Velas para remover cera dos ouvidos são eficazes e seguras?
No TikTok, multiplicam-se os vídeos de pessoas a usar velas hopi (também conhecidas como cone chinês ou cone hindu) para, supostamente, remover a cera dos ouvidos, uma técnica da medicina tradicional chinesa.
Este método consiste em inserir a vela no ouvido e acender a extremidade oposta, acreditando-se que, com esta técnica, o calor gerado durante alguns minutos amolece a cera e facilita a sua remoção.
O método, frequentemente realizado em espaços sem supervisão profissional, é apresentado nas redes sociais como eficaz e seguro. Mas será que funciona? Terá riscos?
Velas para remover cera dos ouvidos são eficazes? Têm riscos?
Em declarações ao Viral, David Dias, otorrinolaringologista do hospital Lusíadas Paços de Ferreira, esclarece que este método não é eficaz nem seguro, sobretudo quando é feito em casa por qualquer pessoa, ou por “profissionais não médicos”.
Apesar da popularidade que este método ganhou em plataformas como o TikTok, “atualmente, não existe nenhuma evidência científica de que a vela de ouvido seja eficaz. Na verdade, até pode causar mais mal do que bem“, lê-se num artigo publicado na Global Science Research Journals.
“Tanto esta prática como as ‘lavagens dos ouvidos’ implicam manipular o ouvido sem que quem o faz consiga ver o que está a fazer e, muitas vezes, sem ter os conhecimentos necessários”, salienta David Dias.
O cerúmen, ou cera, é “um material produzido naturalmente” no canal auditivo, através da “descamação da pele e por secreções produzidas por glândulas”.
A produção e saída gradual de cera, “serve para lubrificar este canal” e “protegê-lo contra o crescimento de bactérias e outros microrganismos”, sendo um “mecanismo que permite a limpeza regular e natural” do ouvido, explica, ainda, o especialista.
Quanto ao uso das velas para remoção da cera, David Dias alerta que o procedimento pode ser perigoso, uma vez que “pode produzir uma lesão térmica do canal auditivo externo, provocando otite externa, que é muito dolorosa” e, “no limite, pode provocar uma lesão da membrana timpânica”.
Apesar de a maioria das complicações poderem ser tratadas, o especialista destaca que podem causar sequelas permanentes, como a perda auditiva.
“Qualquer objeto que caiba no ouvido pode causar sérios problemas ao tímpano e ao canal auditivo, podendo criar danos temporários ou até permanentes”, lê-se nas diretrizes para o diagnóstico e tratamento da cera de ouvido, da American Academy of Otolaryngology–Head and Neck Surgery (AAO-HNS).
Um estudo realizado na Arábia Saudita durante o confinamento por causa da pandemia de Covid-19 revelou que dos 16 médicos entrevistados, 13 confirmaram que atenderam pacientes que tiveram complicações com esta prática chinesa.
A queixa mais comum foi a dor de ouvido, mas também foram registados casos de queimaduras, obstrução do ouvido, saída de secreções e até perfuração do tímpano.
Outros relatos mencionam também perda auditiva e sensação de ouvido entupido após o uso das velas.
O que fazer se tiver excesso de cera?
É importante perceber que os sintomas mais comuns de cera acumulada nos ouvidos, tais como surdez e sensação de ouvido tapado, podem surgir por causa de outros problemas, diz o otorrinolaringologista consultado pelo Viral.
Mas para descobrir a origem do problema é necessário ser observado por um médico para realizar um “exame com otoscópio”.
Geralmente, se o diagnóstico confirmar excesso de cerúmen, o tratamento pode incluir “gotas, que são seguras e frequentemente eficazes”, acrescenta David Dias.
Caso esse tratamento não resulte, a remoção de cera vai implicar a “visualização do ouvido enquanto se remove a cerúmen e, após isto, fazer um exame completo do ouvido, ato para o qual apenas um médico de otorrinolaringologia está habilitado”, esclarece.