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Com HPV há 11 anos, Cláudia alerta: “Façam o rastreio”

4 Mar 2024 - 09:44

Com HPV há 11 anos, Cláudia alerta: “Façam o rastreio”

Passaram 11 anos desde que Cláudia foi diagnosticada com o Vírus do Papiloma Humano (HPV), uma doença sexualmente transmissível que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

Tinha uma verruga na vulva, perto do clitóris. A biópsia revelava VIN vulvar de alto grau, uma doença rara cuja maioria dos casos estão associados à infeção por HPV.

Anos mais tarde, foi diagnosticada com um dos vírus mais perigosos. Vários tratamentos e cirurgias depois e com uma doença autoimune, ainda não se “viu livre” do HPV e diz sentir-se “cansada da luta”.

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A história de Cláudia

Quando foi diagnosticada, em 2013, Cláudia estava assustada e pouco sabia sobre a doença. Foi com a família que procurou informação sobre o HPV. 

Os anos foram passando, as citologias e a colposcopia “estavam normais”, mas as lesões na vulva eram reincidentes.

Fez vários tratamentos com aldara imiquimod, que, de acordo com a Comissão Europeia, é um creme indicado para verrugas genitais externas e perianais em adultos. No entanto, sem sucesso.

claudia hpv

Cláudia foi operada pela segunda vez em maio de 2022. O momento mais assustador tinha chegado: passou a ter “um dos mais perigosos positivos”, o HPV 16.

Sentiu medo e procurou um médico “muito conceituado” da área. Pedro Vieira Batista, especialista em Ginecologia e Obstetrícia, voltou a apostar no tratamento imunomodulador, o aldara imiquimod, mas o desfecho foi o mesmo: sem sucesso.

A anuscopia, um exame ao ânus, de alta resolução diagnosticou uma “lesão de alto grau”. Já o colo do útero nunca apresentou lesões, mas tem inflamação.

Viver com o vírus é “bastante assustador”, sobretudo no início, descreve. Casada há 20 anos e com dois filhos, usa preservativo nas relações sexuais e tem de ter acompanhamento médico regular.

Ao Viral, salienta o apoio “incansável” da ginecologista Helena Lopes, o seu “braço direito” na luta contra o HPV. No Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra é acompanhada pela médica Fernanda Santos. “Todos eles são médicos de excelência e enormes seres humanos”, realça.

Em breve, Cláudia vai fazer uma intervenção com “Árgon Plasma” e será operada de novo à vulva.

“As cirurgias à vulva, vaporização a laser e excisão em certas áreas têm uma recuperação horrível”, descreve.

Onze anos depois do diagnóstico, em que dois anos são de “positivo HPV 16”, Cláudia sente-se “cansada da luta”. Tem danos estéticos, mas diz não se deixar afetar psicologicamente. Afinal, refere, é casada há 20 anos e já tem dois filhos. “O estético é o menos”, refere.

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Foi-lhe proposto uma cirurgia plástica, a vulvectomia parcial. No entanto, para já, e por ter apenas 44 anos, pondera-se uma nova cirurgia com laser e excisão de forma.

Às mulheres que tenham sido diagnosticadas recentemente com o Vírus do Papiloma Humano, Cláudia deixa um conselho: fiquem tranquilas.

“A maioria da população é portadora do vírus e não sabe. Aliás, muitas vezes o próprio organismo combate o vírus”,aponta.

Cláudia tem psoríase, uma doença autoimune, e acredita ser essa a razão para o organismo não conseguir eliminar o HPV.

“É surreal como o HPV é um vírus tão desconhecido, como tanta gente nunca ouviu sequer falar. Façam sempre os exames de rastreio e sigam os protocolos à risca”, recomenda.

HPV: o que é e como se transmite?

O Vírus do Papiloma Humano, conhecido como HPV, é responsável pela infeção viral sexualmente transmissível mais comum, refere Patrícia Isidro Amaral, assistente hospitalar de Ginecologia-Obstetrícia.

Transmite-se durante a atividade sexual, com ou sem penetração, através do contacto com a pele e mucosas. O preservativo pode ajudar a proteger, contudo, diz a médica, “não oferece uma proteção completa”, uma vez que não cobre totalmente a zona genital.

Segundo a Associação para o Planeamento da Família (APF), o HPV atinge tanto homens como mulheres, e é transmitido, sobretudo, na adolescência.

Há cerca de 50 serotipos de HPV transmitidos sexualmente. Dividem-se em “alto risco” e “baixo risco”. Os de alto risco incluem os 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58”, cujos tipos 16 e 18 são responsáveis por cerca de 75% das lesões malignas genitais. Os de baixo risco incluem os 6 e 11, responsáveis pela maioria das doenças benignas.

A maioria das infeções resolve-se “espontaneamente, sem qualquer sequela”, acrescenta a médica. 

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Isidro Amaral explica que “quase todas as pessoas” sexualmente ativas terão contacto com o HPV em alguma fase da vida”. A Liga Portuguesa Contra o Cancro estima que 75% a 80% das pessoas tenham contacto com o vírus.

No entanto, a médica esclarece que a infeção persistente a HPV de “alto risco” tem, como o nome indica, “maior risco” de evolução para lesões. Ou seja, pode condicionar “alterações celulares”, que poderão “evoluir para lesões pré-malignas” e que, se não forem tratadas, poderão evoluir para malignas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, o cancro do colo do útero é o quarto mais comum nas mulheres em todo o mundo. Só em 2020, foram diagnosticados 604 mil novos casos e 342 mil mortes, sendo que 90% ocorreram em regiões pobres, sem acesso à vacinação nem a rastreio.

Vírus do Papiloma Humano: a prevenção e as consequências

A prevenção primária do HPV é a vacinação, que está incluída no Plano Nacional de Vacinação. A vacina é dividida em duas doses, e podem tomá-la tanto raparigas como rapazes, a partir dos 10 anos, esclarece Patrícia Isidro Amaral.

De acordo com a APF, a vacina protege contra 9 tipos de HPV de alto e baixo risco: 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58.

A médica ginecologista consultada pelo Viral refere que a vacinação também pode ser realizada mais tarde, mesmo em pessoas que já tiveram lesões causadas por HPV.

Evitar o tabagismo também é uma medida preventiva importante, sinaliza a médica.

Por outro lado, por ser um vírus “tão prevalente”, é importante manter um “sistema imunitário forte”.

As pessoas com sistema imunitário comprometido podem ter “maior risco de infeção persistente” e, consequentemente, lesões pré-malignas que evoluam para cancros como do colo do útero, vulva, vagina, ânus, pénis, orofaringe, cabeça e pescoço.

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Por norma, é uma infeção assintomática e, por isso, o rastreio é “muito importante”, mesmo em mulheres vacinadas contra o HPV, destaca.

De acordo com a mesma especialista, os tipos 6 e 11 de HPV associam-se habitualmente a “condilomas genitais” – lesões cutâneas – enquanto os tipos 16 e 18 a “infeções persistentes”.

A assistente hospitalar de Ginecologia-Obstetrícia explica que não existe tratamento dirigido ao HPV. Os tratamentos são “para as lesões provocadas pelo vírus”, nomeadamente os condilomas genitais, as lesões pré-malignas e as lesões malignas.

“É importante também manter um estilo de vida saudável, evitar o tabagismo, o stress e, se possível, fazer a vacina”, refere.

A presença de outra infeção sexualmente transmissível torna “mais difícil” a eliminação do HPV pelo organismo e o tratamento das lesões, informa a APF.

4 Mar 2024 - 09:44

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