algumas perdas a meio do segundo ciclo. Temos o organismo exposto a excesso de hormona, o que não é uma boa ideia.”

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Existem vários tipos de métodos contracetivos atualmente no mercado. Todos partilham o objetivo principal de evitar a gravidez, mas cada um tem o seu próprio modo de atuação. Para perceber qual o método contracetivo que melhor se adequa a si, deverá procurar aconselhamento junto de um profissional de saúde especializado.

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15 Abr 2022 - 09:00

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