Doença celíaca… e agora?

Opinião

Doença celíaca… e agora?

Por Sónia Gaudêncio

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Descobrir que se tem ou que um filho tem doença celíaca, mesmo para quem tem uma ideia do que é a doença, não é muito fácil, até porque geralmente não se tem a noção de todas as implicações, a vários níveis, que as restrições alimentares de uma dieta sem glúten, pode ter.

Além disso, qualquer que seja o diagnóstico de doença crónica que se recebe, seja ela qual for, implica adaptações, exige mudanças, e traz um turbilhão de sentimentos, medos, inseguranças acabando por ser um processo, nem sempre fácil, até se conseguir chegar à aceitação.

No caso da doença celíaca (e de muitas outras) existe, muitas vezes, um também longo processo até se conseguir chegar à confirmação do diagnóstico, o que causa imensa angústia na própria pessoa e em quem a rodeia, sendo por vezes um alívio, pelo menos saber-se dar um nome ao que se tem. E aqui começa um novo longo caminho até à aceitação da doença e ao conseguir implementar a dieta com sucesso.

A doença celíaca é uma doença autoimune do intestino causada pela permanente sensibilidade ao glúten em indivíduos geneticamente susceptíveis, cujo único tratamento até ao momento é seguir uma dieta totalmente isenta de glúten. Mas, ao início o celíaco ainda nem sabe em que alimentos está o glúten, que é uma mistura de proteínas, presente nos cereais como o trigo, o centeio e a cevada. No entanto, há também um sem número de produtos industrializados e alimentos, naturalmente isentos de glúten, que podem estar contaminados com vestígios do mesmo.

A doença celíaca é uma doença autoimune do intestino causada pela permanente sensibilidade ao glúten em indivíduos geneticamente susceptíveis, cujo único tratamento até ao momento é seguir uma dieta totalmente isenta de glúten.

Pois é, se não existisse o risco da contaminação cruzada, as restrições seriam menores e a ansiedade também diminuiria automaticamente. E é este risco que leva a que as rotinas de confeção e armazenamento dos alimentos se alterem para garantir a segurança do celíaco e o cumprimento rigoroso da dieta. Mas e fora de casa? Mas e nos eventos sociais?

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Ao início tudo parece muito complicado, por isso logo após o diagnóstico, um dos primeiros passos a dar é contactar a Associação Portuguesa de Celíacos (APC), pois aí tem acesso a muita informação atualizada e credível que ajuda a promover a literacia sobre a doença, ensina a ler rótulos e a reconhecer quais os alimentos proibidos e os permitidos. Tem também acesso a consultas de especialidade e tem a possibilidade de partilhar vivências e experiências com outras pessoas que passam pelo mesmo, o que pode ajudar a “normalizar” o facto de se ser celíaco ajudando na aceitação e compreensão dos diversos sentimentos. É que com o passar do tempo e, felizmente com as muitas alternativas que já existem, com os estabelecimentos certificados pela APC que garantem maior tranquilidade para o celíaco e família, evitando a desgastante e constante necessidade de explicar a doença, a necessidade da eliminação do glúten na alimentação, a importância do perigo da contaminação cruzada, começa a ser mais fácil a adaptação.

O importante é “abraçar a causa” e assumir que esta é uma condição para a vida, e que se o celíaco quer ser o mais saudáveis possível, tem que cumprir rigorosamente a dieta isenta de glúten e encarar os desafios que a mesma lhe vai colocando ao longo das diferentes fases de vida. A sensibilização de quem o rodeia é essencial. Falta muita literacia sobre esta e outras doenças, mas cabe a cada celíaco promover essa sensibilização, estando preparado para o facto de que nem sempre esta será bem aceite e/ou compreendida pelos outros, mas que só assim se conseguem mudanças.

O importante é “abraçar a causa” e assumir que esta é uma condição para a vida, e que se o celíaco quer ser o mais saudáveis possível, tem que cumprir rigorosamente a dieta isenta de glúten e encarar os desafios que a mesma lhe vai colocando ao longo das diferentes fases de vida.

Claro que não é fácil, ter que estar constantemente a perguntar como são confecionados os alimentos, quais os ingredientes dos pratos, se estão à parte dos outros que contém glúten. É um reviver constante das limitações, da condição da doença e uma exposição permanente perante os outros, ficando à mercê de críticas de quem, por estar menos informado, considera estas questões “exagero” ou “esquisitice”.

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“Mas de vez em quando podes comer um bocadinho, não é?”, “Que exagero…. Que mal faz se houver vestígios de glúten?!” ou “Ah, és celíaco… é aquela coisa do trigo… do glúten…. É só não comer pão e pronto!” são algumas das afirmações que se ouvem e que têm que ser contrariadas, de forma muito assertiva, contrapondo com a evidência científica acerca da doença e o que os especialistas dizem, que é quem de direito, deve opinar sobre o assunto.

E são estes aspetos psicossociais com os quais o celíaco tem que aprender a lidar.

Encarar a dieta como algo essencial para a manutenção da sua saúde; aprender a gerir as emoções desagradáveis (ex.: ansiedade, tristeza, raiva e/ou frustração) que alguns momentos podem proporcionar; não deixando de fazer as mesmas coisas que os outros (ir a restaurantes, festas de aniversário, etc.), embora com os devidos cuidados e acautelando as alternativas viáveis para si (ex.: levar a sua própria comida, falar antecipadamente com os restaurantes e informá-los sobre a sua condição e os cuidados a ter) e acima de tudo adotar uma atitude positiva e ajustada ao encarar a doença como um desafio, ao invés de um problema.

Resumindo, gerir e lidar com um diagnóstico de doença crónica não é fácil, mas tudo depende da atitude que se tem e da forma como se encara esse mesmo diagnóstico. Pois isso vai ser essencial para a aceitação da doença e das condicionantes que esta tem e do que temos que fazer para a minorar e aprender a viver com ela.

Resumindo, gerir e lidar com um diagnóstico de doença crónica não é fácil, mas tudo depende da atitude que se tem e da forma como se encara esse mesmo diagnóstico. Pois isso vai ser essencial para a aceitação da doença e das condicionantes que esta tem e do que temos que fazer para a minorar e aprender a viver com ela.

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Caso não o esteja a conseguir fazer sozinho, procure ajuda especializada que o vai compreender e ajudar neste, por vezes, duro processo de aceitação e aprendizagem da sua nova condição.

Se assim for, é mais fácil ser saudável (e feliz) mesmo sendo celíaco.

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Psicóloga Clínica e Diretora da ESTIMA +
estimamais@gmail.com
https://facebook.com/estimamais/

Este texto é publicado no âmbito de uma parceria entre o Viral e o jornal especializado Health News.

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8 Abr 2022 - 11:00

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