

Urinar com frequência é sinal de níveis elevados de cortisol?
Diz-se no TikTok que a “urinação frequente pode ser um sinal de que os níveis de cortisol estão demasiado altos”.
Nesta publicação, afirma-se que o cortisol – também conhecido como “hormona do stress” – produz “um ciclo de feedback negativo” na hormona antidiurética (ADH, na sigla inglesa), que regula a quantidade de urina produzida pelos rins.
No mesmo vídeo defende-se que isto significa que, “se os nossos níveis de cortisol estão mais elevados, não vamos produzir tanta ADH”. Por isso, alega-se, podemos “notar urinação mais frequente durante o dia e também à noite”.
“Se estiver a notar isto, verifique quais são os seus níveis de stress e se o cortisol pode ser a razão pela qual tem de acordar várias vezes para ir à casa de banho”, recomenda a autora do vídeo.
Será verdade que o cortisol afeta a produção de urina? Confirma-se que ter vontade frequente de urinar – principalmente durante a noite – é causado por elevados níveis da “hormona do stress”?
Urinar frequentemente durante a noite é sinal de níveis elevados de cortisol?
Em declarações ao Viral, Francisco Sousa Santos, endocrinologista e autor da página Hormonas em Bom Português, explica que, “em termos conceptuais, é verdade que a hormona cortisol inibe a produção de ADH”. Contudo, sublinha, é exagerado afirmar que uma pessoa com “excesso de cortisol” irá ter, por ação desta hormona, “um aumento da produção de urina”.
“Existem dois exageros nesta publicação: o primeiro é considerarmos que, por sentirmos stress, teremos as manifestações associadas ao excesso de cortisol; o segundo é afirmarmos que o excesso desta hormona leva a um aumento da produção de urina por inibição da ADH”, explica.
Um indivíduo que tenha níveis elevados de cortisol, durante um longo período, sofre de uma patologia conhecida como síndrome de Cushing ou hipercortisolismo.
A principal causa da síndrome de Cushing é a produção excessiva de cortisol pela hipófise, podendo esta condição estar também associada à toma prolongada de medicamentos esteroides.
Esta doença pode surgir na sequência de alguns cancros pulmonares, de tumores (benignos ou cancerígenos) na hipófise e glândulas adrenais ou estar relacionada com problemas endócrinos hereditários.
A síndrome de Cushing “afeta mais frequentemente adultos, normalmente entre os 30 e os 50 anos, mas pode também ocorrer em crianças”, esclarece o Instituto norte-americano da Diabetes e das Doenças Digestivas e Renais. A prevalência nas mulheres é três vezes superior à que se regista nos homens.
Os principais sintomas da síndrome de Cushing são o aumento de peso na zona do peito e da barriga, a acumulação de gordura na parte de trás do pescoço e ombros (conhecida como corcunda de búfalo) e a ocorrência de alterações faciais (fica mais redonda).
O indivíduo pode ficar com pele ruborizada, frágil e fina, enquanto os ossos e músculos podem também ficar fracos. Poderá sofrer de hipertensão, glicose elevada e sentir-se mais irritável, ansioso ou até deprimido. O hipercortisolismo pode ainda afetar os ciclos menstruais nas mulheres e reduzir a libido e a fertilidade nos homens.
Quanto ao aumento da produção de urina, Francisco Sousa Santos adianta que esta “não é uma manifestação típica” do excesso de cortisol.
O aumento de produção de urina durante a noite pode ter várias origens. Pode estar relacionado, por exemplo, com a ingestão de líquidos (água, chás ou leite) perto da hora de dormir ou com a toma de medicamentos diuréticos.
Francisco Sousa Santos lembra que a urinação frequente e em grande quantidade pode ser um sintoma de diabetes tipo 2, principalmente em casos de descompensação. Em situações muito raras, essa descompensação pode ser provocada pela síndrome de Cushing.
O endocrinologista acredita que este mito poderá ter tido origem em estudos realizados em animais, nomeadamente cães.
Num artigo publicado em 1980, refere-se que a “administração excessiva de cortisol em cães normais causou uma acentuada descida no peso corporal e um aumento acentuado da produção de urina sem glucosúria [açúcar excretado pela urina]”. Mais ainda, identifica-se uma relação entre o cortisol e a função renal.
Francisco Sousa Santos reforça que as manifestações hormonais em animais são diferentes das que ocorrem nos humanos e, por isso, as conclusões deste estudo não podem ser transpostas entre espécies.
Em suma, é exagerado dizer que urinar frequentemente é sinal de excesso de cortisol no organismo. De facto, o cortisol pode interferir com a produção de hormona ADH, mas o aumento da quantidade de urina não é um sintoma comum da síndrome de Cushing.
- Estatinas. Medicamentos para baixar o colesterol causam demência?
- China declara estado de emergência devido a “novo vírus contagioso”?
- Chá de casca de romã cura feridas no útero?
- Sumo de pepino, maçã e limão reduz a gordura do corpo?
- Anemia é sempre causada por défice de ferro?

Categorias: