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Crianças não devem comer amendoins antes dos 3 anos?

A ideia de que as crianças não devem comer amendoins e frutos gordos antes dos 3 anos de idade ainda prevalece em algumas famílias que receiam que os bebés desenvolvam reações alérgicas. Mas será esta a melhor estratégia?

18 Nov 2022 - 08:00

Crianças não devem comer amendoins antes dos 3 anos?

A ideia de que as crianças não devem comer amendoins e frutos gordos antes dos 3 anos de idade ainda prevalece em algumas famílias que receiam que os bebés desenvolvam reações alérgicas. Mas será esta a melhor estratégia?

A introdução de amendoins e de outros frutos gordos na alimentação das crianças é, muitas vezes, adiada pelos pais e cuidadores por receio de estes alimentos provocarem uma reação alérgica. Por isso, muitos educadores optam por introduzir as oleaginosas na dieta das crianças já depois dos três anos. Mas será esta a idade ideal para oferecer frutos gordos aos mais pequenos? E quais os cuidados a ter na introdução dos alergénios?

Só a partir dos 3 anos é que as crianças devem comer amendoins?

Em declarações ao Viral, a nutricionista Catarina Paixão esclarece que a ideia de que as crianças só devem comer amendoins e frutos gordos depois dos três anos é errada e está ultrapassada.

De facto, sustenta, “antigamente, pensava-se que era bom retardar a introdução dos alimentos alergénios”. No entanto, acrescenta a nutricionista, a evidência científica mais recente tem mostrado benefícios em introduzir estes alimentos mais cedo, ou seja, “entre os seis meses e os 11 meses de idade”.

“Esta altura é a chamada janela imunológica, em que o sistema imunológico dos bebés se está a desenvolver. Se introduzirmos alimentos alergénios nessa idade, o sistema imunológico vai ser treinado para reconhecer esses alimentos como não sendo uma ameaça”, explica.

Esta perspetiva é apoiada por vários artigos científicos, nomeadamente por um estudo publicado em 2022 no jornal científico “Nutrients” sobre “Introdução Precoce de Alimentos Alergénios e Prevenção de Alergia Alimentar”. Segundo os autores do texto, “para crianças consideradas de alto risco de desenvolver alergia alimentar (particularmente devido à presença de outras alergias alimentares ou eczema grave), as evidências para a introdução precoce de alimentos alergénios, em particular amendoim e ovo, são robustas”.

Nesse estudo, lê-se também que “a introdução precoce de alimentos alergénios parece ser uma estratégia eficaz para minimizar o impacto da alergia alimentar na saúde pública, embora sejam necessários mais estudos sobre a generalização dessa abordagem em populações de baixo risco”.

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No mesmo sentido, um estudo publicado no “Journal of Allergy and Clinical Immunology: In Practice”, em 2020, conclui que, “para prevenir a alergia ao amendoim e/ou ovo, tanto o amendoim quanto o ovo devem ser introduzidos por volta dos seis meses de vida, mas não antes dos quatro meses”.

Quais os cuidados a ter na introdução de amendoins na alimentação?

Na hora de introduzir frutos gordos na alimentação da criança, Catarina Paixão começa por explicar que a primeira regra é “nunca dar os frutos secos inteiros à criança até aos 3 ou 4 anos, ou seja, até o bebé ter a mastigação completa e desenvolvida, conseguindo mastigar os frutos secos sem se engasgar”.

Por outro lado, completa, também não se deve dar “uma colher de manteiga de oleaginosas” diretamente ao bebé, porque “pode colar no céu da boca e provocar asfixia”. Estas pastas devem ser colocadas noutros alimentos, como num iogurte ou nas papas de aveia, e sempre em “camadas fininhas”. Uma alternativa é usar um pouco de “farinha de oleaginosas, como a farinha de amêndoa, para fazer um bolo ou um pão”.

Além disso, deve introduzir-se um fruto gordo de cada vez para se perceber exatamente a qual das oleaginosas é que a criança pode ser alérgica. E, por fim, o ideal será incluir os alergénios num dia em que os cuidadores saibam que vão estar junto dos bebés “durante algumas horas depois da introdução”.

”É importante que os pais ou os cuidadores estejam atentos nas horas seguintes à introdução a qualquer sintoma que possa surgir como, por exemplo, inchaço da boca ou dos lábios, aparecimento de algumas borbulhas ou comichão”, argumenta.

O que fazer quando há uma reação alérgica?

Quando existe uma reação depois da introdução do novo alimento, Catarina Paixão aconselha a “parar a introdução desse alimento até que o bebé seja consultado por um médico pediatra ou por um imunoalergologista”.

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No caso das reações mais graves que possam colocar em risco a vida da criança, há que chamar imediatamente “uma viatura de emergência para resolver a situação o mais rapidamente possível”.

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Alimentação

18 Nov 2022 - 08:00

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