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Do TikTok para as pré-adolescentes: Os riscos da “skincare” desadequada à idade

1 Fev 2024 - 10:25

Do TikTok para as pré-adolescentes: Os riscos da “skincare” desadequada à idade

O melhor creme hidratante, o esfoliante mais eficaz ou a ordem “certa” para usar os produtos. Qualquer pergunta sobre skincare (cuidados de pele, em português) parece poder ser respondida com uma simples pesquisa por palavras-chave no TikTok.

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A procura por “retinol” dá origem a milhares de vídeos de criadores de conteúdo que – através de vídeos de “get ready with me” (“prepara-te comigo”, em português), “unboxings” (“desembalar” ou “tirar da caixa”), ou até promoções (pagas e não pagas) às marcas tendência da plataforma – recomendam e explicam como se usam os mais variados produtos. 

O hábito de comprar e avaliar produtos de skincare tornou-se de tal modo comum que ultrapassou barreiras de idade. É frequente encontrar-se na plataforma não só jovens adultos, mas também adolescentes e pré-adolescentes a testarem produtos de cuidados de pele. A tendência cresceu tanto que, sobretudo a nível internacional, crianças de 10, 11 e 12 anos passaram a ser clientes habituais de lojas de cosmética. 

Foi daí que surgiu o fenómeno “10-year-olds at Sephora” (“crianças de 10 anos na Sephora”, em português). Pré-adolescentes começaram a comprar cremes antirrugas, esfoliantes e até retinol, pela fama que os produtos têm no TikTok. Mas será a utilização destes cosméticos adequada a estas idades? 

Em declarações ao Viral, Leonor Ramos, dermatologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e responsável pela consulta de dermatologia pediátrica no Centro Pediátrico e Juvenil de Coimbra (CPJ), e Sara Fernandes, farmacêutica especializada em dermocosmética e autora do blog Make Down, esclarecem os riscos associados a uma rotina de skincare desadequada à idade.

Que produtos de “skincare” não devem ser utilizados por pré-adolescentes? Quais os riscos?

Sara Fernandes começa por explicar que a maioria dos produtos utilizados por estas crianças, “no fundo, não lhes acrescenta nada”. Na perspetiva da farmacêutica, “não faz sentido uma menina de 10 anos estar a usar produtos da Drunk Elephant, da Rare Beauty, ou da Glow Recipe [exemplos de marcas conhecidas no TikTok]”, porque a pele, nestas idades, não necessita destes cosméticos.

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No entanto, admite, é compreensível o fascínio que algumas crianças desta idade têm por estes produtos, visto que “são marcas com embalagens coloridas, divertidas e até um pouco infantilizadas”. 

No entanto, são produtos, por norma, muito caros. Além disso, alguns deles, quando usados de forma desadequada, podem causar alergias ou irritações. Sara Fernandes e Leonor Ramos apontam alguns produtos que não devem ser incluídos em rotinas de cuidados de pele de pré-adolescentes.

  • Retinol 

O retinol é o protagonista dos produtos de cuidados de pele, quando se fala de antienvelhecimento. No entanto, avisa Leonor Ramos, este tipo de produto “é bastante agressivo, tem de ser utilizado numa quantidade mínima” e de forma doseada.

Se não forem tidos os cuidados necessários na aplicação de retinol, podem ocorrer “dermatites irritativas e fotossensibilidade – ou seja, o aumento de risco de queimaduras solares”, alerta a dermatologista.

Por isso, o retinol “não é algo que se deva utilizar de uma forma não prescrita, sobretudo numa criança de 10 anos”. 

Além de ser potencialmente prejudicial, neste caso, “é um gasto de dinheiro desnecessário”. Isto porque o retinol “acelera a descamação e retira as camadas de células mortas”, explica a médica.

Numa pele jovem, em que a “proliferação ainda é completamente normal e não há manchas”, não há necessidade de usar estes produtos, porque “não vamos apagar rídulas, nem manchas, que nem sequer existem”, sustenta. 

  • Esfoliantes

Sara Fernandes adianta que alguns esfoliantes são “moléculas com um potencial irritativo elevado”, sendo necessário “saber usá-las”. Além disso, destaca, um pré-adolescente que, à partida, tem uma pele saudável, “não tem nada para esfoliar”.

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Assim, ao utilizar estes produtos, “pode estar a causar disrupções da barreira cutânea e até a causar ou precipitar algum problema de pele, quando não havia necessidade”, justifica a farmacêutica.

No fundo, acrescenta Leonor Ramos, certos esfoliantes “vão estar a causar uma inflamação e uma irritação da pele bastante incómoda, com prurido e dor”.

