Aplicar óleo de magnésio nos pés ajuda a dormir melhor?
As razões para dormir mal são muitas e as mezinhas para melhorar o sono também. Nas redes sociais alega-se, por exemplo, que aplicar óleo de magnésio nos pés ajuda a dormir melhor.
Num vídeo no TikTok, uma criadora de conteúdo mostra-se a aplicar óleo de magnésio nos pés enquanto garante que a “vida vai mudar” e vai dormir “melhor do que nunca”, se o fizer todas as noites.
Numa outra publicação na mesma rede social, realça-se que os pés têm “capacidades de absorção incríveis”, assegurando que o produto vai ser “100% absorvido pela pele”.
Ainda no TikTok, uma jovem mostra um “óleo de magnésio puro com 7 minerais” que apresenta como um “milagre”, enquanto refee que tem tido “o melhor sono da vida” por causa do produto.
A autora do vídeo diz que tem “dormido a noite inteira” desde que começou a aplicar o óleo nos pés, o que nunca tinha acontecido antes. Mas está provado que aplicar óleo de magnésio nos pés é mesmo uma solução para dormir melhor?
É verdade que aplicar óleo de magnésio nos pés ajuda a dormir melhor?
“Não, não há evidência científica”. É esta a resposta de Tiago Sá, pneumologista, especialista em Medicina do Sono, diretor clínico da clínica Sleeplab e autor do livro “Acabe com as noites em branco”, quando questionado se aplicar óleo de magnésio nos pés ajuda a dormir melhor.
O médico diz que esta mezinha é um mito que circula na internet “há muito tempo”, sublinhando, que “não há trabalhos robustos” sobre este óleo “em específico” e na “forma que é proposto”.
Ao Viral, Tiago Sá reconhece que há “lógica” em associar o magnésio ao sono, dado que défice de magnésio pode originar “sono de pior qualidade”.
Por outro lado, o médico esclarece que há “alguma evidência” de que “suplementação de magnésio” ajuda a adormecer. No entanto, Tiago Sá considera que essa evidência “não tem qualidade”.
“Muitas vezes pega-se em duas verdades e tenta-se fazer uma verdade maior. Na ciência não funciona bem assim”, acrescenta o especialista em Medicina do Sono.
Mas este hábito de aplicar óleo de magnésio nos pés pode ter malefícios para a saúde? À partida, não. Não será uma “má rotina”, diz o especialista.
“É melhor do que acabar de trabalhar, desligar o computador e ir para a cama”, exemplifica.
No entanto, o diretor clínico da Sleeplab reforça que não existem trabalhos científicos robustos que comprovem a eficácia deste gesto.
Noutra perspetiva, Tiago Sá esclarece que os pés “entram na equação” possivelmente por serem uma “extremidade”.
“Se tomar banho de água quente e aquecer as extremidades, vou transportar sangue ou atrair sangue para as extremidades, favorecendo a perda de calor, o que vai resultar numa redução da temperatura corporal que vai ter influência no sono. Massajar os pés poderá ter um efeito semelhante”, exemplifica o médico.
Tiago Sá aponta ainda que “magnésio ou fármacos não são milagres para o sono”, sendo que, “para melhorar a qualidade do sono, é preciso entender e adotar comportamentos de qualidade”, salienta.
Em situações de crise, em alguns casos, a medicação pode ser importante, desde que medicada por um profissional competente.
No entanto, o especialista consultado pelo Viral explica que os médicos “não desejam que os doentes mantenham uma medicação crónica”. O sono adequado deve acontecer “de forma natural”.
“Resolver um distúrbio do sono não é manter um anestesista em casa para dormir”, acrescenta.
O que é dormir mal? Por que razão acontece?
Os distúrbios de sono são diagnosticados em todas as idades, refere-se numa revisão narrativa sobre a qualidade do sono, publicada em 2022.
“Dormir mal é ter dificuldade em adormecer, acordar a meio da noite e não conseguir voltar a dormir, dormir poucas horas ou ter um sono pouco reparador”, descreve o especialista em Medicina do Sono consultado pelo Viral.
Por norma, as pessoas que dormem mal têm “sonolência, fadiga, irritabilidade e dificuldade de concentração”, exemplifica.
As razões para se dormir mal são “inúmeras” e podem condicionar a qualidade de vida. Sono de má qualidade pode agravar patologias como ansiedade, depressão, diabetes e tireóide, enumera Tiago Sá.
De acordo com a National Sleep Foundation, a investigação “Sleep In America”, realizada pela Langer Research Associates, indica que “muitos americanos insatisfeitos” com o sono também tiveram “sintomas depressivos”.
Na revisão narrativa referida anteriormente, Sleep Quality, aponta-se que distúrbios de sono aumentam o risco de doenças cardiovasculares, obesidade, depressão, cancro e doenças infecciosas. Por outro lado, dormir pouco leva a “escolhas alimentares inadequadas”, o que pode originar excesso de peso ou obesidade, indica a mesma publicação.
Há “distúrbios do sono” que justificam um sono de “má qualidade”, mas têm tratamento. As pessoas não se devem “acomodar”, destaca o médico Tiago Sá. Se dorme mal, deve procurar ajuda de um profissional, “a começar, por exemplo, pelo médico de família”.
Como podemos dormir melhor?
Por norma, a primeira abordagem para se tentar dormir melhor são “ferramentas de relaxamento, de controlo de estímulos”, esclarece Tiago Sá.
Um estilo de vida saudável é essencial, porque “aumenta a chance” de ter um sono de qualidade, realça o autor do livro “Acabe com as noites em branco”.
Deve-se praticar atividade física regular, sobretudo nas “primeiras horas do dia e não antes de ir para a cama”.
É também importante “meter o sono na agenda”, ou seja, “não deixarmos para o tempo que sobra”.
Outro hábito crucial é acordar e deitar sempre à mesma hora ou “sem grandes variabilidades”, indica.
Além disso, aponta, o consumo excessivo de açúcar, refeições pesadas e a ingestão de café devem ser evitados.
Os efeitos positivos de uma “nutrição adequada, atividade física e diminuição de estimulantes” são também referidos no artigo “Sleep Quality: A Narrative Review on Nutrition, Stimulants, and Physical Activity as Important Factors”.
O especialista consultado pelo Viral destaca ainda que deve haver um período de relaxamento – de, por exemplo, meia hora – antes de dormir.
“Não podemos trabalhar até às 22h30, fechar o computador e ir dormir. O cérebro precisa de tempo para se preparar para o sono”, explica.
O sítio onde vamos dormir também é importante e deve ser “reservado exclusivamente” para esse fim. Não se deve trabalhar no quarto, indica. O espaço deve ser “tranquilo, escuro, silencioso, limpo e arrumado”, de forma a que o cérebro o “associe ao sono”.
O quarto deve também ser fresco, uma vez que a temperatura mais alta “condiciona” a qualidade do sono. “Acordamos mais vezes durante a noite no verão”, sinaliza.
O exercício físico – 30 minutos por dia, cinco dias por semana -, evitar refeições pesadas e ingestão de café e álcool e dormir num ambiente silencioso, fresco e escuro são “pequenos passos” apontados pela National Sleep Foundation, à semelhança do especialista ouvido pelo Viral.
O que é ter um “sono de qualidade”? Na prática, é, na maioria dos dias, “adormecermos sem grande dificuldade, acordarmos a sentir-nos descansados e passarmos o dia sem sentir que o sono está a condicionar as nossas tarefas”, descreve Tiago Sá.
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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.
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