Os hidratos de carbono são vistos, muitas vezes, como o “inimigo número um” do emagrecimento. Por isso, há quem os elimine totalmente da dieta e quem defenda que não se deve comer hidratos de carbono depois das seis da tarde.

Alguns utilizadores do Facebook e vários do Twitter defendem que a melhor forma de “perder peso” é “deixar de comer hidratos depois das 18h00“. Mas esta ideia tem fundamento? Deve evitar-se consumir hidratos de carbono ao final do dia? E qual a importância deste nutriente na alimentação e na saúde?

Comer hidratos de carbono depois das seis da tarde engorda

“Não há fundamentação científica para esta restrição” de hidratos de carbono depois das seis da tarde, começa por garantir ao Viral Teresa Campos, diretora clínica da Nutrémia e diretora da Licenciatura de Dietética e Nutrição do ISAVE – Instituto Superior de Saúde.

É verdade que, regra geral, no “período noturno estamos em descanso”. Ainda assim, sublinha a nutricionista, “as diferentes funções vitais mantêm-se, pelo que fazer uma restrição energética a partir das 18h00 não atenderá às necessidades do organismo”, defende. 

Aliás, “esta restrição pode inclusive afetar a regulação do apetite” e ter um efeito contrário ao pretendido. Isto porque pode promover uma “maior ingestão alimentar noutros períodos do dia que, não sendo ajustada às necessidades, pode resultar em armazenamento de energia sob a forma de gordura” e levar, inclusive, a um “aumento de peso”.

Como se deve, então, fazer a gestão do consumo de hidratos? “O valor energético a ingerir deve estar de acordo com as necessidades energéticas da pessoa“, responde Teresa Campos.

Segundo a nutricionista, para calcular estas necessidades é necessário ter em conta fatores como “a idade, o género, o peso, a altura, o metabolismo basal e os gastos energéticos associados às tarefas do dia-a-dia e à prática de atividade física”. 

Para mais, é “também considerada a avaliação ponderal”. Ou seja, a diferença “entre as calorias ingeridas e as calorias gastas” vai depender do objetivo individual. Assim, vai ser recomendada “uma ingestão inferior ou superior de calorias em comparação aos gastos energéticos”, dependendo se a pessoa pretende aumentar, diminuir ou manter o peso.

Por fim, “essa distribuição energética e nutricional” deve ser repartida “ao longo do dia, entre os diferentes episódios alimentares, de modo a que haja uma adequada utilização da energia e dos nutrientes para as diferentes funções do organismo”, conclui.

Qual a importância dos hidratos de carbono na alimentação?

Segundo um texto informativo publicado no site da Fundação Portuguesa de Cardiologia, “os hidratos de carbono são um nutriente cuja principal função é fornecer energia ao organismo”.

“A glicose é a molécula mais simples que resulta da digestão dos hidratos de carbono, e a partir da qual o organismo obtém a energia que necessita para as mais variadas atividades”, explica-se no mesmo texto.

Existem dois tipos principais de hidratos de carbono: os simples e os complexos. 

Os hidratos de carbono simples são digeridos mais rapidamente e estão presentes, por exemplo, no açúcar refinado. No entanto, podem ser encontrados também em alimentos considerados ‘nutricionalmente interessantes’ como “os produtos hortofrutícolas e os laticínios“, que permitem a “satisfação de energia para a utilização das células de forma mais imediata”, esclarece Teresa Campos.

Por outro lado, os hidratos de carbono complexos  – presentes, por exemplo, no pão integral – “são mais lentamente absorvidos do que os simples, respondendo melhor às necessidades metabólicas e [promovendo] uma melhor regulação dos níveis de glicose no sangue”, sustenta.

Importa sublinhar que os alimentos ricos em hidratos de carbono – sejam simples ou complexos – “têm também na sua composição outros nutrientes, nomeadamente fibras alimentares, vitaminas, minerais”, garante a professora do ISAVE.

Em suma, os hidratos de carbono têm um papel fundamental na alimentação. Além de não haver evidência de que comer hidratos depois das seis da tarde engorde, a restrição deste grupo de alimentos pode levar à desregulação do apetite e ter um efeito contrário do pretendido.

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