Mitos
A hiperatividade é causada por má educação e falta de disciplina?
Mitos
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A hiperatividade é causada por má educação e falta de disciplina?

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É comum pensar-se que uma criança com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é, na verdade, uma criança mal educada e indisciplinada. Por exemplo, quando um aluno tem dificuldades em permanecer atento ou quieto na sala de aula, julga-se, muitas vezes, que um castigo mais rígido por parte dos pais resolveria o problema. Mas será mesmo assim? A hiperatividade nas crianças deve-se a falta de educação e de disciplina?

É verdade que a hiperatividade é causada por má educação e falta de disciplina?

Não, a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) não é causada por má educação e falta de disciplina. Quem o afirma é o psiquiatra Gustavo Jesus aquando da sua participação na rubrica “Viral” do programa “Casa Feliz” da SIC (uma parceria desta estação de televisão com o Viral Check). 

O diretor clínico da PIN (Partners in Neuroscience) e docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) confirma que esse estigma existe. Ou seja, é frequente a criança com PHDA ser vista “como mal educada, porque se mexe muito e não toma atenção a nada”. Aliás, admite, é comum achar-se que “com um castigo a criança fica quieta”.

No entanto, na perspetiva do psiquiatra “castigar uma criança com PHDA vai perturbar ainda mais o seu funcionamento”. 

Gustavo Jesus explica que a PHDA “é uma síndrome psiquiátrica que corresponde a uma perturbação do neurodesenvolvimento”. Logo, “dizer que é falta de educação é uma grande injustiça”, reitera.

Segundo o psiquiatra, esta perturbação “inicia-se sempre na infância” e “tem um cariz genético altamente relevante”, sendo que “é hereditária em cerca de 85%” dos casos. 

A PHDA é subclassificada em vários subtipos: o “subtipo desatento, em que o quadro clínico é predominantemente relacionado com o défice de atenção”; o “subtipo hiperativo”, em que o componente motor se manifesta mais; “e o subtipo misto”, que é uma combinação dos dois subtipos anteriores.

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Além disso, a forma como a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção se manifesta pode variar “ao longo das fases da vida”.

De modo geral, na forma como a PHDA se manifesta há quatro questões principais a ter em conta: a hiperatividade, o défice de atenção, a impulsividade e a desregulação emocional.

O médico explica que a hiperatividade traduz-se, por exemplo, “numa atividade motora excessiva, numa dificuldade em estar parado e quieto”. 

Quando a principal manifestação da perturbação é o défice de atenção, isso “não quer dizer que a pessoa não consiga ter atenção a nada”. Significa apenas que tem “uma grande dificuldade em regular a atenção e em manter a atenção sustentada no tempo, sobretudo se estiver a fazer uma tarefa aborrecida ou rotineira”, esclarece o psiquiatra. 

Outra manifestação comum na PHDA é a impulsividade, ou seja, “a dificuldade em se controlar, não ter um grande filtro no que se diz, falar repentinamente sem pensar”. Quem tem esta característica da perturbação pode também, por exemplo, ter tendência para fazer  “compras impulsivas e comer impulsivamente”.

Por fim, da mesma forma que a pessoa com PHDA não consegue regular a atenção e a impulsividade, também “tem menor capacidade de regular as emoções”, aponta Gustavo Jesus. 

“São pessoas que – sem juízos de valor – fazem tempestades em copos de água e, muitas vezes, até reconhecem” e questionam-se sobre o porquê de terem agido de determinada forma.

Qual a influência da PHDA não tratada na vida das pessoas?

Segundo Gustavo Jesus, os efeitos da PHDA não tratada dependem da fase da vida da pessoa. Uma criança com hiperatividade “é mais mexida nas aulas, não consegue estar parada, levanta-se, não consegue estudar”. 

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Por outro lado, o défice de atenção interfere de forma direta com “o rendimento académico”. O psiquiatra explica que estas crianças, “muitas vezes, estudam muito mais do que os outros e, mesmo assim, não conseguem atingir os mesmos objetivos”. 

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Isto tem, “ao nível do desenvolvimento, implicações muito relevantes”, por exemplo, na “autoestima”.“São miúdos com uma diminuição do seu autoconceito”, frisa. 

Assim, se o diagnóstico não for feito ou se a abordagem não for a correta, pode haver um prolongamento da disfunção associada à PHDA para a fase adulta.

Categorias:

Saúde mental

19 Set 2023 - 11:08

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