Conhece as “hormonas da felicidade”? Perceba como “aumentá-las”
O segredo para a felicidade pode estar (em parte) no interior do nosso organismo. As chamadas “hormonas da felicidade” são substâncias mensageiras que atuam no cérebro, criando um sentimento positivo e de bem-estar. A produção destas hormonas aumenta quando existe um estímulo favorável ao desenvolvimento da espécie, funcionando como uma “gratificação” biológica. Conheça-as e saiba como potenciar a sua produção.
Quais são as chamadas “hormonas da felicidade”?
Existem quatro substâncias que são identificadas como “hormonas da felicidade”:
- Dopamina – um neurotransmissor que atua no cérebro como uma recompensa. Está associada a situações de prazer, de aprendizagem e de memória;
- Serotonina – ajuda a regular o sono e o apetite, tendo também efeitos na capacidade de aprendizagem e de memória;
- Oxitocina – conhecida como “a hormona do amor”, esta substância está relacionada com interações sociais, sendo também essencial no parto e durante a amamentação;
- Endorfina – uma hormona que tem um efeito analgésico, sendo produzida como resposta ao stress, ao desconforto e à dor, mas também em atividades que possam ser gratificantes para o organismo.
A produção destas hormonas e neurotransmissores está relacionada com “comportamentos que são percecionados pelo organismo como sendo favoráveis à nossa existência”, explica ao Viral, Francisco Sousa Santos, endocrinologista e autor da página Hormonas em Bom Português. Ao potenciar o sentimento de bem-estar, o nosso organismo está a favorecer uma repetição do comportamento.
“Os hábitos de vida saudáveis são recompensados pelo organismo com hormonas que nos fazem sentir bem”, acrescenta o especialista.
Estas quatro substâncias atuam ao nível do sistema nervoso central e estão relacionadas com a “melhoria do humor” ou, “em casos mais extremos”, como sensações “de euforia, de felicidade e de bem-estar”, identifica o endocrinologista.
Como potenciar a produção das “hormonas da felicidade”?
Francisco Sousa Santos ajudou o Viral a identificar alguns hábitos e comportamentos que podem ajudar a aumentar a produção das “hormonas de felicidade” de uma forma saudável.
Fazer exercício físico regularmente
A prática regular de exercício físico é um dos comportamentos que aumenta a produção de endorfinas. Uma vez que o movimento é positivo para a saúde do corpo, as hormonas potenciam uma sensação de bem-estar para que a pessoa volte a realizar exercício físico no futuro.
Um artigo, publicado em 2021, refere a existência de “evidências crescentes” que apontam “o exercício aeróbico como vital para a saúde do cérebro”.
Durante a prática de exercício físico, o corpo entra em stress físico e ocorre a libertação de endorfina, o que está associado a um sentimento de bem-estar conhecido como “runner’s high” (em português, êxtase do corredor).
Além da endorfina, a prática de exercício pode também aumentar os níveis de dopamina e serotonina no organismo.
Ouvir música instrumental
Já sentiu um arrepio enquanto ouvia música? De facto, estar em contacto com música – principalmente instrumental – pode aumentar a produção de dopamina no cérebro. Além disso, ouvir música está também relacionado com a produção de serotonina.
Um artigo científico, publicado em 2019, conclui que a dopamina tem “um papel causal” no prazer que se sente ao ouvir música.
Os investigadores referem que “a transmissão dopaminérgica pode desempenhar papéis diferentes ou aditivos daqueles postulados até agora no processo afetivo, particularmente em atividades cognitivas abstratas”.
Comer o que se gosta
Diz a sabedoria popular que a comida é uma forma de felicidade. E, neste caso, a ciência comprova: existe uma relação entre a ingestão dos alimentos preferidos – ou doces – e a libertação de dopamina.
“Nós estamos programados para libertar dopamina quando ingerimos comida açucarada para estimular o ser humano a procurar fontes de energia”, afirma Francisco Sousa Santos.
Além disso, alguns alimentos podem também levar à produção destas hormonas. A comida picante, por exemplo, pode aumentar a libertação de endorfinas, enquanto alimentos com elevada concentração de triptofano podem, teoricamente, contribuir para o aumento de serotonina.
Estar com amigos ou ter uma relação amorosa
Como animal social, os relacionamentos interpessoais são uma parte importante do bem-estar do ser humano. A oxitocina, muitas vezes identificada como “hormona do amor”, está na base desta afirmação.
