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Não, usar desodorizante ou antitranspirante não aumenta o risco de desenvolver cancro da mama

12 Dez 2021 - 06:43

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Não, usar desodorizante ou antitranspirante não aumenta o risco de desenvolver cancro da mama

Aplicar desodorizante ou antitranspirante na zona das axilas faz parte das rotinas de higiene. No entanto, há vários anos que correm alertas na internet sobre a relação entre o uso destes produtos e o aparecimento de cancro da mama. Esta afirmação é acompanhada por vários argumentos:

  • Que os antitranspirantes contêm substâncias cancerígenas que são absorvidas pela pele – principalmente através de cortes que possam ter sido feitos durante a depilação com lâminas – e que ficam depositadas nos glânglios linfáticos, por baixo da axila;
  • Que os antitranspirantes não permitem a expulsão das toxinas através do suor, o que faz aumentar a concentração destas substâncias nos glânglios linfáticos, provocando a mutação de células e o desenvolvimento de cancro;
  • Que existe uma associação entre o local onde se aplica o produto e a zona onde se desenvolve a maior parte dos tumores mamários.

Comprova-se?

A dúvida surgiu também entre os investigadores, que realizaram vários estudos para perceber se existia uma ligação entre o uso de desodorizantes/antitranspirantes e o aparecimento de cancro da mama. Um artigo de revisão literária, publicado em 2016, identificou apenas dois estudos com qualidade – um publicado em 2002 e outro em 2006.

No primeiro estudo, que envolveu 1606 mulheres – 813 com cancro e 793 sem historial de tumores –, os investigadores pretendiam saber se a utilização dos desodorizantes ou antitranspirantes depois de fazer a depilação com lâminas influenciava o risco de desenvolver cancro. Os resultados mostraram que não existe evidência científica que comprove essa afirmação. Já no segundo estudo, os investigadores concluíram que 82% das mulheres do grupo de controlo (que não tinham desenvolvido cancro) usavam antitranspirantes, contra 52% do grupo em análise (que tinham cancro), sugerindo uma relação inversa à hipótese colocada.

O Instituto Norte-Americano do Cancro avança que, até à data, “não existe evidência científica que ligue o uso destes produtos ao desenvolvimento de cancro da mama”. No entanto, devido aos “resultados conflituosos” de alguns dos estudos que se dedicam a esta temática, a organização norte-americana alerta que “será necessária pesquisa adicional para determinar se existe uma relação”.

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A Sociedade Americana do Cancro avança ainda que o nível de alumínio absorvido pela pele é, ainda, pouco claro, mas acrescenta que “um estudo que analisou a absorção do alumínio em antitranspirantes com continham cloridrato de alumínio aplicado na axila concluiu que apenas uma mínima fração (0,012%) era absorvido”.

Sobre o argumento da localização dos cancros da mama, a Sociedade Americana do Cancro sublinha que a razão para que os tumores se desenvolvam na região superior do peito – perto da zona da axila – não tem que ver com a utilização de desodorizante/antitranspirante, mas sim com a quantidade de tecido mamário que existe nessa zona. “O número de cancros da mama na parte superior externa é em proporção à quantidade de tecido mamário nessa zona. Não existe evidência que sugere que a localização do cancro no seio esteja relacionada com o uso de antitranspirantes ou a depilação da axila”, pode ler-se. É também por isso que os cancros da mama são mais comuns nas mulheres, uma vez que os homens têm 100 vezes menos tecido mamário.

Há, no entanto, algumas preocupações associadas a duas substâncias utilizadas na produção de antitranspirantes e desodorizantes: os componentes à base de sais de alumínio e os parabenos. No caso dos antitranspirantes, os sais de alumínio atuam sobre a glândulas sudoríparas de forma a impedir que o suor saia. Apesar de alguns estudos sugerirem que o alumínio poderá atuar diretamente nos tecidos celulares da mama, “nenhum estudo até agora confirmou um efeito adverso substancial do alumínio que possa contribuir para o aumento do risco de cancro”, avança ainda o Instituto Norte-americano do Cancro.

A Sociedade Americana do Cancro avança ainda que o nível de alumínio absorvido pela pele é, ainda, pouco claro, mas acrescenta que “um estudo que analisou a absorção do alumínio em antitranspirantes com continham cloridrato de alumínio aplicado na axila concluiu que apenas uma mínima fração (0,012%) era absorvido”. Este valor “seria muito inferior ao que seria esperado ser absorvido pela comida que uma pessoa come durante o mesmo período” acrescentam.

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O Instituto Norte-Americano do Cancro avança que, até à data, “não existe evidência científica que ligue o uso destes produtos ao desenvolvimento de cancro da mama”. No entanto, devido aos “resultados conflituosos” de alguns dos estudos que se dedicam a esta temática, a organização norte-americana alerta que “será necessária pesquisa adicional para determinar se existe uma relação”.

Em 2014, uma revisão literária conclui que não existia evidência clara de que os antitranspirantes ou cosméticos que continham alumínio na sua composição aumentasse o risco de cancro. Além disso, as análises feitas aos tecidos celulares cancerígenos também não identificaram um aumento de alumínio, quando comparado com tecidos celulares saudáveis.

No que toca aos parabenos, a questão é diferente: esta substância, que é usada para preservar diferentes tipos de produtos de higiene e beleza, tem propriedades semelhantes às da hormona feminina estrogénio. O estrogénio é responsável pelo crescimento e multiplicação das células mamárias, tanto as saudáveis ou cancerígenas, sendo centenas – ou até milhares – de vezes mais forte do que os parabenos.

Uma equipa de investigadores identificou a presença de parabenos em amostras de cancro da mama, mas, segundo alerta a Sociedade Americana do Cancro “o estudo não mostrou que os parabenos causam ou contribuem para o desenvolvimento de cancro da mama nestes casos – apenas mostrou que estava lá”. Esta substância está presente em vários cosméticos – desde champôs, loções, produtos de after shaving, etc – e é também utilizada para preservar alimentos, o que torna difícil comprovar que os parabenos tenham vindo da aplicação de antitranspirantes/desodorizantes.

“Estudos mostraram que existe alguma forma de parabenos na urina de mais de 99% das pessoas nos Estados Unidos. Mas até agora, os estudos não mostraram existir um link direto entre parabenos e qualquer problema de saúde, incluindo cancro da mama. Existem muitos outros componentes no ambiente que imitam naturalmente o estrogénio produzido”, sublinha a Sociedade Americana do Cancro.

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Concluindo: não existe qualquer evidência de que o uso de desodorizantes ou antitranspirantes esteja relacionado com o aparecimento de cancro da mama nas mulheres. Existem poucos estudos validados sobe o assunto, pelo que se deve continuar a investigar. As substâncias identificadas como possivelmente prejudiciais à saúde – o alumínio e os parabenos – não demonstraram qualquer relação com o aparecimento de tumores. Além disso, o facto de a maioria dos cancros da mama serem localizados perto da axila está relacionado com a quantidade de células mamárias existentes nessa região e não com a aplicação de cosméticos ou produtos de higiene.

 

 

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12 Dez 2021 - 06:43

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