  • Cremes antirrugas

Sara Fernandes explica que os chamados “cremes antirrugas” são sobretudo compostos por elevados níveis de “ácido hialurónico”. Este composto “traz água à pele”, ou seja, “tem uma ação hidratante”.

O efeito proporcionado por estes produtos é mais benéfico “numa idade mais avançada”, porque  “a tendência é ficarmos com a pele mais seca” ao longo dos anos. 

Apesar de estes cremes, em princípio, por si só, “não prejudicarem a pele destas crianças”, utilizá-los na pele de um pré-adolescente “é como lançarmos uma bomba atómica para cima de uma formiga”, brinca a especialista.

Segundo a farmacêutica, a hidratação é importante e necessária em qualquer idade. Mas, na pré-adolescência, “não é preciso um creme com todos aqueles ingredientes”. 

  • Produtos com perfume

Sara Fernandes também recomenda que os “produtos com perfume” fiquem fora da rotina de skincare de um pré-adolescente. Isto porque, “nestas idades, a barreira cutânea é muito mais suscetível e há o risco de reações adversas ou alérgicas”.

  • Utilizar produtos em excesso

Em declarações anteriores para um artigo do Viral sobre mitos relacionados com “skincare”, Sara Fernandes já tinha explicado que, “quanto mais produtos a pessoa colocar e menos souber do assunto, maior a probabilidade de incorrer em irritações cutâneas ou reações adversas a alguns cosméticos”.

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No mesmo sentido, Leonor Ramos dá o exemplo comum da utilização conjunta de produtos com vitamina C e vitamina A. “Essa sobreposição de produtos, muitas vezes, além de não ser vantajosa, pode ser mesmo irritativa, e até acaba por ser contraproducente”, aponta.

No mesmo sentido, Sara Fernandes expôs uma situação hipotética: “Usamos um gel de lavagem que tem, por exemplo, 3% de niacinamida [vitamina B3]. A seguir, usamos um sérum com 4% de niacinamida. Depois, ainda aplicamos um creme hidratante que tem 8% do mesmo componente e, por fim, aplicamos um protetor solar que também tem uma pequena percentagem deste ingrediente”. 

Neste caso, sustenta, “estamos a dar muito mais daquele ingrediente do que a nossa pele necessita. Assim, em vez de termos os benefícios, vamos ter possivelmente uma irritação cutânea”. 

O que é uma rotina de skincare adequada para um pré-adolescente?

As duas especialistas consultadas pelo Viral concordam que, por norma, a rotina de cuidados de pele que uma criança de 10 ou 12 anos deve ter consiste em fazer uma limpeza suave do rosto, aplicar um creme hidratante e um protetor solar.

Leonor Ramos frisa a importância da utilização de protetor solar que considera ser “o melhor antienvelhecimento, que pode começar a ser usado desde sempre”.

Estes são os cuidados a ter no contexto de uma pele jovem não patológica. Contudo, por exemplo, há crianças que “começam a desenvolver acne aos 10 anos”, salienta Sara Fernandes.

Nesse caso, prossegue, “não se deve adiar o tratamento só porque elas têm 10 anos, pois isso pode ter repercussões psicológicas muito graves”.

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Portanto, em casos específicos, pode haver a necessidade de consultar “um dermatologista, para iniciar uma terapêutica mais específica para essa idade”.

Verificando-se a presença de acne numa criança de 10 anos, acrescenta Leonor Ramos, pode ser importante utilizar “produtos que não sejam comedogénicos” – ou seja, que não causem obstrução dos poros -, “que não hidratam demasiado” e “regulam o sebo”.

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Quando é necessário acrescentar produtos à rotina de cuidados de pele?

Sara Fernandes e Leonor Ramos estão, mais uma vez, de acordo: deve-se acrescentar produtos de acordo com a necessidade de cada um. 

Por isso, defende Sara Fernandes, é importante os pais manterem-se atentos à pele das crianças e verem se há alguma alteração”. 

“Se houver uma alteração patológica, deve-se procurar um dermatologista, seja qual for a idade”, acrescenta.

Na visão da farmacêutica, “as pessoas não se devem retrair de usar cosméticos, porque não o fazer também pode ter um impacto psicológico muito grande no desenvolvimento da criança e do adolescente”. 

Por norma, refere Leonor Ramos, “a partir dos 25/30 anos, recomendam-se alguns cremes com vitamina C, para dar alguma luminosidade”.

No decorrer da idade, surgem as rugas, a pele fica mais flácida e mais seca. Nesse contexto, os hidratantes mais ricos e compostos são mais benéficos, tendo sempre em conta o tipo de pele da pessoa e as suas necessidades.

1 Fev 2024 - 10:25

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