A medicina tradicional chinesa tem várias formas de terapêutica, sendo a acupuntura uma das mais conhecidas e procuradas. Alguns pacientes procuram nestes tratamentos formas de curar doenças, tais como rinite alérgica, asma e enxaquecas. Mas será que existem provas científicas de que a acupuntura cura estas doenças?

A acupuntura é um tratamento muito polémico entre a comunidade científica e que tem vindo a ser estudado ao longo dos últimos anos para se verificar se é ou não uma mais-valia para o tratamento dos pacientes. A Cochrane, uma das mais prestigiadas organizações de investigação, tem publicado revisões sistemáticas sobre o efeito da acupuntura no tratamento de diversas doenças, entre as quais asma, rinite alérgica e enxaquecas.

No caso da asma, a Cochrane publicou, em 2003, uma revisão sobre o impacto da acupuntura na asma crónica e concluiu que “não existe evidência suficiente para recomendar o valor da acupuntura no tratamento da asma”. Neste trabalho foram analisados 12 estudos científicos que contavam com 350 participantes, mas os investigadores da Cochrane recomendam a realização de mais estudos.

“Não existe evidência suficiente para recomendar o valor da acupuntura no tratamento da asma”.

Para a rinite alérgica foram também publicadas revisões sistemática de estudos que indicam não haver provas de que a acupuntura tem ou não efeito no tratamento desta doença. Num artigo publicado em 2008, no “PubMed”, a conclusão dos investigadores é que “atualmente existe evidência insuficiente para apoiar ou recusar o uso de acupuntura em pacientes com rinite alérgica”. Noutra revisão sistemática, publicada em 2009, na mesma revista, é concluído que “a evidência de efetividade da acupuntura no tratamento de sintomas ou prevenção de rinite alérgica é mista”.

É importante dizer que nem para a asma, nem para a rinite alérgica se fala de cura da doença nestas revisões sistemáticas. A análise dos estudos tem como objetivo identificar o impacto desta terapêutica não-convencional no alívio dos sintomas.

“Atualmente existe evidência insuficiente para apoiar ou recusar o uso de acupuntura em pacientes com rinite alérgica”.

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Esta questão poderá ter tido origem no relatório “Acupuntura: Revisão e Análise dos Estudos de Ensaios Clínicos Controlados”, publicado pela Organização Mundial de Saúde onde eram incluídas cerca de 90 doenças para as quais acupuntura era indicada. Nessa lista constava a bronquite asmática e a rinite alérgica. No entanto, este documento foi retirado em março de 2014, devido ao aparecimento de evidência científica substancial que contradizia a OMS.

Sobre as enxaquecas, a Cochrane apresenta uma revisão sistemática, com data de publicação em 2016, onde conclui que a utilização de acupuntura real apresentou uma redução ligeiramente maior do número de dias em que o paciente sofre de dores de cabeça, do que no caso dos grupos submetidos a falsas sessões de acupuntura (a chamada “scam acupulcture”).  “Se a pessoa tiver seis dias com enxaquecas por mês, em média, antes de começar o tratamento, este poderá ser reduzido para cinco dias em pessoas que receberam apenas o tratamento usual, para quatro dias naqueles que receberam acupuntura falsa ou uma droga profilática e três e meio para os que receberam acupuntura real”, pode ler-se.

O uso de acupuntura para o alívio de enxaquecas é identificado por entidades, como é o caso do Centro Norte-americano para Saúde Complementar e Integrativa e do serviço nacional de Saúde do Reino Unido. Além das enxaquecas e cefaleias, é também indicada como tendo benefícios para as dores de costas, pescoço, joelhos ou osteoartrite, dor de dentes e dor pós-operatória.

No entanto, esse efeito não é consensual. Num artigo intitulado “Continua a haver lugar para a acupuntura na prática de medicina do século XXI?”, a organização australiana Friends of Science in Medicine faz um resumo da literatura científica sobre o tema e afirma que “depois dos estudos clínicos, a acupuntura não mostrou claramente ser efetiva para nenhuma indicação”. “Em resumo é mais razoável sugerir que a acupuntura não funciona, sendo mais um ‘placebo teatral’”, pode ainda ler-se no documento.

“É agora unânime que os benefícios, se é que os há, da acupuntura como analgésico são demasiado pequenos para serem úteis para os pacientes”.

Também um artigo publicado revista científica “Anesthesia&Analgesia”, em 2013, dedicada à área médica de anestesiologia, é dito que não existe uma diferença significativa nos resultados médicos entre doentes que realizaram acupuntura e os grupos de controlo – que foram sujeitos “scam acupulcture”. “É agora unânime que os benefícios, se é que os há, da acupuntura como analgésico são demasiado pequenos para serem úteis para os pacientes”, pode ainda ler-se.

Apesar de ser um assunto polémico, é possível afirmar que a acupuntura não cura asma, rinite alérgica ou enxaquecas. No caso das enxaquecas, existem dúvidas sobre o impacto que este tratamento não-convencional tem no alívio dos sintomas: há estudos que indicam que a acupuntura não apresenta um efeito significativo e outros que alegam que este tratamento pode ser um complemento à medicina ocidental.

É importante referir que a prática de terapêuticas não-convencionais – na qual se inclui a acupuntura – é legislada em Portugal e, antes de qualquer tratamento, deverá confirmar que os terapeutas têm cédula profissional.