“Shot” de azeite, limão e canela desintoxica o fígado?
Circula no TikTok uma receita que promete desintoxicar o fígado. Segundo alguns criadores de conteúdo, beber uma mistura de azeite, limão e canela, todos os dias, faz um “detox” a este órgão. Mas será esta espécie de “shot” eficaz? Há alguma evidência científica por trás desta mezinha?
Mistura de azeite, limão e canela desintoxica o fígado?
Em esclarecimentos ao Viral, Rosa Vilares, nutricionista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), adianta que não existe evidência científica que comprove a eficácia desta mistura na desintoxicação do fígado.
Aliás, Filipe Nery, hepatologista e diretor-clínico da Clínica do Fígado, já tinha explicado ao Viral, em declarações anteriores, que “não existem” produtos naturais que “limpam e desintoxicam” o fígado.
De facto, refere Rosa Vilares, há alimentos muito interessantes que podem promover uma “desinflamação” e uma “desintoxicação”, mas têm de ser sempre inseridos “numa alimentação completa”, pois ingeri-los de forma “isolada” não vai ter os efeitos pretendidos.
Apesar de o azeite, o limão e a canela serem alimentos interessantes para a saúde, não promovem essa “desintoxicação” do fígado, acrescenta a nutricionista.
“O azeite, por exemplo, quando misturado com tomate, faz elevar o licopeno, que é muito relevante no caso da próstata e dos olhos”, aponta. Por outro lado, “a canela, realmente, pode ter um efeito protetor para o estômago”, acrescenta.
Já o limão “tem muita vitamina C”, o que é uma vantagem. Porém, frisa a nutricionista, sabe-se que “o limão, quando ingerido com determinados medicamentos”, pode impedir que estes sejam absorvidos.
Como manter o fígado saudável?
Tal como esclareceu anteriormente ao Viral Inês Pádua, coordenadora da Licenciatura em Ciências da Nutrição da CESPU, o fígado, tal como outros órgãos que pertencem ao sistema gastrointestinal, desempenha “um papel na eliminação de substâncias tóxicas”.
A nutricionista salientava, na altura, que este processo, “ocorre fisiologicamente”.
Isto é, “de uma forma genérica, este processo de “detox” tem como objetivo reduzir a toxicidade de substâncias indesejáveis a que somos expostos, tornando-as solúveis em água e como tal passíveis de serem eliminadas através da urina, das fezes e também da bílis”, acrescentava.
Não é possível aplicar uma solução única para desintoxicar o fígado, já que este órgão faz isso sozinho, se tiver as condições adequadas.
De acordo com um texto da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) assinado por José Presa, presidente da APEF, “um caso de inflamação ou lesão, pode comprometer as funções do fígado e originar diversas complicações a curto ou a longo prazo”, como a “hepatite C”.
Portanto, “o primeiro passo para o combate a estas doenças começa na prevenção”. Tanto na prevenção como no tratamento de patologias do órgão, como o fígado gordo, são adotadas estratégias semelhantes.
Rosa Vilares assinala que, para se manter um fígado saudável, é necessário ter uma alimentação variada, saudável e equilibrada.
Além disso, destaca, “limitar o sal e o açúcar é fundamental”. A nutricionista sugere que se evite os “produtos em conserva”, característicos pelo seu elevado teor em sal e/ou açúcar.
Além disso, em declarações prestadas anteriormente ao Viral, Inês Pádua referia a importância de “reduzir a exposição a substâncias tóxicas”, tais como “bebidas alcoólicas, consumo de partes de alimentos chamuscadas, hábitos tabágicos e uso não prescrito de medicamentos”.
Rosa Vilares realça ainda o impacto que “os ambientes poluídos” têm na danificação do fígado. “Não é por acaso que as pessoas que trabalham com produtos tóxicos têm mais doenças”, exemplifica.
Para mais, “praticar exercício físico” de forma regular também é favorável, tanto para preservar a saúde do fígado, como para melhorá-la.
Por fim, como se explica num texto publicado no site da Escola de Saúde Pública de Harvard, a “perda de peso gradual”, “entre 7% e 10% do peso corporal”, “parece diminuir a quantidade de inflamação e lesão das células do fígado, e pode até reverter alguns dos danos da fibrose”.
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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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