PUB

É contagioso? 7 perguntas e respostas sobre o lúpus

10 Mai 2023 - 10:26

É contagioso? 7 perguntas e respostas sobre o lúpus

Em 2015, quando Selena Gomez anunciou ter sido diagnosticada com lúpus, os pormenores sobre a doença, os seus sintomas, causas e tratamentos ganharam particular destaque mediático. 

PUB

Ainda assim, algumas dúvidas e mitos sobre esta doença crónica autoimune que – tal como se escreve no site do Serviço Nacional de Saúde – afeta cerca de “cinco milhões de pessoas em todo o mundo” ainda persistem. No Dia Mundial do Lúpus, que se assinala todos os anos a 10 de maio, Helena Canhão, diretora da NOVA Medical School e chefe da Unidade de Reumatologia do Hospital Santo António dos Capuchos (CHULC), responde a sete perguntas sobre a doença.

O lúpus é contagioso?

lúpus

A ideia de que o lúpus é contagioso não passa de um mito. “O lúpus é uma doença autoimune, que se caracteriza por uma hiperestimulação do sistema imune que luta contra si próprio, ou seja, luta contra as células da pele, as células das articulações, as células do rim”, começa por explicar Helena Canhão, em declarações ao Viral.

Isto faz com que a doença cause “inflamação e destruição”. No entanto, assinala a especialista, “o lúpus não é contagioso e não é infeccioso”.

As causas da doença “estão muito relacionadas com o sistema imunitário” e “com o sistema endócrino”. Por isso, apesar de “poder aparecer em crianças e em pessoas mais velhas, o lúpus é mais frequente em mulheres jovens (entre os 20 e os 30 anos)”, aponta a médica.

A doença é hereditária?

lúpusO lúpus “não é hereditário”. Logo, o facto de alguém ter a doença “não quer dizer que um filho ou uma filha irão ter”, informa Helena Canhão.

A reumatologista salienta, contudo, que o lúpus “é mais frequente em doenças e em grupos de pessoas, sobretudo mulheres, com doenças autoimunes”.

Assim, exemplifica a especialista, “na mesma família pode haver uma mulher com artrite reumatóide, uma prima com lúpus, uma tia com uma tireoidite (inflamação da tiróide) e outra com uma hepatite autoimune”. 

PUB

Existem outras doenças com os mesmos sintomas que o lúpus?

lúpus

Sim, existem outras doenças com os mesmos sintomas que o lúpus. Isto porque “os sintomas do lúpus variam de indivíduo para indivíduo”, refere Helena Canhão. 

Até porque, reforça a especialista, nesta doença “o sistema imune luta contra o organismo e contra diversos órgãos, porque reconhece como estranhos partes do corpo que são nossas”.

Assim sendo, a gravidade dos sintomas “varia de acordo com a luta do corpo contra si próprio”. 

De modo geral, há sintomas “cutâneos (da pele), nas mucosas (como aftas) e nas articulações (com artralgias, dores nas articulações ou inflamação)”.

Noutros casos, “o que é mais marcado é a luta contra o rim”, pois o lúpus “manifesta-se com alterações da função e do funcionamento do rim, e pode levar mesmo a destruição da função do órgão”, sustenta. 

Noutro plano, alguns doentes têm problemas ao nível do coração (como pericardite). Além disso, é ainda “muito frequente a queda de cabelo, a anemia e a baixa de plaquetas”. 

Por último, “as pessoas com lúpus são sensíveis ao sol”, e isso, muitas vezes, pode causar “manchas na pele, nomeadamente na cara”.

Tendo em conta que os sintomas que variam de doente para doente e que podem afetar vários órgãos diferentes, existem outras doenças com sinais semelhantes. Por exemplo, a artrite reumatóide “também pode causar dores nas articulações”.

“Também há pessoas que têm inflamação no coração”, acrescenta. 

Assim sendo, conclui a médica, “é verdade que há outras doenças – infecciosas, oncológicas, linfomas – que, às vezes, na sua apresentação são muito semelhantes ao lúpus”. 

PUB

Contudo, pelo facto de as “manifestações não serem exatamente as mesmas e as análises também não” é possível distingui-las do lúpus.

Quem tem lúpus não pode engravidar? 

lúpus

Não é verdade que uma mulher com lúpus não pode ter filhos”, sublinha Helena Canhão. De facto, esta é uma doença “muito mais frequente em mulheres do que em homens” e é comum em “mulheres em idade fértil”.

Contudo, uma doente com lúpus não está impedida de engravidar. “O conselho que damos a uma mulher jovem com a doença é que só deve engravidar quando tiver a doença bem controlada”, clarifica a especialista.

Isto porque, por um lado, não é aconselhável que uma mulher engravide quando está “cheia de sintomas”, inclusive “agravamento do rim” e “com anticorpos que fazem coagular o sangue”.

Por outro lado, aponta, “há medicamentos usados para tratar o lúpus que não se pode usar durante a gravidez, porque fazem mal ao embrião, ao feto e, depois, ao bebé”.

Por isso, alerta Helena Canhão, tem de haver “uma vigilância muito apertada”, porque existem sempre alguns riscos. E, mesmo assim, as doentes com lúpus “podem estar muito bem durante toda a gravidez, mas depois podem piorar logo após a gravidez”.

Em alguns casos, “há maior risco de aborto até no segundo trimestre”, ou seja, “numa gravidez mais avançada”. Outras vezes, “é preciso induzir o parto mais cedo, porque a criança não cresce tão bem”, acrescenta.

O stress pode ativar ou reativar a doença?

lúpus

A resposta da médica é “sim”. Helena Canhão informa que “o lúpus está muito dependente das hormonas, da parte endocrinológica das mulheres e, também, dos neurotransmissores de períodos de stress”.

PUB

Assim, “em períodos de maior cansaço e stress, a doença pode ficar mais ativa”, já que “tudo isto influencia a sua atividade”. 

Depois, adianta, “o facto de a doença estar ativa também faz com que a pessoa responda pior ao stress”. Por isso, “há uma relação entre stress e ativação da doença e maior gravidade da doença”, frisa.

Os medicamentos para o lúpus deixam sempre a pessoa inchada?

lúpus

Não, nem todos os fármacos utilizados para tratar o lúpus deixam o doente mais inchado. “Habitualmente, os medicamentos que fazem inchar a cara são os corticóides, em dose alta”, justifica.

Esta medicação é usada, sobretudo, “quando há envolvimento de um órgão importante, como o rim, o cérebro ou o sistema nervoso central”.

Contudo, “dependendo da melhoria das pessoas”, geralmente, “diminuímos as doses”. Além disso, acrescenta, “há cada vez mais outros imunossupressores que são eficazes e não fazem inchar a cara”. 

Os corticóides também são, normalmente, evitados, porque “têm muitos efeitos secundários, aumentam o risco de infecção, com outros efeitos cardiovasculares a longo prazo”, defende.

Não existe cura para o lúpus?

lúpus

PUB

É verdade. Segundo a diretora da NMS, o tratamento consiste em “controlar o sistema imune e as manifestações da doença”. No entanto, “não curamos o lúpus” como “se trata uma infeção, com um antibiótico”. 

Pode haver um controlo da doença e ser só necessário administrar “medicação mínima” ou, “às vezes, até conseguimos parar a medicação”. Nesse sentido, a pessoa “pode viver uma vida perfeitamente normal durante o mesmo número de anos que a pessoa sem lúpus vive”, explica. 

Noutro plano, “também é verdade que pode haver crises muito graves”, como, por exemplo, um doente “precisar de hemodiálise”, haver a necessidade de fazer “um transplante renal”, “haver uma crise do sistema nervoso central” ou detetar-se “uma coagulação do sangue grave e mortal”.

Apesar dos riscos, Helena Canhão reforça a ideia de que “a doença é muito diferente de pessoa para pessoa”. Por isso, recomenda, “devemos diagnosticar precocemente” a doença e tratá-la.

A médica realça que “existem cada vez mais armas terapêuticas e, cada vez mais, o prognóstico da doença é bom e a vida do doente pode ser completamente normal”.

Categorias:

Doenças autoimunes

Etiquetas:

Lúpus | Reumatologia

10 Mai 2023 - 10:26

Partilhar:

PUB