Mitos
Disfunção erétil só afeta homens mais velhos?
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Disfunção erétil só afeta homens mais velhos?

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A sociedade está formatada para associar a incapacidade de ter e manter uma ereção peniana aos homens mais velhos, sobretudo acima dos 40 ou 50 anos, em resultado do envelhecimento e de doenças que vão aparecendo. E se esta esta ideia não está totalmente errada, já que a partir dessa idade a prevalência da disfunção erétil é maior, será que é apenas este grupo etário o afetado?

É verdade que a disfunção erétil só afeta os mais velhos?

Não. A especialista Andreia Rodrigues Silva garante que este “não é de todo o único grupo a ser afetado”. Em entrevista ao Viral, a médica de família com competência em sexologia explica que a disfunção erétil “é uma condição mais frequente em homens acima dos 40 anos”, mas sublinha que “também é a partir dessa faixa etária que estamos mais alerta para esse diagnóstico”.

Por isso, a especialista considera que possa existir um subdiagnóstico considerável desta condição em homens abaixo dessa idade. Porquê? Por um lado, pela não abordagem do assunto em consulta por parte do médico. Por outro, pelo pudor e embaraço que o tema ainda provoca a quem sofre de disfunção erétil e que pode levar os homens jovens a não procurar ajuda.

Contudo, as revisões sistemáticas realizadas já demonstraram que “a prevalência tem vindo a aumentar”, refere Andreia Rodrigues Silva, podendo mesmo chegar aos 30% em homens com menos de 40 anos. A médica, que também pertence ao Grupo de Estudos da Sexualidade dos médicos de família, também nota que em consulta tem havido uma mudança lenta, mas progressiva, de atitude nos homens mais jovens que já começam a procurar cada vez mais ajuda para solucionar a incapacidade de ter e manter uma ereção.

Afinal, o que é a disfunção erétil?

Em termos simples, a disfunção erétil pode ser descrita como “uma incapacidade permanente, ou consistente, e recorrente em ter uma ereção suficientemente rígida e com duração suficiente para ter uma relação sexual satisfatória”, explica a especialista.

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No entanto, esta condição pode ser ou não considerada uma disfunção sexual, pois só ganha essa designação “quando causa dano ao próprio, já que o homem pode ter disfunção erétil, mas para ele não ser um problema”.

Ainda assim, mesmo não sendo um problema para o homem, Andreia Rodrigues Silva acrescenta que é necessário ter em conta que a disfunção erétil pode ser um sintoma de uma doença já existente ou ser um fator preditivo para o desenvolvimento de uma patologia cardiovascular no futuro. Nessa medida, a médica aconselha sempre a procura de um profissional de saúde para investigar o que pode estar por trás dessa incapacidade.

E são conhecidas as causas?

Durante muito tempo a comunidade médica e científica considerou que “as causas psicológicas eram as mais frequentes, e talvez as únicas, a causar a disfunção erétil em homens com menos de 40 anos”, lembra a especialista. Não obstante, a prática clínica tem demonstrado que o estilo de vida pode contribuir, e muito, para o desenvolvimento desta condição.

Assim sendo, as causas da disfunção erétil podem ser divididas em dois grupos: as causas psicológicas e as causas orgânicas.

As causas orgânicas estão muito associadas ao estilo de vida e aos comportamentos – nomeadamente o sedentarismo, a alimentação rica em gorduras e açúcares, o consumo de álcool e o tabagismo – que resultam em excesso de peso e obesidade, em níveis de colesterol elevados, assim como em hipertensão e diabetes, tudo fatores potenciadores da dificuldade em ter e manter uma ereção.

A disfunção veno-oclusiva – uma disfunção no sistema venoso de drenagem sanguínea do pénis – é uma das causas orgânicas mais comuns em homens jovens que pode levar a que “este nunca tenham conseguido ter uma ereção na vida, em nenhuma situação, nem em momentos masturbatórios, nem ereções espontâneas, é aquilo a que chamamos disfunção erétil primária”, explica a Andreia Rodrigues Silva.

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Depois, existem as doenças endócrinas, como as doenças da tiroide, o hipogonadismo – um défice de produção de testosterona – e as doenças neurológicas, como a esclerose múltipla, que também podem causar dificuldades de ereção, assim como as lesões da coluna.

A asma também é um quadro clínico, que quando não controlado, pode estar muito associado à disfunção erétil em homens jovens. Isto porque, explica a especialista, “durante o ato sexual a respiração tende a ficar mais ofegante e o homem receia descompensar a asma, o que pode causar uma ansiedade tal que compromete o desempenho e pode levar a que haja disfunção erétil”. Nestes casos, a médica aconselha a ter sempre por perto o que chama de “kit de emergência, com um inalador de alívio, preservativos e lubrificante”.

No grupo das chamadas causas psicogénicas entram a perturbação depressiva, a perturbação ansiosa, os problemas na relação com o parceiro ou parceira e o stress laboral, ou seja, situações ligadas ao estado emocional e psicológico do homem.

Neste campo, Andreia Rodrigues Silva chama a atenção também para o papel que alguns dos medicamentos para tratar essas condições psicológicas – como os antidepressivos e os ansiolíticos – podem desempenhar na disfunção erétil. 

As soluções estão ao alcance de todos

Seja para homens mais jovens ou para homens com mais idade, os tratamentos indicados para a disfunção erétil dependem muito da causa que desencadeou o quadro clínico.

Tratar as doenças de base é essencial, corrigir os comportamentos também é fundamental, mas a ciência também já encontrou respostas direcionadas à disfunção erétil com o recurso tratamentos farmacológicos em comprimidos, em terapêuticas injetáveis ou em cremes colocados na uretra.

A suplementação hormonal com testosterona é a resposta para os homens com problemas hormonais e o recurso a dispositivos, como anéis penianos ou a bombas de vácuo, também é uma hipótese. Em Portugal, os implantes penianos ,”salvo algumas exceções, não são considerados terapêutica de primeira linha”, explica a especialista.

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Por fim, conclui, a psicoterapia “deve andar de mãos dadas [com os tratamentos farmacológicos ou com os dispositivos] porque se não o fizermos não estamos a maximizar resultados”.

  

Categorias:

sexualidade

7 Out 2022 - 09:32

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