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Chá de camomila ajuda a adormecer? O que diz a ciência

3 Set 2023 - 09:12

Chá de camomila ajuda a adormecer? O que diz a ciência

Alega-se nas redes sociais que beber chá de camomila ajuda a melhorar a qualidade do sono. Numa publicação partilhada no Facebook escreve-se, por exemplo, que a camomila tem “propriedades calmantes e relaxantes”.

No mesmo post argumenta-se que o chá feito a partir desta planta ajuda também a “reduzir o stress e promove o relaxamento”. Nesse sentido, defende o autor da publicação, para “obter benefícios relaxantes”, deve beber-se esta infusão “antes de dormir” ou em momentos de “stress”. Mas o que diz a ciência sobre a eficácia desta mezinha?

Há evidência científica de que o chá de camomila ajuda a adormecer?

Em declarações ao Viral, Miguel Meira e Cruz, diretor da Unidade de Sono do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa, começa por explicar que a planta matricaria recutita (mais conhecida como camomila) tem uma componente “relaxante”, a apigenina, que é uma molécula que responde de forma “parecida a, por exemplo, ansiolíticos e antidepressivos”.

No entanto,  sublinha o CEO do Centro Europeu do Sono, há “poucos estudos” sobre a influência do chá de camomila no sono e os que foram realizados têm “limitações”.

“Há investigações em que não se sabe a quantidade de camomila que foi utilizada para o estudo e o tipo de pessoa envolvida. O efeito poderá ser diferente em pessoas com ansiedade e em pessoas sem problemas psicológicos mas que tenham má higiene do sono”, esclarece o especialista.

Também Teresa Paiva, neurologista, especialista em Medicina do Sono e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, reconhece que a camomila tem propriedades sedativas, mas defende que é “altamente improvável” que o chá de camomila ou qualquer outro chá ajude a adormecer.

“Seja que chá for, o produto tem de ter tempo de absorção e de metabolização suficiente para fazer adormecer. Ou seja, tem de entrar no estômago, ser absorvido no intestino e depois, sim, passar para a corrente sanguínea e depois para o cérebro”, acrescenta.

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O tempo de absorção vai depender do nutriente ou da substância em causa. No entanto, reitera a especialista, “não é imediato”.

Dose é suficiente? 

Importa sublinhar que várias das investigações que estudaram os efeitos da camomila no sono e na depressão (como este e este) foram feitas com extratos de camomila. Logo, não se pode concluir diretamente que a toma do chá de camomila tenha os mesmos efeitos que a ingestão destes extratos.

Por outras palavras, Teresa Paiva esclarece que as pessoas não sabem se a dose que tomam do chá de camomila “é suficiente” para ajudar a adormecer.

No mesmo sentido, Miguel Meira Cruz refere que os chás “não têm descrição dos componentes”, nem são dados em “doses controladas”. Ou seja, “a participação” de cada um dos componentes no processo é “relativa”. Este é, na visão do CEO do Centro Europeu do Sono, um dos entraves a “conclusões fortes” sobre os efeitos do chá de camomila no sono.

Chás podem prejudicar o sono?

Noutro plano, Teresa Paiva defende que beber chá de camomila antes de dormir pode até ter um efeito contrário ao pretendido.

Isto porque a ingestão de líquidos pouco tempo antes de dormir pode levar a pessoa a acordar de noite para ir à casa de banho, levando a que tenha mais “dificuldade em voltar a adormecer, após acordar para urinar”.

Pelo mesmo prisma, Miguel Meira e Cruz concorda que a ingestão de chás à noite pode fazer ter vontade de urinar, mas realça que tudo “depende” da quantidade de chá ingerido e da pessoa em questão.

“Quem tem mais dificuldades em reter a urina, não deve ter essa prática, sendo esse chá ou outro qualquer”, aponta.

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Por que razão as pessoas demoram a adormecer?

Podemos adormecer “mais depressa ou mais devagar” conforme os dias e as circunstâncias. O “normal” é uma pessoa demorar entre 20 a 30 minutos a adormecer, refere Teresa Paiva.

No entanto, as pessoas têm “imensos estímulos de alerta”, como telemóveis, televisão e o computador. Esses ecrãs têm uma luz que “bloqueia a produção de melatonina, que é um sinal que o organismo nos dá de que são horas de dormir”.

Mas quanto tempo antes de dormirmos temos de “largar” os ecrãs? Esse tempo depende de cada um, mas a maior parte das pessoas com “problemas em adormecer” deve deixá-los “no mínimo uma hora antes de dormir”, defende a neurologista.

Na mesma linha, Miguel Meira e Cruz refere que se deve “evitar estimulantes” antes de dormir e,“sobretudo, luz do espectro azul” e ter “horários regulares”, ou seja, uma “boa higiene do sono”.

O diretor da Unidade de Sono do Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa realça ainda que não se deve “levar preocupações para a cama”. 

Este aspeto é também apontado por Teresa Paiva: “Uma pessoa pode demorar a adormecer porque fica a matutar nas preocupações e no amanhã. Nestes casos, ensina-se a pessoa que deve relativizar”.

“Arranjam o ‘caderninho das preocupações’. Todas as noites antes de dormir, escrevem as preocupações para esvaziarem a cabeça e não pensarem nisso”, sugere a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

“Quanto mais remédios tomarem para dormir, maior a probabilidade de dormirem mal. As doses são tóxicas. O excesso de medicação é muito negativo”, acrescenta.

O que é ter um “sono reparador”?

Ter um sono reparador é acordar de manhã “bem disposto e preparado para a vida” e sentir que “dormiu bem”, considera Teresa Paiva. No entanto, a especialista sublinha que esta é uma “sensação subjetiva”, que varia de pessoa para pessoa. 

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Para a Sociedade Portuguesa de Medicina de Estilo de Vida, sono reparador é aquele que “repara e dá energia”. Num artigo informativo publicado no site da organização refere-se que este tipo de sono faz com que as pessoas se sintam “despertas e ativas” durante o dia.

A maior parte dos adultos precisa dormir entre 7 e 9 horas. Há uns que precisam menos, outros que precisam mais, é ainda referido pela mesma médica.

“Dormir é tão essencial como estarmos acordados. O sono controla todas as nossas funções: a pele, os ossos, as rugas, os intestinos, a memória”, explica Teresa Paiva.

Nesse sentido, tem uma “imensa importância” na saúde mental, cognitiva, física, no “equilíbrio emocional, nos nossos hábitos e no nosso sucesso”, conclui a especialista em medicina do sono.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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