Chá de erva-cidreira reduz o risco de Alzheimer?
Há várias mezinhas supostamente eficazes a tratar todo o tipo de doenças. Algumas passam de geração em geração, outras circulam online. Desta vez, no Facebook, alega-se que o chá de erva-cidreira reduz o risco de Alzheimer.
Um utilizador que se apresenta como especialista em Medicina Oriental refere que a erva-cidreira tem benefícios para a saúde, especialmente para a doença de Alzheimer. O autor do vídeo defende que um estudo que envolveu 42 pessoas mostrou que, quatro meses depois, as pessoas que tomaram esta infusão “baixaram para 18/20”, ou seja, “melhoraram muito”.
Noutra publicação, é dito que os antioxidantes da erva-cidreira renovam as células e, com o “organismo livre de substâncias nocivas”, reduzem “problemas degenerativos, como o Alzheimer”. Mas esta informação é verdadeira?
É verdade que o chá de erva-cidreira reduz o risco de Alzheimer?
Em declarações ao Viral, Filipe Palavra, neurologista e vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia, adianta que “não há evidência científica absolutamente nenhuma” de que o chá de erva-cidreira reduz o risco de Alzheimer.
“Não podíamos ser mais claros. É um mito”, assinala.
O neurologista diz desconhecer qualquer “princípio fármaco-ativo” do chá de Melissa officinalis, nome científico da erva-cidreira.
Se esse chá reduzisse o risco de Alzheimer, os neurologistas “já tinham encontrado uma parte importante do tratamento” da doença, o que diz não ser o caso.
A erva-cidreira pode ter sido associada a esta doença por uma “questão estatística”, uma vez que a ingestão deste chá é muito “recorrente”, assim como o aparecimento de Alzheimer, aponta.
No entanto, o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia salienta que a associação entre duas coisas “extremamente frequentes” é “diferente de haver causalidade”.
Filipe Palavra lamenta que ainda não haja “tratamentos ou fármacos muito eficazes” para a doença, embora haja estudos “modestos, mas interessantes” nesse sentido.
A associação Alzheimer Portugal refere no seu site que existe um “reduzido” número de estudos epidemiológicos publicados sobre esta demência.
O que é a doença de Alzheimer?
A doença de Alzheimer é a “forma mais comum de demência”, que representa entre 50% a 70% dos casos, informa a Alzheimer Portugal. Já um artigo de revisão sobre o tratamento farmacológico do Alzheimer, da Sociedade Portuguesa de Neurologia, diz que esta doença “multifatorial” é uma das principais causas de incapacidade nos idosos.
Filipe Palavra explica que o Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que se traduz na “morte de neurónios de algumas zonas específicas” do cérebro, como a zona da memória.
A Alzheimer Portugal acrescenta que a doença provoca a “deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas”, com alterações no comportamento e personalidade e dificultando atividades da vida diária.
A doença de Alzheimer é “irreversível” e a velocidade a que afeta o doente “varia de pessoa para pessoa”, indica o médico consultado pelo Viral.
Qualquer pessoa pode desenvolver a doença, mas é mais comum em pessoas com mais de 65 anos. Inicialmente, os sintomas podem ser “muito subtis”, com lapsos de memória e dificuldade em encontrar as palavras certas, mas agravam-se à medida que as “células cerebrais vão morrendo”, informa a Alzheimer Portugal.
“O aparecimento de tranças fibrilhares e placas senis impossibilitam a comunicação entre as células nervosas, o que provoca alterações ao nível do funcionamento global da pessoa”, esclarece a mesma associação.
Há uma “convicção” de que atrás da doença haja uma “acumulação de proteínas animais”, como se houvesse uma “acumulação de lixo proteico”, diz o neurologista Filipe Palavra, acrescentando que há uma incapacidade de “remover estas estruturas”.
Já no artigo de revisão sobre o tratamento farmacológico do Alzheimer, publicado em 2014, os autores admitem que as doenças complexas como o Alzheimer podem precisar de “abordagens direcionadas e múltiplas vertentes do metabolismo e da neurotransmissão”.
Em 2018, diz a Alzheimer Portugal, estima-se que havia cerca de 50 milhões de pessoas com demência em todo o mundo. No entanto, o número pode duplicar a cada 20 anos.
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