Mitos
Dormir de cabelo molhado causa constipação?
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Dormir de cabelo molhado causa constipação?

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Não usar um casaco numa noite fria de inverno ou deixar uma janela aberta durante algumas horas é o suficiente para culpar o frio pelo surgimento de uma constipação. De acordo com a mesma lógica, acredita-se que dormir de cabelo molhado também pode potenciar uma infeção respiratória. Mas esta ideia tem fundamento científico?

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É verdade que dormir de cabelo molhado pode causar constipação?

A ideia que dormir de cabelo molhado potencia uma constipação não passa de um mito. Quem o garante, em declarações ao Viral, é a pneumologista do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e professora de Epidemiologia e Saúde Pública do ICBAS, Raquel Duarte, e a especialista em Medicina Interna e autora do projeto “Medicina sem Filtros” e do livro “Para Além do Medo”, Ana Isabel Pedroso.

Ambas as especialistas confirmam que o cabelo molhado pode provocar desconforto pela sensação de frio e de humidade. No entanto, assegura Raquel Duarte, este gesto não está associado a nenhum quadro de infeção respiratória”.

Ana Isabel Pedroso explica que a “‘constipação’ é um termo que se usa para uma infeção respiratória superior”, com um “período de incubação de 1 a 3 dias”, provocada por vários vírus. 

Assim sendo, acrescenta Raquel Duarte, “os quadros de virose respiratória surgem através de transmissão”, habitualmente, “pela via inalada”, mas em alguns casos também “pelo toque”. Isto é, quando se está em contacto com um doente com sintomas respiratórios, “essa pessoa – ao falar, tossir ou espirrar – vai libertar partículas que ficam no ar e podem ser inaladas”.

Nestes casos, “há sempre um agente vírico ou bacteriano, e esse agente entra em contacto com o nosso organismo, permitindo a evolução para doença”, aponta a médica.

De onde vem este mito?

A razão principal pela qual se pensa que dormir de cabelo molhado potencia constipações prende-se com a habitual associação feita entre o frio e as doenças respiratórias.

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“O ar frio pode secar as mucosas e alterar esta barreira natural, permitindo a infeção por vírus, tais como o rinovírus ou o adenovírus – que causam as constipações”, pondera a autora do livro “Para Além do Medo”.

Ainda assim, o frio, por si só, não causa estas doenças. Aliás, “é tudo uma questão de imunidade, porque não está comprovado que nos países mais frios, por exemplo, existam mais infeções respiratórias do que nos países mais quentes”, aponta.

No mesmo plano, a professora do ICBAS explica que uma das queixas das pessoas afetadas por vírus respiratórios “é a febre”, sendo que “os primeiros sinais de febre manifestam-se exatamente com a sensação de frio e arrepios”. 

Portanto, não é correto dizer-se que “se apanhou uma pneumonia, porque se apanhou frio”. A temperatura não causou a doença, “a exposição a um agente vírico ou bacteriano sim”. 

O mesmo acontece quando se dorme de cabelo molhado. “Se sentir frio com o cabelo molhado, esse pode ser o primeiro sinal” de que se está doente, mas não a causa da doença.

Como evitar uma constipação

Em primeiro lugar, deve-se seguir a “etiqueta respiratória”, destaca a especialista em Medicina Interna. As boas práticas passam por “lavar as mãos com frequência e não levar as mãos aos olhos e ao nariz – pois é por aí que os vírus acabam por entrar”.

Por outro lado, é prudente “evitar estar com pessoas que tenham queixas”,  tais como “nariz entupido, rinorreia, tosse, espirros, febre”, clarifica a pneumologista. 

Em caso de contacto com pessoas com sintomas, tanto o doente como a outra pessoa devem usar máscara, para evitar o contágio.

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Por fim, alerta Raquel Duarte, não frequentar “locais mal ventilados” e “com muita gente” também reduz o risco de exposição aos vírus que podem desencadear constipações.

Quando se deve ir ao médico?

Normalmente, esta doença “pode durar entre 3 a 10 dias”, refere Ana Isabel Pedroso. A médica aconselha a “lavar-se o nariz com soro e tomar paracetamol, caso se manifestem dores no corpo e/ou febre”. 

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Também é importante manter o corpo hidratado, “bebendo muitos líquidos”, acrescenta a pneumologista. 

De modo a não contagiar, “deve-se evitar estar com outras pessoas”. Se for estritamente necessário estar acompanhado, é aconselhado que o doente use máscara para proteger os outros.

A maioria das vezes não é necessário consultar um médico. No entanto, há alguns sinais de alerta que devem ser tidos em conta. 

Na visão das especialistas, os sinais de gravidade são a febre não baixar, mesmo com a toma de um antipirético, dificuldade respiratória, uma dor de cabeça intensa, alteração do estado de consciência e dor no tórax (toracalgia).

23 Dez 2022 - 07:57

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