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Grávidas podem tomar anti-histamínicos? 5 mitos e verdades sobre estes medicamentos
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Grávidas podem tomar anti-histamínicos? 5 mitos e verdades sobre estes medicamentos

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Os anti-histamínicos são usados para aliviar sintomas de patologias alérgicas. Além de ajudarem no combate às crises de alergia respiratória, também podem ajudar a tratar alergias na pele. O que se sabe sobre estes medicamentos? Todos provocam sono? Podem ser tomados durante a gravidez? Criam habituação?

Em entrevista ao Viral, Pedro Morais Silva, imunoalergologista, professor assistente convidado na Universidade do Algarve, e membro da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), revela cinco mitos e verdades sobre anti-histamínicos.

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Os anti-histamínicos são todos iguais?

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Não. Pedro Morais Silva começa por esclarecer que os anti-histamínicos atuam “nos recetores da histamina” e estão divididos em duas categorias: “os anti-H1 e os anti-H2”. Os primeiros são utilizados para as alergias respiratórias e para a urticária. Os anti-H2 “eram usados para tratar úlceras no estômago” e já foram retirados do mercado.

Dentro dos anti-histamínicos H1, existem ainda dois tipos: “os sedativos e os não sedativos”, sendo que ambos “servem para a mesma coisa e interagem com os mesmos recetores”.

Por isso, seja qual for o anti-histamínico que se tome, o medicamento “tem sempre o mesmo efeito a nível sistémico: diminui as secreções nasais; diminui os espirros; diminui a comichão; e seca as mucosas”.

Depois, alguns desses medicamentos (os sedativos) “também ultrapassam a barreira hematoencefálica e, nesse caso, atuam nas estruturas cerebrais“,  diminuindo a vigília e as capacidades cognitivas, provocando sono e fome.

Todos os anti-histamínicos dão sono?

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Esta afirmação também é falsa. Quando tomados, estes medicamentos “vão, através do sangue, chegar a todas as células do organismo”. Contudo, a barreira hematoencefálica faz com que uma série de medicamentos não consiga passar, para não terem efeito a nível do sistema nervoso central. Isto é um mecanismo de defesa muito bom”, assegura Pedro Morais Silva.

De facto, os anti-histamínicos foram criados com o objetivo de “não conseguirem ultrapassar a barreira hematoencefálica”, mas, segundo o membro da SPAIC, “as moléculas podem passar um bocadinho”, podendo provocar sonolência. Isto acontece mais frequentemente “de acordo com a idade e as patologias do doente“, por exemplo, “passa mais nas crianças e nos idosos”.

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“Nós fazemos os medicamentos iguais para toda a gente, mas as pessoas não são todas iguais”, admite. “Eu já tive doentes a dizerem que têm sono com todos os anti-histamínicos que existem”, revela. Mas isso “poderá ser efeito placebo, ou pode ter que ver com uma certa sensibilidade individual“.

Agora, “quando olhamos para populações em vez de pessoas”, sustenta o médico, “claramente os anti-histamínicos sedativos dão sono a todas as pessoas e os anti-histamínicos não sedativos não dão sono a quase ninguém”.

O professor da Universidade do Algarve explica ainda que “existe um esforço muito grande por parte das sociedades científicas para sensibilizar os médicos e os doentes para não utilizarem anti-histamínicos sedativos”.

A utilização em excesso destes fármacos pode ser perigosa e tóxica. Além disso, “podem limitar a capacidade de aprendizagem no geral” e afetar “a capacidade cognitiva das crianças”, conclui.

O mesmo anti-histamínico pode combater alergia respiratória e urticária?

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É verdade. “Os anti-histamínicos têm três indicações formais”, ou seja, são indicados pela EMA e pelo Infarmed para tratar três doenças específicas. São elas “a rinite alérgica, a conjuntivite alérgica e a urticária (manchas vermelhas que dão muita comichão)”, refere o especialista.

Depois, há “uma série de utilizações acessórias, que são aquelas a que nós chamamos off-label”. Por exemplo, segundo o médico, algumas pessoas “utilizam os anti-histamínicos para tratar a rinite não alérgica, para auxiliar no tratamento da anafilaxia e das reações a picadas de insetos, que não são bem indicações formais”.

Grávidas podem tomar anti-histamínicos?

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O imunoalergologista começa por explicar que os anti-histamínicos estão classificados como seguros ou menos seguros para grávidas “de acordo com o número de registos de eventos adversos”, sendo que “esse número de registos é baseado também no número de dados concretos que existem dos anti-histamínicos tomados durante a gravidez”, explica o imunoalergologista. 

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Assim, pode dizer-se que “os anti-histamínicos são, de uma forma geral, seguros durante a gravidez”, defende.

Segundo Morais Silva, “a cetirizina e a loratadina”, que são anti-histamínicos não sedativos, “são considerados os mais seguros”, porque “existem há mais tempo”.

No entanto, defende, “não há nenhuma razão para achar que os recentes são menos seguros, nem estes estão associados a nenhum efeito particular”. Contudo, “como existem menos registos de pessoas que os utilizam durante a gravidez, são considerados menos seguros”. O mesmo serve para quem está a amamentar, sublinha.

Os remédios para as reações alérgicas criam habituação?

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A resposta é não. Pedro Morais Silva garante que “as pessoas não podem ficar habituadas à toma” do anti-histamínico e assegura que o medicamento não perde eficácia com o tempo. O que pode acontecer é, devido ao agravamento da condição do doente, um determinado anti-histamínico já não ser suficiente para tratar o problema.

Na perspetiva do médico, é importante ainda ter em conta que “os anti-histamínicos também se usam em dosagens diferentes de acordo com a doença”. A título de exemplo, no tratamento da urticária, o doente “pode precisar de até quatro anti-histamínicos por dia, mas no tratamento da rinite alérgica só precisa de um”.

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Alergias

4 Dez 2022 - 12:01

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