Mitos
Aplicar urina nas mãos e nos pés trata as frieiras?
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Aplicar urina nas mãos e nos pés trata as frieiras?

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O conselho pode ser apelativo para quem, ano após ano, sofre com o aparecimento de frieiras: urinar nas mãos e nos pés para curar a perniose – nome dado a esta condição – e outras doenças da pele. A alegação surge em blogs onde se garante que a ureia, uma das substâncias expelidas na urina, pode “favorecer a esfoliação dos calos e curar as bolhas”. Mas esta ideia tem fundamento científico? E é segura?

Urina é uma forma de tratamento das frieiras?

“Não há nenhuma evidência científica, nem nenhuma recomendação nesse sentido”, afirma Diana Miguel, dermatologista no Centro de Dermatologia de Lisboa e no Hospital CUF Descobertas. Também Leonor Girão, dermatologista na Clínica de Dermatologia do Areeiro e membro do Grupo Português de Dermatologia Cosmética e Estética da  Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia (SPDV), não vê de que forma a urina pode ser usada no tratamento das frieiras. “A aplicação da urina, por si só, não vai fazer nada”, garante a especialista.

Ambas as dermatologistas contactadas pelo Viral negam que a ureia atue no tratamento desta condição. “A ureia é usada para o tratamento de calosidades e não para o tratamento de frieiras, não devemos confundir as duas patologias”, afirma Diana Miguel. 

Além disso, a aplicação de urina nas mãos e nos pés não leva à absorção desta substância. Leonor Girão explica que “os cremes contêm componentes que permitem a absorção da ureia pela pele”, uma vez que “a pele tem uma base lipídica, que é impermeável à água”.

Uma revisão científica, publicada em 2021, analisou a eficácia de vários princípios ativos no tratamento das frieiras, tendo por base 11 ensaios clínicos. Em todo o artigo, não é referida a utilização de ureia para o tratamento das frieiras. 

De acordo com os investigadores, “houve evidência moderada que apoia o uso de nifedipina e pentoxifilina no tratamento de casos graves ou refratários de frieiras idiopáticas, enquanto outras terapias tiveram evidências inadequadas ou resultados não significativos em comparação ao placebo”.

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As frieiras surgem “como uma resposta anormal do sistema vascular cutâneo ao frio”, explica Diana Miguel. Numa fase inicial, ocorre o fenómeno da vasoconstrição – onde os vasos sanguíneos contraem e ficam mais estreitos – e, posteriormente, desenvolve-se uma resposta inflamatória intensa. 

São caracterizadas por “desconforto, dor, ardor e prurido em pele fria e dormente, com uma cor que pode variar entre o branco, o vermelho e o azul”, acrescenta a especialista. “Em casos mais graves há aparecimento de bolhas, de edema e de fissuras.”

De acordo com a SPDV, as frieiras afetam, sobretudo, “as mulheres, as crianças e os idosos”, sendo o curso da doença “mais grave” nesta última faixa etária. 

“As frieiras são autolimitadas, melhorando ao fim de três semanas. Contudo, nos idosos e se houver manutenção da exposição aos fatores desencadeantes, podem tornar-se crónicas”, lê-se na página dedicada às doenças da pele.

Urinar nas mãos e pés pode trazer riscos para a saúde

Além de não trazer quaisquer benefícios, a utilização de urina “pode até fazer mal”, alerta a Leonor Girão. Dependendo da idade da pessoa e da alimentação, o pH da urina pode ser ácido e infetar possíveis lesões na pele. 

Além disso, se a pessoa estiver com uma infeção urinária, esta prática “pode levar bactérias” para as lesões causadas pelas frieiras. A dermatologista lembra que “a urina é um produto biológico de excreção” que contém outros componentes além da ureia, tais como sais e cristais. 

A prevenção é uma das principais formas de reduzir o aparecimento de frieiras. Diana Miguel aconselha as pessoas a evitar “a exposição ao frio, à humidade e ao vento por longos períodos de tempo”, assim como a “manter uma boa hidratação da pele e usar roupas adequadas – tais como meias quentes e luvas –, mas não demasiado apertadas”. “Não fumar”, “evitar bebidas alcoólicas e a cafeína”, manter “uma alimentação saudável” e praticar “exercício físico” são também boas práticas. 

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“Quando estes cuidados não são suficientes no controlo das frieiras, deve-se procurar um dermatologista, não apenas para a prescrição de outros tratamentos”, acrescenta, sublinhando a importância de analisar as lesões e excluir outras patologias.

Concluindo: não existe evidência científica de que a urina tenha qualquer impacto no tratamento das frieiras. Esta prática pode até constituir um risco para a saúde, devido ao pH da urina e também à presença de bactérias (em caso de infeção urinária).

Categorias:

Dermatologia

Etiquetas:

Dermatologia | Frieiras | Urina

25 Dez 2022 - 08:00

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