As mezinhas para aliviar ou tratar queimaduras fazem parte da sabedoria popular, mas muitas delas, além de não resultarem num alívio dos sintomas, podem agravar o problema. Uma destas receitas caseiras passa por aplicar pasta de dentes em queimaduras para diminuir a dor, imediatamente após queimar uma parte do corpo. Mas será este método eficaz e seguro?

Deve aplicar pasta de dentes em queimaduras?

Em declarações ao Viral, o dermatologista Alexandre Catarino começa por explicar que esta mezinha “não é segura nem eficaz”. Segundo o especialista, ao aplicar pasta de dentes em queimaduras, pode sentir-se um alívio momentâneo “pelo fresquinho” provocado pelo flúor e pelo mentol, mas os danos são maiores do que os (aparentes) benefícios imediatos.

Nas palavras de Alexandre Catarino, a pasta de dentes em queimaduras “acaba até por agravar a inflamação, tendo um efeito irritativo”. Além disso, “não sendo algo estéril, pode até promover a infeção de uma queimadura”.

Esta visão é partilhada pela Academia Americana de Dermatologia que, num artigo publicado no seu site oficial, desaconselha a aplicação de “pomadas, pasta de dentes ou manteiga em queimaduras, porque [estes produtos] podem causar uma infecção”. 

Recomendação semelhante está inscrita no site do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), onde se lê o seguinte: “Não utilize gelo, pasta de dentes, manteiga, azeite, ou outro tipo de produtos para arrefecer ou hidratar a queimadura pois os mesmos poderão agravar as lesões”.

O que fazer em caso de queimadura?

Assim que a queimadura acontece, a primeira coisa a fazer é passar o local “por água fria – quer seja água a correr ou compressas húmidas – durante alguns minutos”, aconselha Alexandre Catarino.

Este gesto, continua o dermatologista, não só permite “baixar a temperatura e impedir mais queimadura”, mas também “reduz a libertação de citocinas, de proteínas inflamatórias, e alivia a dor”.

Passada essa primeira fase, se a queimadura for superficial, pode aplicar-se “vaselina ou cremes específicos para queimaduras” no local. Se for algo mais profundo, “convém o uso de antibiótico tópico para prevenir a infeção”, sustenta. Por outro lado, “o uso de penso com gaze gorda também ajuda, pois um ambiente húmido favorece a cicatrização”.

Ainda assim, vinca, o tratamento deve ser adequado à gravidade da queimadura, que depende “não só do grau em profundidade, mas também da sua extensão”. No mesmo plano, quando há formação de bolhas ou a área afetada é muito extensa, o problema deve ser avaliado por um médico.

“Sabemos que queimaduras profundas e extensas têm um risco elevado de morte pela perda de água que há, pela reação sistémica e inflamatória que provocam. São situações muito complicadas”, sustenta o dermatologista.

Por fim, Catarino assinala a necessidade de um maior cuidado quando as queimaduras acontecem em “áreas mais sensíveis – como o rosto, as mãos ou a zona genital – em que uma má cicatrização possa ter mais impacto”.

No site do INEM encontram-se outras recomendações “como atuar” em caso de queimadura que passam, por exemplo, por cobrir “as áreas queimadas com compressas humedecidas com soro fisiológico ou água”, controlar “a temperatura corporal” – já que “a hipotermia pode acontecer depois do arrefecimento” – e não remover “as roupas se estas estiverem coladas ao corpo da vítima”.

Em suma, aplicar pasta de dentes em queimaduras é uma mezinha ineficaz e pode ter impactos negativos na saúde, à semelhança do que acontece quando se segue outros truques caseiros como a aplicação de manteiga, gelo ou azeite em partes do corpo queimadas.