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Peixe-aranha e caravela-portuguesa: O que fazer em caso de picada ou queimadura

29 Jun 2024 - 08:30

Peixe-aranha e caravela-portuguesa: O que fazer em caso de picada ou queimadura

A subida das temperaturas é um convite a idas à praia. Estende a toalha, põe o protetor solar e dirige-se ao mar para se refrescar. Mas uma dor estranha acaba por lhe estragar o dia: terá sido uma picada de peixe-aranha? Ou uma queimadura de caravela-portuguesa? E o que fazer em cada uma das situações?

Nos últimos anos, têm aumentado os números de peixes-aranha e de caravelas-portuguesas ao longo da costa e no arquipélago dos Açores, segundo alerta o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

Esta espécie de alforrecas, conhecida pela sua semelhança às caravelas utilizadas pelos portugueses no século XV e XVI, é a mais perigosa que existe ao largo do país, podendo causar queimaduras graves na pele e reações alérgicas. Em algumas situações, as autoridades encerram a praia quando existe um avistamento de caravela-portuguesa.

Ricardo Dinis-Oliveira, professor catedrático de Toxicologia e Ciências Forenses na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e no Instituto Universitário de Ciências da Saúde (CESPU), explica ao Viral o que fazer (e não fazer) perante a picada de um peixe-aranha ou a queimadura por caravela-portuguesa.

Picada de peixe-aranha

O peixe-aranha é um animal que habita as águas costeiras do Atlântico e do Mediterrâneo. Tem entre 14 e 46 centímetros de comprimento e pode ter cinco a oito espinhos venenosos na barbatana dorsal. Esta espécie marinha vive enterrada em zonas arenosas ou lamacentas, exibindo apenas a cabeça e o dorso. 

A picada de peixe-aranha acontece quando o indivíduo coloca o pé sobre este animal, fazendo pressão sobre os espinhos. No momento, a dor pode ser confundida com o pisar de uma pedra ou uma concha pontiaguda, contudo, esta tornar-se-á mais intensa minutos depois.

A primeira coisa a fazer depois da picada é imergir a zona afetada em água quente (a rondar os 40ºC) e mantê-la assim durante, pelo menos, 30 minutos. Ricardo Dinis-Oliveira explica que “a água quente tende a provocar uma alteração das proteínas do veneno do peixe-aranha”, degradando-as e levando-as a perder “a eficácia”.

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Apesar de haver pouca literatura sobre o efeito e tratamento das toxinas libertadas pelas diferentes espécies de peixe-aranha, uma revisão publicada em 2020 sublinha que “o tratamento comum para vítimas da maior parte dos envenenamentos aquáticos (incluindo os peixes-aranha) é a imersão em água quente (39ºC-45ºC) entre 20 e 90 minutos”.

É comum ouvir-se dizer que se deve urinar sobre a picada de peixe-aranha para aliviar a dor, mas essa prática não é recomendada. Trata-se de um mito que surge da necessidade de colocar algo quente na ferida. No entanto, a temperatura da urina não é suficiente para inativar as toxinas.

“Não há eficácia plena e não há necessidade de o fazer, uma vez que toda a gente tem acesso a água quente”, afirma Ricardo Dinis-Oliveira. O professor lembra que a urina sai do corpo com uma temperatura média de 36ºC/37ºC, mas começa logo a arrefecer. Quando chega ao local da picada, “já está com uma temperatura inferior à necessária para desativar a toxina”.

Caso o espinho do peixe-aranha tenha ficado alojado no pé, é necessário retirá-lo, utilizando uma pinça. Não se deve mexer diretamente no espinho, uma vez que é nesta zona que existe o veneno e poderá provocar lesões nas mãos.

Na maior parte dos casos, a picada de peixe-aranha não requer tratamento médico e a dor acaba por passar sem deixar consequências no paciente. No entanto, se sentir dores persistentes, náuseas e tonturas, febre após as primeiras 24 horas, vómitos, dores de cabeça ou hipersudorese (suor em excesso) é aconselhável ir ao hospital.

Caso o paciente manifeste sinais de reação alérgica à toxina do peixe-aranha, poderá ser necessário ligar para o 112. Se sentir falta de ar (dispneia), se perder a consciência, tiver convulsões, dor no peito, edema com alteração de voz ou uma erupção cutânea intensa. 

Queimadura de caravela-portuguesa 

A caravela-portuguesa é o mais perigoso tipo de alforreca que existe na costa portuguesa. Os seus tentáculos (que podem ter mais de 20 metros) prendem-se à pele, transmitindo um veneno que provoca lesões em forma de “colar de contas” e uma dor intensa.

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Segundo o INEM, após o contacto com os tentáculos de caravela-portuguesa “é normal que nos primeiros 15 minutos surjam queixas como sensação de calor, ardor ou queimadura, e podem até aparecer na pele algumas bolhas com líquido”.

Numa segunda fase, o paciente irá sentir uma “dor, que pode ser intensa, de instalação rápida e com sensação de formigueiro e comichão” na área atingida. 

Se tiver contacto com uma caravela-portuguesa, a primeira coisa a fazer é sair rapidamente do mar, para evitar mais queimaduras, e dirigir-se ao nadador-salvador. Uma vez em segurança, deve lavar a zona afetada com água salgada do mar “para evitar a libertação do veneno”.

“Uma das coisas que, por intuito, se faz é tentar lavar a zona da lesão com água doce, mas isso é contraproducente”, explica Ricardo Dinis-Oliveira. A água doce tende a criar “uma diferença osmótica (diferença de pressão entre os dois lados) face ao interior dos tentáculos e potencia a passagem do veneno”.

Caso o tentáculo permaneça agarrado à pele, deve ser retirado, utilizando uma pinça – nunca se deve tocar com as mãos em qualquer parte da caravela-portuguesa. Mesmo depois de mortas ou quando os tentáculos se separam, estes animais continuam a ser venenosos e podem provocar queimaduras graves na pele. 

Não se deve aplicar álcool nem amónia na área afetada e não se deve urinar sobre a lesão. Apesar de existirem estudos com resultados divergentes, é recomendada a utilização de vinagre para aliviar o efeito da toxina.

O professor de Toxicologia e Ciências Forenses esclarece que o ácido acético (composto existente no vinagre) “ajuda a desregular as proteínas do veneno”, tendo um efeito semelhante ao do calor na toxina do peixe-aranha.

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Poderá também colocar a zona afetada em água quente, para aliviar as dores associadas à queimadura pelo veneno da caravela-portuguesa, ou tomar analgésicos. 

É importante estar atento a sinais atípicos, nomeadamente reações anafiláticas ou hipersensibilidade ao veneno. Se tiver enjoos, vómitos, tonturas, dores de cabeça, febre persistente nas primeiras 24 horas ou suor em excesso, deverá procurar ajuda médica.

Uma das reações anafiláticas mais graves é o “edema da glote”, ou seja, um inchaço na zona da garganta que impede a passagem do ar para os pulmões. “É extremamente grave, mas o paciente pode morrer por asfixia”, alerta o especialista. Nesse caso, deve utilizar o número de emergência (112).

29 Jun 2024 - 08:30

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