A ver vamos. Pandemia diferente com quinta vaga dominada por vacinação ou por variante simpática? Covid-22?

Opinião

A ver vamos. Pandemia diferente com quinta vaga dominada por vacinação ou por variante simpática? Covid-22?

Por Rui Nogueira

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Vamos na quinta vaga e na terceira dose de vacina. Continuamos a braços com a pandemia dos nossos dias, mas o cenário é diferente, muito diferente. A dose de reforço de vacinação Covid está a ser útil e a variante Ómicron parece simpática! É necessário pensar na resposta médica adequada e fazer uma nova norma da Direção-Geral da Saúde (DGS). A quarta dose da vacina Covid-19 será antes ou durante ou depois do verão 2022? Aprendemos todos os dias a dar uma volta ao problema.

A quinta vaga tem dois momentos: o antes e o depois da variante Ómicron. Podemos dizer que esta vaga começou em 11 de outubro 2021, com uma primeira fase até 21 dezembro dominada pela variante “delta”. Desde 22 de dezembro temos uma vaga muito diferente, dominada pela variante Ómicron, caracterizada pelo grande aumento diário de novos casos. Mais do que triplicamos o número de casos diários nos primeiros dez dias da fase Ómicron da quinta vaga, em relação aos últimos dez dias da fase Delta.

A vacinação de reforço teve um início confuso e indeciso, mas foi retomada a dinâmica conseguida na primeira fase deste processo complexo. No final de novembro tínhamos mais de um milhão e 200 mil pessoas com dose de reforço e destas, mais de 500 mil com 80 e mais anos. Mais de oito milhões e meio de pessoas tinham a primo vacinação completa no final de novembro.

A quinta vaga começou assim tranquilamente com a população protegida com este estado vacinal maciço em todas as faixas etárias com exceção das crianças abaixo dos 12 anos de idade.

Porém, em 26 de novembro de 2021 é anunciada a nova variante de preocupação, a variante Ómicron. Menos de quatro semanas depois de anunciada na Africa do Sul esta variante estava em plena difusão em Portugal e a infetar os doentes com um quadro clínico um pouco diferente: sintomas respiratórios ligeiros e com resolução espontânea nos primeiros dias após o contágio. No entanto, é muito mais contagiosa e o aumento de novos casos é notório a cada dia. Passámos de menos de dois mil casos de média diária em novembro para mais de oito mil por dia em dezembro, mas mais de dez mil no final do ano e mais de 20 mil casos diários nos primeiros dias de 2022.

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Apesar deste aumento de casos diários tem vindo a ocorrer uma estabilização do número de doentes internados em UCI, com média diária de cerca de 150 doentes internados em estado mais grave em três semanas de fase Ómicron da quinta vaga. Em simultâneo, tem havido média diária de 17 óbitos, quer nas últimas semanas da fase “delta”, quer no início da fase Ómicron. A taxa de mortalidade a 14 dias por milhão de habitantes está a diminuir desde meados de dezembro, depois de cinco semanas acima da linha vermelha definida na União Europeia (20 óbitos a 14 dias por milhão de habitantes).

Ou seja, temos muito mais casos ativos, mas sem mais doentes. Se apreciarmos a taxa de doentes internados em UCI em relação ao número de casos ativos então passamos, nesta quinta vaga, de dois doentes em cada mil para um doente em cada mil e nos últimos dias um doente em cada dois mil.

Podemos então ficar descansados. A ver vamos…! Já aprendemos que esta pandemia apenas permite previsões a poucos dias.
Por outro lado, a pressão sobre as unidades de saúde é enorme e os profissionais de saúde estão exaustos. Nesta quinta vaga a pressão é enorme nos centros de saúde. Desde o início da pandemia em março de 2020, mais de 95% dos casos positivos foram seguidos pelos médicos de família, mas nesta fase Ómicron da quinta vaga são mais de 99% dos casos a serem seguidos pelos respetivos médicos de família! Uma pressão enorme numa fase nova e diferente das anteriores caracterizada por casos positivos, mas sem doentes ou com doentes muito ligeiros e com quadro clínico autolimitado de infeção respiratória das vias áreas superiores. É urgente remodelar a resposta médica aos casos positivos.

A revisão da Norma 004 da DGS publicada em 5 de janeiro e a operacionalização e automatismos em prática desde 10 de janeiro poderão ser uma enorme evolução e adequação da resposta médica à pandemia. Se não houver surpresas, parece necessário construir novas orientações para responder a COVID-22 e substituir a Norma 004 editada em 23 de março de 2020 e sucessivamente atualizada.

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Rui Nogueira
Médico de Família
USF Norton de Matos, Coimbra
Ex-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar

 

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opinião

21 Jan 2022 - 12:42

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