Quando existe “uma interação social, um toque ou um abraço”, o organismo vai “recompensar-se” com a libertação desta hormona, esclarece Francisco Sousa Santos.
Num estudo, publicado em 2004, os investigadores analisaram os níveis de oxitocina e mediram a tensão arterial de 59 mulheres em pré-menopausa antes e depois de abraçarem os maridos.
As conclusões apontam para a existência de uma relação entre a frequência de abraços e a subida dos níveis de oxitocina. Por outro lado, as mulheres que abraçam mais vezes os maridos apresentaram uma tensão arterial mais baixa.
O relacionamento com animais de companhia também está associado a um aumento das “hormonas da felicidade”, nomeadamente à oxitocina, serotonina e dopamina.
Ter bons hábitos de sono
Uma boa noite de sono pode ajudar o organismo a regular a quantidade de hormonas necessárias e, por essa razão, proporcionar uma sensação de bem-estar. Segundo o Centro norte-americano de Controlo e Prevenção de Doença (CDC, na sigla inglesa), um adulto entre os 18 e os 60 anos deverá dormir sete ou mais horas por noite.
Rir
O riso está muito ligado à felicidade e há uma razão: os movimentos realizados durante o riso fazem “contrair músculos, que dificilmente seriam contraídos noutra atividade”, estimulando “a produção de endorfinas”, explica o especialista consultado pelo Viral.
De facto, o riso pode até ser utilizado como terapia alternativa para tratamentos de stress e depressão, avança uma revisão teórica, publicada em 2016.
“O riso pode mudar a atividade de dopamina e serotonina” e as “endorfinas segregadas pelo riso podem ajudar pessoas que se sintam inconfortáveis ou em estados depressivos”, lê-se.
Os riscos da suplementação de “hormonas da felicidade”
A busca pela felicidade poderá levar por caminhos mais sombrios e é preciso alguma cautela quando se fala, por exemplo, em suplementação.
“Estas hormonas fazem a pessoa sentir-se bem, mas em excesso fazem mal. Temos várias doenças no corpo humano em que há uma produção anormal das hormonas e tem consequências para a saúde”, aponta Francisco Sousa Santos.
Um dos primeiros sintomas que pode ocorrer perante doses elevadas das “hormonas da felicidade” é uma dessensibilização, ou seja, uma diminuição da sensação de bem-estar.
Quando os valores são “cronicamente elevados”, o organismo irá “autorregular-se, diminuindo os recetores disponíveis”, prossegue o especialista. Ou seja, para atingir uma sensação de bem-estar, será necessário aumentar a dosagem.
“O nosso corpo é bastante inteligente no que toca à regulação das hormonas e sabe autorregular-se”, sublinha.
A suplementação destas hormonas pode parecer uma forma fácil de melhorar o humor. No entanto, existem “poucas situações em que seja justificado o uso de um suplemento de hormonas”, afirma o endocrinologista.
Este alerta é também sublinhado pela Universidade de Harvard, que alerta para os riscos associados ao uso de suplementos hormonais.
“Por exemplo, o suplemento de 5-hidrotriptofan (5-HTP) ajuda a elevar os níveis de serotonina no cérebro. No entanto, o uso está ligado a danos no fígado e no cérebro, assim como uma condição rara mas fatal chamada síndrome de mialgia eosinofilia”, pode ler-se na página da universidade.
Francisco Sousa Santos sublinha ainda que o excesso de serotonina pode estar associado ao aumento do risco de convulsões, arritmias e até alterações do estado mental.
O endocrinologista lembra também que um excesso de dopamina pode também aumentar a tensão arterial da pessoa, reduzindo a esperança média de vida.
No caso das endorfinas, a utilização de medicação ou suplementos pode tornar-se uma dependência: por ser um opioide, o uso prolongado e exagerado desta substância causa habituação e dependência.
“O problema do uso de opióides é uma preocupação global e, especificamente nos Estados Unidos, o uso de opióides e as mortes por superdosagem aumentaram significativamente nos últimos anos”, alerta o Manual MSD para profissionais de saúde.
Em conclusão, antes de utilizar qualquer medicamento ou suplemento que promova a produção de hormonas deverá falar com o seu médico ou endocrinologista.
Estes fármacos apenas devem ser tomados quando existe necessidade de reposição dos níveis da hormona ou em casos em que existe um défice de produção diagnosticado.
Categorias: