Entre as incontáveis publicações sobre dietas restritivas com promessas milagrosas de emagrecimento rápido partilhadas em blogues e nas redes sociais, há alguns clássicos que nunca saem de moda. Uma delas é a dieta do ananás.

Num texto publicado num blogue, alega-se que a dieta do ananás permitirá, supostamente, fazer perder até quatro quilos em quatro dias. 

O autor do texto defende que “este programa de alimentação de quatro dias consiste em incorporar esta fruta em todas as refeições do dia, associando-a a outros alimentos fracos em calorias que ajudarão a estimular os seus efeitos”. 

No mesmo texto explica-se que esta dieta consiste em “associar um máximo de 400 gramas de proteína animal magra com alguns legumes” e muito ananás. Isto porque, segundo o mesmo site, o ananás será, alegadamente, “uma das melhores frutas para o organismo”, sendo “conhecido pelas suas propriedades diuréticas e purificantes, que estimulam a perda de peso”. 

Mas será mesmo assim? Seguir a dieta do ananás permite mesmo perder quatro quilos em quatro dias? Quais os riscos de seguir esta dieta restritiva?

Seguir a dieta do ananás permite perder 4 quilos em 4 dias?

Em declarações ao Viral, Leandro Oliveira, nutricionista e investigador do Centro de Investigação em Biociências e Tecnologias da Saúde (CBIOS) da Universidade Lusófona, começa por explicar que será difícil a dieta do ananás permitir uma perda de peso tão significativa em tão pouco tempo: “parece-me muito exagerado”.

O nutricionista lembra que a velocidade a que cada pessoa perde peso “varia de indivíduo para indivíduo” e que “para perder 4 quilos é preciso gastar muitas calorias, neste caso, em atividade física”.

Noutro plano, Leandro Oliveira admite que seguir a dieta do ananás poderá levar a alguma “perda de peso”. No entanto, isso resultará da “restrição calórica” associada a este regime alimentar e não às características do ananás em si.

“Sabe-se que o ananás tem várias propriedades, tem poucas calorias, vitaminas, minerais, é rico em fibra e em água”, esclarece. Além disso, “tem um efeito diurético”, por isso, “irá ajudar na retenção de líquidos por estimular a expulsão de água”, através da urina.

Contudo, tal como outras dietas em que se privilegia o consumo de um alimento específico – como “a dieta da maçã”, por exemplo -, acaba “por funcionar mais pela restrição calórica do que propriamente pelo ananás ou pela maçã”.

Quais os riscos da dieta do ananás?

Existem vários riscos em seguir regimes alimentares excessivamente restritivos como a dieta do ananás. Em primeiro lugar, esclarece Leandro Oliveira, “esta perda de peso rápida pode levar à perda da massa magra” e deve-se, sobretudo, “à perda de água” e não, necessariamente, à perda de gordura.

“Quando há uma perda de peso rápida, há uma perda de água. Isto é, perdeu-se bastante água e, eventualmente, poderá perder-se também alguma massa magra, ou seja, massa muscular”, sustenta.

Esta “perda rápida e brusca de peso também não será saudável”, sobretudo quando este tipo de dietas é adotado por pessoas mais velhas que “já têm uma tendência para a perda de massa muscular”, alerta Leandro Oliveira.

Outro risco da dieta do ananás é a quantidade de proteína incluída neste plano alimentar: “400 g de carne também é exagerado”, refere o investigador. 

“Acaba por ser uma dieta restritiva e hiperproteica, com proteína a mais. Sabemos que a população portuguesa já costuma consumir proteína a mais, faz parte dos hábitos alimentares dos portugueses. Estamos habituados a comer bastante carne. O que também, por si só, acaba por não ser saudável e, portanto, é um risco para a saúde este consumo excessivo de carne”, detalha.

Para mais, o investigador avisa que “esta restrição calórica não pode ser aplicada a toda a gente”.

“Há pessoas com patologias, como a diabetes”, que “precisam de consumir hidratos de carbono de uma forma consistente ao longo do dia”. Portanto, “estar a cortar os hidratos assim, de uma forma tão restritiva, também não será saudável, por exemplo, para essas pessoas”. 

Aliás, completa, “esta restrição toda não é, de todo, saudável” seja para quem for.

Noutro plano, seguir uma dieta tão restritiva como a dieta do ananás pode levar a episódios de compulsão alimentar.

“A pessoa está ali, em tensão – ‘a passar fome’, por assim dizer – durante quatro dias e, depois, quando deixar a dieta, vai querer compensar o que não comeu nos outros dias. Acaba por ser contraproducente”, teoriza.

Em relação às consequências do consumo excessivo de ananás, o máximo que pode acontecer é a pessoa “ter alguma diarreia” ou, por outro lado, “obstipação”, devido à ingestão excessiva de fibra presente no ananás.

Como perder peso de forma saudável?

Segundo Leandro Oliveira, está recomendado “uma perda de peso gradual e consistente”. Nesse processo, “o importante é consumir menos calorias do que as que se gasta”. 

Além disso, o objetivo traçado deve ser realista, “para a pessoa não desmotivar”, defende. “Se a dieta promete a perda de quatro quilos e a pessoa chega ao fim e não os perdeu” pensa que foi tudo em vão e que é escusado ter uma alimentação equilibrada.

O que acontece muito em dietas restritivas semelhantes a esta é que, “quando a pessoa para a dieta”, começa “a compensar o que não comeu antes”, porque a alimentação foi muito condicionada durante um determinado período, e volta a ganhar o peso que perdeu.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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