O papilomavírus humano (HPV) é um vírus de DNA, responsável pela infeção sexualmente transmissível mais frequente no mundo. Na sua história natural, a infeção por HPV pode associar-se a doenças benignas, mas potencialmente recidivantes e indutoras de má qualidade de vida e ansiedade, tais como verrugas da orofaringe e condilomas anogenitais; bem como a patologia maligna. Na verdade, o HPV é um carcinogéneo humano, sendo reconhecido como etiologia de cerca de 5% de todos os cancros (mais do que o tabaco): quase todos (99,7%) os casos de cancro do colo do útero, 70% dos cancros da vagina e 40% da vulva, 47% dos cancros do pénis, 90% dos cancros anais, até 72% dos cancros da orofaringe e 10% dos cancros da laringe.
Desde a primeira publicação de Harald zur Hausen, em 1985, sobre o HPV, longo tem sido o caminho do conhecimento científico e avanços no combate ao HPV. O desenvolvimento de vacinas profiláticas recombinantes contra o HPV revelou-se uma estratégia de prevenção primária eficaz, custo-efetiva e segura, com múltiplos estudos a demonstrarem taxas de seroconversão de 97 a 100% da população vacinada e um claro impacto na redução da carga de doença associada ao HPV. De facto, a vacina nonavalente apresenta potencial para prevenir 89% dos cancros associados ao HPV e 82% das lesões pré-cancerosas do colo do útero, vulva, vagina e ânus. De referir, também, a eficácia das vacinas contra o HPV na prevenção da reativação e reinfeção pelos genótipos presentes na vacina.
Apesar destes resultados, as doenças associadas ao HPV mantêm-se um importante problema de saúde pública. É disto exemplo o cancro do colo do útero. Globalmente, é o 4º cancro mais comum entre as mulheres, e a segunda causa de morte em mulheres com menos de 44 anos, morrendo 260.000 mulheres por cancro cervical invasivo anualmente, com uma incidência superior em fumadoras, imunodeprimidas e transplantadas. De igual forma, o HPV é responsável por 284.000 a 540.000 novas lesões pré-cancerosas anogenitais por ano. Em Portugal, anualmente, estima-se que 865 mulheres são diagnosticadas com cancro do colo do útero e 379 morram, sendo o 3º cancro mais frequente nas mulheres entre os 15 e 44 anos (ICO/IARC, outubro 2021).
Apesar destes resultados, as doenças associadas ao HPV mantêm-se um importante problema de saúde pública. É disto exemplo o cancro do colo do útero. Globalmente, é o 4º cancro mais comum entre as mulheres, e a segunda causa de morte em mulheres com menos de 44 anos, morrendo 260.000 mulheres por cancro cervical invasivo anualmente, com uma incidência superior em fumadoras, imunodeprimidas e transplantadas.
E o que torna o colo do útero tão suscetível à infeção por HPV? A existência da zona de transformação e o processo de metaplasia escamosa que nele ocorre. O HPV infeta os queratinócitos basais, aos quais acede através de microtraumatismos, nomeadamente durante o ato sexual, e o seu ciclo de replicação utiliza a maquinaria das células epiteliais em diferenciação. A infeção persistente por HPV de alto risco oncogénico desempenha um papel crucial na transformação maligna. Felizmente, o processo de carcinogénese é lento, proporcionando oportunidade de intervenção, com a existência de métodos eficazes de rastreio da infeção por HPV e/ou de alterações citológicas.
Existem consensos nacionais e internacionais (por exemplo, da American Society of Colposcopy and Cervical Pathology) que apoiam a decisão clínica perante alterações dos testes de rastreio, podendo a abordagem clínica, dependendo do risco de desenvolvimento de CIN3+, ser expectante ou terapêutica.
A maioria das infeções por HPV resolvem-se espontaneamente (~80%) e a abordagem expectante pode, de facto, ser recomendada. Contudo, o diagnóstico de uma alteração de um teste de rastreio de cancro do colo do útero associa-se a elevados níveis de ansiedade, o que pode dificultar a aceitação pela paciente da estratégia ‘wait and see’. Assim, é de referir o desenvolvimento nos últimos anos de produtos de aplicação vaginal, baseados em betaglucano, aprovados para o tratamento e prevenção de lesões cervicais de baixo grau causadas pelo HPV.
A maioria das infeções por HPV resolvem-se espontaneamente (~80%) e a abordagem expectante pode, de facto, ser recomendada. Contudo, o diagnóstico de uma alteração de um teste de rastreio de cancro do colo do útero associa-se a elevados níveis de ansiedade, o que pode dificultar a aceitação pela paciente da estratégia ‘wait and see’.
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Os estudos demonstram que o betaglucano, além de ativar o sistema imune, promove a epitelização, estimulando a regeneração cervical. Desta forma, e de acordo com a evidência científica atualmente disponível (estudo retrospetivo, n= 999 mulheres), a formulação em spray de gel vaginal de carboximetil-betaglucano e policarbófilo associa-se a 95,7% de regressão de lesões de baixo grau aos 6 e 12 meses e clearance do HPV 2 vezes superior do que a abordagem expectante.
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Ginecologista e obstetra no Hospital de Braga e Hospital Privado de Braga – Centro
Professora da Escola de Medicina da Universidade do Minho
Este texto é publicado no âmbito de uma parceria entre o Viral e o jornal especializado Health News.
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