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Emoções negativas “enfraquecem” órgãos específicos do corpo?

11 Abr 2023 - 03:13
exagerado

Emoções negativas “enfraquecem” órgãos específicos do corpo?

Circulam nas redes sociais várias publicações em que se defende uma associação entre as emoções e o funcionamento do corpo humano. Os autores destes textos alegam que certas emoções negativas “enfraquecem” determinados órgãos.

Num vídeo do TikTok, diz-se, por exemplo, que “a raiva enfraquece o fígado, o luto enfraquece os pulmões, a preocupação enfraquece o estômago, o stress enfraquece o coração e o cérebro, e o medo enfraquece os rins”. Mas será mesmo assim?

É verdade que emoções negativas “enfraquecem” órgãos específicos do corpo?

Em declarações ao Viral, Filipa Caetano, psiquiatra e psicoterapeuta cognitivo-comportamental, adianta não ser verdade que certas emoções negativas, por si só, provoquem danos diretos em órgãos específicos do corpo humano.

“A ligação é, sobretudo, indireta, ou seja, não existe uma alteração imediatamente consequente”, salienta. Por isso, “a emoção, em si, não vai provocar uma lesão no órgão”. 

O que acontece, explica, é que os sintomas experienciados são a “resposta do corpo”, “enquanto a emoção está ativa”. Posto isto, quando passa esse “estado emocional, volta tudo ao normal”, já que estas reações são “temporárias“, aponta.

Com base em exemplos, nomeadamente alguns referidos numa das publicações em análise, Filipa Caetano esclarece de que forma é que o corpo humano reage às emoções. 

A raiva, por exemplo, trata-se de “uma emoção ativadora”. Portanto, “quando ficamos com raiva – ou porque estamos frustrados, ou porque alguém fez alguma coisa que não gostámos” -, podem verificar-se alterações “pulmonares”, como “respirarmos mais vezes” e de forma mais intensa.

O luto, também referido no post, “está muitas vezes associado a estados de ansiedade e de tristeza”. Nesse sentido, acrescenta, pode levar a alterações na respiração, podendo torná-la “mais superficial”. 

Em caso de stress, preocupação e/ou ansiedade, Filipa Caetano salienta as alterações que se podem sentir “ao nível intestinal”. Ao experienciar-se estas emoções, algumas pessoas “podem ter a chamada volta à barriga”, enquanto outras “sentem o estômago mais inchado e podem ter dificuldade em digerir certos alimentos”, refere.

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“Ao nível dos rins”, acrescenta, pode-se “urinar mais vezes” ou “sentir que se tem de urinar mais frequentemente”. 

Este “estado de ativação” provocado por “estados de ansiedade” pode ainda proporcionar alterações no batimento cardíaco como, por exemplo, fazer com que “o coração bata mais depressa”.

Além disso, “podemos ter dificuldades em pensar, concentrar e raciocinar”, daí a ligação com o cérebro.

Contudo, na perspetiva de Filipa Caetano, é importante reforçar a ideia de que estas reações do corpo, por si só, “não provocam lesões” diretas nos órgãos, tratando-se apenas de “uma resposta do organismo”.

Para mais, frisa a especialista, os sintomas desencadeados pelas emoções diferem de pessoa para pessoa, dependendo não só da forma como o corpo de cada pessoa lida com as emoções como também se “existe alguma doença mental de base ou não”.

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Em suma, embora o corpo “responda” às emoções (por exemplo, quando numa situação de ansiedade se sente uma “volta à barriga”), à luz do conhecimento atual, é exagerado afirmar que as emoções negativas, por si só, “enfraquecem” ou provocam danos diretos nos órgãos.

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Saúde mental

11 Abr 2023 - 03:13

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