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Cápsulas de berberina emagrecem mais do que a cirurgia bariátrica?

12 Jun 2024 - 08:30
falso

Cápsulas de berberina emagrecem mais do que a cirurgia bariátrica?

As cápsulas de berberina estão a ser promovidas no Tik Tok como um “ativo que emagrece mais do que a cirurgia bariátrica”.

Alega-se nestes vídeos que a toma de duas cápsulas por dia – antes do almoço e do jantar – “ajuda no emagrecimento”, “diminui a forma”, “reduz o colesterol” e é um “potente anti-inflamatório”.

Mas estas alegações têm fundamento? Confirma-se que as cápsulas de berberina emagrecem mais do que a cirurgia bariátrica? O que diz a ciência? Uma endocrinologista e uma nutricionista respondem a estas questões.

Tomar duas cápsulas de berberina por dia emagrece mais do que a cirurgia bariátrica?

A afirmação partilhada no TikTok é falsa. Não existe evidência científica que prove que a toma de duas cápsulas de berberina por dia emagrece mais do que a realização de uma cirurgia bariátrica.

“Equiparar um suplemento natural a um tratamento médico ou cirúrgico não é apenas desonesto, é promíscuo”, afirma Joana Menezes Nunes, especialista nas áreas de endocrinologia e nutrição.

Em declarações ao Viral, a especialista esclarece que a berberina é um “extrato vegetal de uma planta, não é um medicamento” e, por essa razão, “não está regulado pelas agências dos medicamentos” – no caso de Portugal pelo Infarmed e a Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla inglesa) – nem foi “sujeito a ensaios clínicos randomizados”.

Apesar de existirem alguns artigos que abordam os efeitos da berberina na redução de peso, estes estudos foram realizados em modelos animais e, por isso, não se pode concluir que os resultados em humanos seriam os mesmos.

No mesmo sentido, a nutricionista e professora auxiliar do Instituto Egas Moniz Filipa Vicente adianta que “nenhuma terapêutica de natureza farmacológica seria, à partida, comparável com a cirurgia”. 

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Filipa Vicente explica ainda que a intervenção cirúrgica bariátrica “tem efeitos físicos, fisiológicos e metabólicos por ação específica no espaço físico da ingestão, digestão e absorção de nutrientes”, acrescentando ser “compreensível que nenhuma cápsula se assemelhe a este processo”.

A nutricionista lembra que a obesidade é uma doença “multifatorial”, o que torna a terapêutica “complexa”. Também Joana Menezes Nunes sublinha que “a obesidade é uma doença”, sendo necessário encarar este problema “com a devida seriedade de uma doença crónica”.

“A obesidade não é um comportamento, não é uma vontade ou uma falta de vontade. Se continuarmos a achar que tratamos doenças com suplementos naturais, vamos no caminho errado”, remata.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2022, uma em cada oito pessoas no mundo vivia com obesidade. Existem 2,5 mil milhões de adultos com excesso de peso, dos quais 890 milhões são considerados obesos.

A obesidade na infância é também um problema que tem vindo a aumentar nas últimas três décadas: 390 milhões de crianças e adolescentes entre os cinco e os 19 anos vivem com excesso de peso, dos quais 160 milhões são obesos.

Ambas as especialistas consultadas pelo Viral desaconselham a utilização de suplementos sem aconselhamento e supervisão médica e lembram que estes produtos não são submetidos aos mesmos estudos, nem obedecem às mesmas normas aplicadas à produção de medicamentos. Por essa razão, existem efeitos desconhecidos, nomeadamente ao nível da interação medicamentosa. 

Joana Menezes Nunes refere ainda que a toma prolongada de suplementos pode “sobrecarregar o fígado e os rins” do paciente.

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Em suma: a toma de cápsulas de berberina não pode ser comparável à realização de uma cirurgia bariátrica, nem existem evidências robustas de que a berberina ajude a reduzir o peso corporal nos humanos.

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Alimentação

12 Jun 2024 - 08:30

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