

Água de alho “cura a tensão alta”?
Corre nas redes sociais uma receita de “água de alho” que, supostamente, “cura a tensão alta”. A acompanhar a receita surgem alegações de que o alho tem “propriedades antioxidantes e protetoras dos vasos sanguíneos”. Será verdade?
A publicação que está a ser partilhada nas redes sociais apresenta uma receita e uma promessa: “A água de alho é uma excelente forma de regular a pressão arterial”.
No texto alegado que o alho “é um ótimo aliado” para a saúde, uma vez que contém “incríveis propriedades antioxidantes e protetoras dos vasos sanguíneos”.
De acordo com esta publicação, a “água de alho” pode ser ingerida de duas formas: ou um copo de 100ml “em jejum”, ou um litro “ao longo do dia”.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, a hipertensão é uma “condição médica séria que pode aumentar o risco de doença cardíaca, cerebral, renal ou outras”. É também “uma das maiores causas de morte prematura no mundo”.
É verdade que a água de alho “cura a tensão alta”?
Não existe evidência científica de que a água de alho tenha demonstrado efeitos na redução da tensão arterial em pessoas com hipertensão.
O alho tem vindo a ser estudado como um possível tratamento para casos de tensão arterial elevada, contudo, até ao momento, não existe consenso sobre os efeitos deste ingrediente nem se sabe quais os resultados a longo prazo.
Numa meta-análise conduzida por Ronald T. Ackermann, em 2001, é avançado que “os estudos clínicos sugerem a possibilidade de pequenos benefícios de curta duração do alho” em vários fatores.
No que toca à pressão arterial, os autores do estudo consideraram os efeitos “insignificantes”. Afirmam ainda que os estudos existentes à época eram de curta duração e não permitiam criar uma terapêutica que obtivesse resultados.
Numa revisão sistemática e meta-análise, publicada em 2008, Karin Ried e um grupo de investigadores analisaram vários estudos e concluíram que “a suplementação de alho exerce um efeito hipotensor comparado com [os grupos de] placebo”. Mais uma vez, os artigos observados baseavam-se apenas nos efeitos “a curto prazo” da administração de suplementos de alho.
Em 2016, Ried voltou a publicar uma meta-análise atualizada, em que se reforçava que “os suplementos de alho têm potencial para baixar a pressão arterial em indivíduos hipertensos”, entre outros benefícios.
As conclusões de Ried foram também validadas por um outro grupo de investigadores. Uma meta-análise de 2015 reforça que “a suplementação de alho levou a uma descida significativa de pressão arterial sistólica no grupo de hipertensos, mas não houve diminuição significativa no grupo de normotensos [pessoas com tensão dentro dos limites normais]”.
No entanto, “em relação à pressão arterial diastólica, não houve alterações significativas tanto no grupo de hipertensos como no de normotensos”.
O componente ativo do alho é a alicina, uma substância que, entre outros, apresenta “efeitos vasodilatadores e inibidores da angiotensina II”, e, por essa razão, “acredita-se que o alho seja eficaz no tratamento de hipertensão”.
Este ingrediente – que está muito presente na dieta mediterrânica – tem também “habilidades antibacterianas e antioxidantes”, avançam os investigadores.
É importante sublinhar que a maior parte dos estudos analisados nas meta-análises referidas incluíam a administração de uma dosagem de 600 a 900 mg de pó de alho por dia, o que representa potencialmente entre 3,6 e 5,4mg de alicina.
Ao analisar a receita da água com alho, não existe qualquer referência a doses nem se pode garantir que o componente ativo esteja presente na bebida final.
Alho como parte de uma alimentação variada
Paulo Santos, especialista em Medicina Geral e Familiar e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), lembra que o “alho faz bem, se for inserido numa alimentação variada”.
O médico destaca que este alimento, devido ao seu sabor forte, poderá ser usado como um substituto do sal – um ingrediente que, quando consumido em grandes quantidades, pode levar ao aumento da tensão arterial.
Analisando a receita da “água de alho”, o médico nega que esta bebida tenha efeitos práticos na redução da tensão arterial. No entanto, considera que a ingestão desta “água de alho” também “não constituirá um risco para a saúde”.
“O risco aparece se as pessoas deixarem de tomar os medicamentos para a tensão arterial”, alerta Paulo Santos, destacando ainda que existe, nas redes sociais, uma “falsa expectativa de que estas mezinhas possam substituir uma abordagem terapêutica”.
O médico sublinha que, além dos medicamentos, os pacientes com hipertensão podem obter resultados através de práticas higiénico-dietéticas, nomeadamente um “regime alimentar saudável e da prática de exercício físico”.
Em conclusão, não existe evidência científica de que a “água de alho” tenha efeitos na redução da tensão arterial.
A suplementação à base de alho, por outro lado, tem vindo a ser estudada como possível terapêutica para reduzir a tensão arterial em casos de hipertensão. No entanto, até ao momento, os estudos existentes focam-se apenas em efeitos a curto prazo e há poucas certezas sobre o assunto.
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