Circulam online vários artigos em que se alega que a ingestão de menta ou de mentol – dois sabores que derivam da planta hortelã – está associada a uma redução dos níveis de testosterona, uma hormona com um papel fundamental no sistema reprodutor masculino, responsável, por exemplo, pela produção de espermatozóides.

Apesar de esta hormona estar associada à masculinidade, também as mulheres a produzem nos ovários, embora em níveis consideravelmente inferiores.

Mas há evidência científica que sustente que a ingestão de menta reduz os níveis de testosterona? Ingerir menta faz mal aos homens? Um especialista em endocrinologista explica ao Viral o que se sabe atualmente sobre este assunto.

Ingerir menta reduz a testosterona nos homens?

Existem alguns estudos sobre o impacto de determinados tipos de hortelã nos níveis de testosterona, mas nenhum foi realizado em humanos do sexo masculino.  Por isso, “à luz da evidência que temos atualmente, essa afirmação não é verdade”, afirma Francisco Sousa Santos, endocrinologista e autor da página Hormonas em Bom Português.

Em declarações ao Viral, o endocrinologista explica que esta alegação terá origem “em alguma evidência existente em modelos animais”, mas lembra que as conclusões em ratinhos não podem ser transpostas para humanos. Ou seja, não se pode concluir diretamente que o efeito que um determinado alimento ou medicamento teve em animais será o mesmo nos humanos.

Um estudo, publicado em 2004, analisou o impacto da ingestão de chá de vários tipos de hortelã, com diferentes concentrações, na produção de testosterona e na maturação do sistema reprodutor de ratinhos. As conclusões apontam para uma redução da testosterona e um aumento das hormonas LH e FSH – responsáveis por potenciar a produção de testosterona. 

O especialista em endocrinologista destaca que a alteração encontrada “não era grande” e que também não foi identificada uma diferença na produção de espermatozóides – um dos propósitos da testosterona no organismo masculino.

“Há duas grandes críticas a este artigo: por um lado, é um modelo animal, ou seja, não pode ser extrapolado; por outro, as doses aplicadas de hortelã eram proporcionalmente superiores às que os humanos consomem, seja sob a forma de chá ou de outra maneira”, acrescenta Francisco Sousa Santos.

Existem ainda estudos sobre a utilização de chá de hortelã no tratamento dos efeitos andrógenos nas mulheres associados à síndrome dos ovários poliquísticos – uma condição que leva à produção exagerada de testosterona em indivíduos do sexo feminino e ao aumento da produção de pelos corporais (hirsutismo). 

Em 2010, foi realizado um ensaio clínico em 42 mulheres diagnosticadas com síndrome dos ovários poliquísticos. O grupo de estudo bebeu chá de hortelã-pimenta duas vezes por dia, enquanto o grupo de controlo bebeu um chá de placebo. O objetivo desta investigação era perceber se o chá de hortelã-pimenta poderia diminuir os sinais de hirsutismo.

No final do ensaio clínico randomizado, os níveis de testosterona das mulheres que beberam chá de hortelã-pimenta era inferior e o nível das hormonas LH e FSH aumentou. No entanto, não foi verificada uma redução significativa na classificação de hirsutismo.

Francisco Sousa Santos explica, contudo, que estes resultados obtidos em mulheres com síndrome dos ovários poliquísticos não podem ser transferidos para os homens, uma vez que “os mecanismos não são comparáveis”.

“Não é tão grave como comparar com os resultados obtidos em ratinhos, mas não podemos extrapolar, porque o eixo hormonal é diferente entre homens e mulheres”, afirma o especialista.

Em suma, à luz da evidência atual não existem provas científicas de que a menta ou o mentol diminui os níveis de testosterona em homens. Os estudos que existem foram realizados em ratos ou em mulheres com síndrome dos ovários poliquísticos e, por isso, não podem ser transpostos para homens.