Vacinas com formaldeído causam leucemia?
Nas redes sociais, alega-se que algumas vacinas causam leucemia, porque contêm formaldeído, um composto cancerígeno. A autora de um vídeo partilhado no TikTok conta que se recusou a tomar uma vacina, porque a injeção continha formaldeído que, sugere, é “uma toxina conhecida”, utilizada “para conservar cadáveres”. Será mesmo assim? As vacinas com formaldeído causam leucemia?
É verdade que as vacinas com formaldeído causam leucemia?
Não há evidência que comprove que as vacinas com formaldeído causam leucemia. Essa ideia é salientada num texto da agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla inglesa) em que se informa que “não existem provas que associem o cancro à exposição pouco frequente a pequenas quantidades de formaldeído por injeção, como acontece com as vacinas”.
Aliás, refere-se, o formaldeído já é utilizado (de forma segura) “no fabrico de determinadas vacinas virais e bacterianas” há muito tempo.
O composto que levanta preocupações nos posts, o formaldeído, “é um produto químico incolor, inflamável e de cheiro forte, utilizado em materiais de construção”, “na produção de muitos produtos domésticos” e “como conservante em necrotérios e laboratórios médicos”, explica-se num texto do Instituto Nacional do Cancro (NCI, na sigla inglesa) dos Estados Unidos.
Além disso, o formaldeído também está presente no ambiente, de forma natural, e “é produzido em pequenas quantidades pela maioria dos organismos vivos, como parte dos processos metabólicos normais”, lê-se no mesmo texto (ver também aqui).
De facto, segundo a Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC), que faz parte da Organização Mundial de Saúde (OMS), o formaldeído, em determinadas quantidades, é “carcinogénico para os seres humanos”, tendo o potencial de causar cancro nasofaríngeo e leucemia (ver aqui, aqui e aqui).
Contudo, as quantidades de formaldeído presentes nas vacinas são seguras e, inclusive, inferiores às quantidades encontradas de forma natural no corpo humano.
Quando este composto é utilizado no fabrico de vacinas, serve como ingrediente inativador residual, ou seja, tem como objetivo “eliminar vírus ou inativar toxinas durante o processo de fabrico”, esclarece-se num texto dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.
“O formaldeído é diluído durante o processo de fabrico das vacinas, mas pode encontrar-se quantidades residuais” em “algumas vacinas atuais”, acrescenta-se.
No entanto, essa quantidade “é tão pequena em comparação com a concentração que ocorre naturalmente no organismo que não constitui um problema de segurança”.
Segundo o texto da FDA, “a quantidade de formaldeído no corpo de uma pessoa depende do peso”, sendo que “os bebés têm quantidades inferiores às dos adultos”.
Os estudos disponíveis sugerem que “para um recém-nascido com peso médio de 1,5 a 2,5 kg, a quantidade de formaldeído no seu organismo é 50 a 70 vezes superior à quantidade máxima que poderia receber de uma dose única de vacina ou de vacinas administradas ao longo do tempo”.
Aliás, sublinha-se num texto da Universidade de Oxford, “todos os ingredientes das vacinas estão presentes em quantidades muito pequenas e não há provas de que causem danos nessas quantidades”.
As exceções são as pessoas que “podem ser gravemente alérgicas a um componente da vacina, mesmo que este esteja presente apenas em quantidades residuais (por exemplo, proteínas do ovo ou antibióticos utilizados no fabrico da vacina)”, acrescenta-se.
Quando é que a exposição a formaldeído pode ser perigosa? Quem corre um maior risco?
Tal como se explica num texto da Sociedade Americana do Cancro, a exposição ao formaldeído pode ocorrer por inalação (a principal fonte de exposição), absorção através da pele e por ingestão de alimentos ou bebidas com este composto.
No decorrer da exposição, “as enzimas do organismo decompõem o formaldeído em formiato (ácido fórmico), que pode ser posteriormente decomposto em dióxido de carbono”.
Por norma, o formaldeído está presente “em níveis baixos, no ar interno e externo, embora os níveis sejam geralmente mais altos em ambientes fechados”, avança-se no mesmo texto.
Algumas possíveis fontes de exposição são “os gases de escape dos automóveis”, “produtos de madeira prensada” e “o fumo do tabaco”.
Além disso, “a utilização de aparelhos de queima de combustível sem ventilação, como fogões a gás, fogões a lenha e aquecedores a querosene, pode aumentar os níveis de formaldeído dentro de casa”.
O formaldeído e outros produtos químicos que libertam formaldeído são, por vezes, utilizados em “tratamentos de alisamento do cabelo” e “em baixas concentrações em cosméticos e outros produtos de cuidados pessoais, como loções, champôs, amaciadores, gel de banho e alguns vernizes para unhas”, refere-se.
Por esses motivos, “os trabalhadores das indústrias que fabricam formaldeído ou produtos que contêm formaldeído, técnicos de laboratório, alguns profissionais de saúde, funcionários de funerárias e trabalhadores de salões de cabeleireiro podem estar expostos a níveis mais elevados de formaldeído do que o público em geral”.
Segundo o texto do NCI, “quando o formaldeído está presente no ar em níveis que excedem 0,1 ppm (partes por milhão)”, algumas pessoas podem ficar com: “olhos lacrimejantes”, “sensações de queimação nos olhos, nariz e garganta”, “tosse”, “chiado”, “náusea” e “irritação na pele”.
A exposição excessiva e prolongada ao formaldeído “pode causar cancro, mas a investigação mais recente demonstrou que o risco mais elevado provém do ar, quando o formaldeído é inalado, e ocorre com mais frequência em pessoas que utilizam habitualmente formaldeído no seu trabalho”, salienta-se no texto da FDA.
Segundo a informação disponível no site da Sociedade Americana do Cancro, alguns estudos em humanos indicam “uma ligação entre a exposição ao formaldeído e o cancro da nasofaringe” e outros revelam “um risco acrescido de leucemia, em especial de leucemia mieloide”.