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Alho cura o herpes labial?

24 Set 2023 - 11:21
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Alho cura o herpes labial?

Além do desconforto e dor que provoca, ter herpes labial pode afetar a autoestima por aparecer na zona da boca, uma região visível, e por criar crostas. Perante a lesão, as pessoas procuram “mil e uma” formas de a curar o mais rápido possível.

Pelas redes sociais, são muitas as “mezinhas” partilhadas para fazer face a esta situação. Uma delas consiste aplicar um dente de alho diretamente no herpes. 

Numa publicação no Facebook alega-se que colocar um “alho cru” no local do herpes é um “tiro certo”. O autor refere que “vai doer”, mas o problema “vai ficar sarado”.

O alho é apontado também numa receita de um remédio caseiro com cebola, alho e mel apresentada no Facebook, em que se refere que o alho é “antibacteriano e antifúngico”. 

O autor alega que este preparado tem um “alto poder curativo”, podendo curar “definitivamente diversas doenças”, como o herpes.

Noutra publicação, a autora, que tem herpes labial desde criança, considera que, depois de “muitas tentativas”, o alho foi o que apresentou “mais resultados”, tornando o aparecimento “mais ligeiro” e a recuperação “mais rápida”. Mas será que o alho cura mesmo o herpes labial?

É verdade que o alho cura o herpes labial?

alho herpes labial

Questionada sobre se o herpes labial pode ser curado com alho, Cândida Abreu, médica infecciologista e professora na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), é taxativa: “Não cura”.

Até porque, explica Saraiva da Cunha, infecciologista e professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, num artigo, o herpes não tem cura. É apenas possível fazer tratamento para “diminuir a frequência e aliviar os sintomas”.

Na mesma linha, Cândida Abreu acrescenta que o vírus fica “latente nos gânglios sensoriais ou trigémio”, podendo reativar e dar os episódios de herpes labial.

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A especialista sugere que o alho está associado ao tratamento do herpes por ser “antisséptico”, ou seja, por poder contribuir para “desinfetar a zona”. No entanto, a especialista salienta que o alho não é uma medicação.

O tratamento vai depender de cada caso. A docente da FMUP explica que há várias abordagens de tratamento em caso de herpes labial.

É o caso do “tratamento tópico” no início da lesão, por exemplo, com a utilização da pomada aciclovir, que pode ajudar a que a “lesão não progrida”, assim como a “evoluir mais depressa para a cicatrização”.

Outra hipótese apresentada pela médica é um “tratamento sistémico com comprimidos”, feito de forma “episódica” quando ocorre a lesão de herpes, ou de forma “preventiva”, em dose menor, se o herpes ocorrer com muita frequência e for incómodo ou incapacitante para a pessoa.

Mas o que é um herpes labial? O que o provoca?

Cândida Abreu destaca que o vírus herpes simples tipo 1 (VHS -1) é um vírus com “grande disseminação” nos adultos, que se desenvolve e “replica ativamente” na pele, no local onde aparecem as lesões. 

Após a “fase replicativa”, fica “latente nos gânglios sensoriais ou trigémio”, podendo reativar e dar os episódios de herpes labial, explica. 

Há situações que contribuem para o aparecimento de herpes: quando a pessoa tem uma “infeção, uma febre, uma fase de maior stress”, ou seja, condições que podem “alterar a resposta imune”.

Este tipo de herpes tem uma “elevada prevalência na população em geral”, é referido num artigo da Sociedade Portuguesa de Pediatria

Existe também outro tipo de vírus herpes, o VHS tipo 2 (VHS-2), que é um vírus que fica “latente no gânglios sagrados”, mas em que as lesões são “do mesmo tipo, vesiculosas e depois crostosas”, explica a professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Surgem, usualmente, na zona genital.

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Estas “lesões herpéticas” dão uma sensação “de adormecimento da área, muitas vezes de formigueiro ou picada e, às vezes, dor, que pode ser intensa”. Além da questão estética, provocam um mal estar, acrescenta a infecciologista.

A médica esclarece que, no caso do VHS-1, a transmissão resulta do contacto com lesões orais ou com saliva infetada, enquanto no VHS-2, a transmissão é, sobretudo, sexual. A informação é também referida nos “Protocolos de Diagnóstico e Terapêutica em Infecciologia Perinatal”.

O VHS-1, que causa o herpes labial, é comum nas crianças e jovens e deve-se ao contacto direto ou indireto com saliva infetada, indica Saraiva da Cunha, infecciologista e professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra,

O mesmo médico refere num artigo publicado no site do Hospital da Luz que se estima que cerca de 13% da população mundial com idades entre os 15 e os 49 anos esteja infetada pelo vírus simples 2. 

Além disso, é “frequente” em pacientes infetados pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), escreve-se num artigo da Sociedade Brasileira de Dermatologia. 

Em suma, é falso que o alho cure o herpes labial. Além de o herpes não ter cura, porque o vírus fica dormente nos gânglios nervosos, pode apenas ser feito tratamento para aliviar os sintomas e diminuir a frequência de episódios. 

Por outro lado, o alho pode ser associado a uma “mezinha” pelas suas componentes que podem ajudar a desinfetar a zona. No entanto, não é um “remédio”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

The sole responsibility for any content supported by the European Media and Information Fund lies with the author(s) and it may not necessarily reflect the positions of the EMIF and the Fund Partners, the Calouste Gulbenkian Foundation and the European University Institute.

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Categorias:

Infecciologia

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24 Set 2023 - 11:21

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