Alguma vez sentiu algum tipo de discriminação baseado na sua idade?
“Ah, é demasiado novo para este emprego… ainda não tem experiência!” ou “Lamento, mas já não tem idade para isto… estamos à procura de alguém mais jovem!”. Estas são apenas duas afirmações, das muitas que ouvimos diariamente e que têm em comum, a forma estereotipada, preconceituosa e discriminatória com que se dirigem aos outros, tendo como único factor a idade. Isto é o Idadismo que, se calhar, já praticámos de alguma forma, contra os outros ou contra nós próprios.
Mas quando vamos deixar de ser uma sociedade que em vez de “apontar o dedo”, excluir, discriminar, passa a incluir, a respeitar, a aceitar as diferenças, sejam elas quais forem, e a admirar esta heterogeneidade que enriquece essa mesma sociedade?
Eu diria que essa mudança passa por informar acerca destas discriminações, sensibilizar, alertar para as consequências das mesmas e para o sofrimento psicológico que causam a quem delas é vítima.
Relativamente ao idadismo, fazer uma generalização de toda uma faixa etária, não só é abusivo como muito redutor e simplista, chegando mesmo a ser injusto e enganador, visto que pressupõe que um grupo heterogéneo de indivíduos possui características iguais, só porque partilha a mesma idade.
Mas quando vamos deixar de ser uma sociedade que em vez de “apontar o dedo”, excluir, discriminar, passa a incluir, a respeitar, a aceitar as diferenças, sejam elas quais forem, e a admirar esta heterogeneidade que enriquece essa mesma sociedade?
A idade é apenas um número. Todos temos certamente exemplos de gente jovem muito pouco ativa, resistente à mudança, com o que o senso comum apelida de “mentalidade de velho”. E cá está novamente o preconceito: quem disse que as pessoas mais velhas têm que ser assim? Provavelmente os estereótipos criados pela sociedade, influenciados pela cultura e os valores. E também nos surpreendemos com a vitalidade, a determinação, a proatividade e a jovialidade de muitos idosos. Mas porque é que, em vez de nos surpreendermos, não valorizamos essas pessoas, reconhecendo-as como um exemplo de que a idade é realmente apenas um número?
Cabe a cada um de nós mudar mentalidades, começando com a nossa própria forma de encarar o envelhecimento. Falo-vos de envelhecimento, mas qualquer pessoa pode ser vítima de idadismo, aliás iniciei esta reflexão precisamente por aí. Acredite que, caso ainda não se tenha sentido vítima deste tipo de discriminação, seguramente vai sê-lo em algum momento da sua vida, com mais ou menos implicações para o seu bem-estar psicológico.
A idade é apenas um número. Todos temos certamente exemplos de gente jovem muito pouco ativa, resistente à mudança, com o que o senso comum apelida de “mentalidade de velho”. E cá está novamente o preconceito: quem disse que as pessoas mais velhas têm que ser assim?
No entanto, vou-me debruçar nas questões do idadismo relativas ao envelhecimento. É que segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), esta discriminação afeta uma em cada três pessoas idosas dos países da Pesquisa Social Europeia, o que é muito.
Façamos uma breve reflexão. Será que, em algum momento, não teve atitudes idadistas relativamente a pessoas idosas? Terá este tipo de discriminação sido incutido desde a infância e reforçado ao longo da vida? Que mensagens passamos, enquanto sociedade, aos mais novos? Não poderá o “culto da eterna juventude” estar a contribuir para este idadismo e a aumentar a ansiedade, o medo face ao nosso próprio envelhecimento?
Será que nos esquecemos que todos nós envelhecemos diariamente e que isso tem que ser encarado como algo natural e que deve ser vivido de forma, o mais saudável e ativa possível?
Cabe a cada um de nós começar a quebrar estes preconceitos face à idade, em pequenos gestos do dia-a-dia. A partir de agora, pense duas vezes cada vez que achar que alguém já não tem idade para usar determinada roupa; ou que é ridículo alguém apaixonar-se e viver um novo romance, só porque já é considerado idoso; ou que não vale a pena tentar fazer novas aprendizagens, nomeadamente nas novas tecnologias, visto que já não vai ser capaz.
Sabemos que há muitos idosos que realmente estão debilitados, fragilizados, mais vulneráveis, que têm perdas cognitivas, mas também há jovens com esses problemas. O único factor em causa não é a idade, havendo muito mais aspetos a considerar.
Comecemos, então, a encontrar “encantos” em todas as idades, e não só na juventude, pois esse é o nosso percurso mais natural. Se não chegarmos a ser idosos é porque ficámos pelo caminho.
Cabe a cada um de nós começar a quebrar estes preconceitos face à idade, em pequenos gestos do dia-a-dia. A partir de agora, pense duas vezes cada vez que achar que alguém já não tem idade para usar determinada roupa; ou que é ridículo alguém apaixonar-se e viver um novo romance, só porque já é considerado idoso; ou que não vale a pena tentar fazer novas aprendizagens, nomeadamente nas novas tecnologias, visto que já não vai ser capaz.
Se, desde pequenos, promovermos esta consciência do envelhecimento como algo natural, que deve ser vivenciado de forma ativa e saudável isso irá ajudar-nos, enquanto sociedade a modificar as percepções relativamente ao envelhecimento e aos mais velhos.
A idade não pode ser o fator central. Mais velhos ou mais novos, somos todos pessoas, merecedoras de respeito, de aceitação e de inclusão. É importante alicerçar nas nossas relações intergeracionais a nossa força como sociedade, as nossas aprendizagens e as nossas vivências, para que todos, independentemente da idade, se possam sentir bem e possam sentir úteis.
A idade realmente é apenas um número, mas cada um de nós, não.
Cada pessoa conta, tem sentimentos, vivências, necessidades, valores e não, não pode ser apenas mais um número.
___________________________
Psicóloga Clínica e Diretora da ESTIMA +
estimamais@gmail.com
https://facebook.com/estimamais/
http://linkedin.com/in/sónia-gaudêncio-9099768a
Este texto é publicado no âmbito de uma parceria entre o Viral e o jornal especializado Health News.
Categorias:
Etiquetas: